Matthew. Só assim, sem apelido. É um homem de sorte este norte-americano de 36 anos. Duplamente. Na noite dos atentados de Paris estava no Bataclan a assistir ao concerto dos Eagles of Death Metal. Quando os jihadistas invadiram a sala, disparando sobre tudo e todos, Matthew foi atingido na perna e tombou. Como muitos dos sobreviventes daquela sexta-feira sangrenta, fingiu-se de morto, completamente imóvel, até que a chacina terminasse. 

Ao jornal Le Monde conta que foi “rastejando para fora dali, centímetro por centímetro.” Fê-lo até sair do Bataclan. Continuou, já na rua, a fingir-se de morto, até que sentiu “alguém puxar-me pelos braços.” Confessa que não olhou sequer para cima. “Disse-lhe apenas, mas só na minha cabeça: obrigado, meu anjo.”

O “anjo” de Matthew era Daniel Psenny, jornalista do Le Monde, que mora nas imediações do Batlaclan e conseguiu recolher para o seu apartamento muitos dos sobreviventes (é dele o vídeo em que filma da sua janela muitos a fugirem pela porta e janelas nas traseiras da sala de espetáculos parisiense). O jornalista acabou por ser atingido por um disparo dos atiradores nessa recolha. Psenny recorda o momento em que salvou Matthew: “Tive só o reflexo humano de não deixar ninguém morrer à minha frente. Mas foram as circunstâncias que me permitiram salvá-lo.”

A curiosidade na história de Matthew, a melhor das curiosidades, é que ele também sobreviveu aos ataques da Al-Qaeda às torres World Trade Centre, a 11 de setembro de 2001. Estava em Manhattan, a poucos metros das torres gémeas, quando se deu o primeiro atentado. Dirigia-se para uma reunião. “Eu corri meia Manhattan para não morrer naquele dia, mas o que vivi no Bataclan foi mil vezes pior.” 89 dos 130 mortos dos atentados de Paris encontravam-se no Bataclan.

Matthew não voltou a estar com Psenny desde a sexta-feira fatídica. O norte-americano esteve recolhido em casa do jornalista do Le Monde até que os dois foram transportados para o hospital George Pompidou.

Mas a dupla sorte de Matthew foi, afinal, tripla. É que a sua mulher tinha bilhete para ir com ele ao concerto dos Eagles of Death Metal, mas como não tinham com quem deixar os filhos, acabou por ir ele, mas ela não. Há dias de sorte. Vários dias. 

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