A Argentina elege este domingo o sucessor da presidente Cristina Kirchner. É a segunda volta de umas eleições presidenciais que estão a ser muito disputadas e que têm a perspetiva de mudar o cenário político do país sul-americano.

A campanha eleitoral da segunda volta, que terminou na noite de quinta-feira, ficou assinalada pelo primeiro debate presidencial televisivo entre o candidato de direita Mauricio Macri, 56 anos, e Daniel Scioli, 58 anos, apoiado pela chefe de Estado cessante. O debate ficou marcado pela troca de acusações, por vezes, muito agressivas.

Scioli, governador da província de Buenos Aires, que se candidata pela coligação Frente para la Vitoria (FpV, onde se inclui o Partido Justicialista, peronismo “oficial”) e vencedor da primeira volta em 25 de outubro com 37,08% dos votos, acusou o seu rival de ser o “homem dos mercados e do FMI” e “um perigo” para o país.

Mauricio Macri (34,15% na primeira volta), presidente da câmara de Buenos Aires, e que concorre pela coligação Cambiemos (que aglutina forças do centro-esquerda à direita), chamou “mentiroso” ao seu rival, num duelo transmitido por dezenas de cadeias televisivas argentinas.

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Um estudo previamente divulgado pela empresa “Management & Fit” — a lei argentina proíbe a divulgação de sondagens nos últimos oito dias de um escrutínio — fornecia a Macri 52% das intenções de voto, contra 43,7% para o seu adversário.

Com cerca de 11% de indecisos, e num esforço para contrariar as anunciadas tendências do eleitorado, Scioli voltou a associar o seu opositor às políticas neoliberais aplicadas na década de 1990 e que conduziram o país à crise económica de 2001.

Em resposta, o chefe camarário da capital argentina assumiu-se como o homem da renovação e da mudança “desejada pelos argentinos”, após cerca de 12 anos de “kirchenerismo”, primeiro protagonizado pelo Presidente Néstor Kirchner entre 2003 e 2007 (morreu em 2010), e de seguida por sua mulher Cristina, que em 10 de dezembro termina o seu segundo mandato de quatro anos na Casa Rosada.

Pela primeira vez, desde a reforma eleitoral do início da década de 1970, vai ser necessária uma segunda volta para eleger o chefe de Estado argentino, num país com um regime político marcadamente presidencialista, à semelhança da maioria dos países das Américas.

Na terça-feira, em plena reta final da campanha, Cristina Fernández Kirchner, que mantém uma taxa de aprovação de 50% entre os 41 milhões de argentinos, exortou através das redes sociais ao voto em Daniel Scioli.

A chefe de Estado fez a sua última aparição pública em 06 de novembro, e aproveitou esta data simbólica do dia do Militante — que recorda o regresso de Juan Domingo Perón ao país após um longo exílio de 17 anos –, para mobilizar os apoiantes e garantir a prevalência após 10 de dezembro de uma corrente política também muito personalizada, agora ameaçada pela direita “peronista”.