Ganhou o epíteto de “Imperador”. E fez por merecê-lo. Haile Gebrselassie (chama-se assim, Haile, em memória do imperador etíope Haile Selassie) imperou no atletismo. É talvez o melhor fundista da história do desporto. Foi duas vezes campeão olímpico dos 10.000 metros, quatro vezes campeão mundial na mesma distância, mas como se tudo isto não bastasse já para ser “Imperador”, Gebrselassie estabeleceu ainda 27 recordes do mundo em várias distâncias, dos 3.000 metros à maratona.
Nasceu a 18 de abril de 1973. Não nasceu na capital da Etiópia, Addis Abeba, mas numa pequena aldeia da província de Arsi, Asella, onde a altitude é de 300 metros. Haile Gebrselassie começou a correr ainda criança, não a disputar provas, mas para se deslocar até à escola mais próxima, a mais de 10 quilómetros de distância, por entre planaltos a perder de vista. Ia e regressava, todos os dias, segurando os livros debaixo do braço. Tantas vezes o fez que ganhou uma característica só sua de correr, com um dos braços, o direito, ligeiramente curvado, como se ainda segurasse os livros. Não segurava mais livros. Segurava medalhas. De ouro.
Gebrselassie começou a dar nas vistas em 1992, quando venceu os 5.000 e os 10.000 metros do Campeonato do Mundo de Atletismo em juniores, na cidade sul-coreana de Seul. O que se seguiu, é história. Dele e a do atletismo. No ano seguinte, entre os graúdos mas ainda na meninice, venceu aquele que seria o primeiro de uma série de quatro títulos consecutivos nos 10.000 do Campeonato Mundial de Atletismo. Em 1994, e pela primeira vez, estabeleceu um recorde: o recorde mundial dos 5.000 metros, marcando o cronómetro escassos 12 minutos e 56 segundos.
Em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sidney, venceu a sua última prova de 10.000 metros. Foi a segunda vez que o conseguiu, depois Atlanta, em 1996. Ainda venceria uma medalha de ouro nos Campeonatos do Mundo de Atletismo, mas em indoor. Fê-lo numa distância mais curta: os 3.000 metros. É que as lesões e a idade começavam a pesar nas finas pernas.
A 10 de maio deste ano, aos 42 anos, e 25 anos depois da primeira prova, Haile Gebrselassie anunciou a sua retirada definitiva do atletismo (em novembro de 2010 já o tinha anunciado, mas reconsiderou e voltou à competição) durante uma prova de 10 quilómetros, em Manchester. Disse, na altura: “Retiro-me do atletismo de competição, não da corrida. Não posso parar de correr, é a minha vida.”
Este domingo voltou a competir. Uma última vez. E na sua Etiópia natal, em Addis Ababa, durante a chamada “Great Run”, que se realiza todos os anos. A afluência é sempre mais que muita. Mas sendo a derradeira corrida de Gebrselassie, encheram as ruas da capital etíope mais de 40 mil pessoas, entre profissionais e corredores de ocasião.