Faltava um ano para a passagem do século quando dois colegas de escola resolveram criar uma empresa. Paulo Rego dedicava-se à investigação ambiental e Pedro Coutinho aos programas de software. “Foi uma carolice, mas partiu de uma constatação: os laboratórios onde trabalhava não tinham ferramentas úteis. Com os conhecimentos do Pedro e o que eu já sabia, resolvemos avançar”, recorda Paulo, CEO da Ambidata.

Nos primeiros anos, entre 1999 e 2001, não tiveram qualquer atividade. Os contactos de Paulo foram importantes para avaliar as necessidades de um mercado emergente: as tecnologias aplicadas à investigação. No início, nenhum deles se dedicava à empresa a 100%, mas, a partir de 2002, as perspetivas eram outras e muito mais ambiciosas.

Portugal: cada pedido de um cliente é validado por outros

“Raramente desenvolvemos algo só das nossas mentes ou que tenha sido proposto diretamente por um cliente. Ou seja, nunca fazemos nada só porque o cliente quer”, diz Paulo Rego. Cada proposta de um cliente é validada junto de outros clientes, de forma a confirmar a viabilidade dos processos e garantir um maior alcance do trabalho desenvolvido.

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Cada produto da empresa permite integrar toda a informação necessária ou decorrente da investigação em laboratório. “A ideia sempre foi termos um meio-serviço, meio-software. Foi assim que criámos e continuamos a desenvolver o conceito do laboratório digital”, explica Paulo.

O desenvolvimento tecnológico veio validar a aposta e a globalização ajudou. Segundo Paulo Rego, “cada solução é igual para todos os mercados, sem necessidade de adaptação. As normas internacionais de certificação são as mesmas e o que é validado em Portugal também o é noutros países.”

O portefólio de clientes no mercado nacional tem “forte peso do setor público”, mas há muitas empresas a procurar estas soluções. “Trabalhamos com a Agência Portuguesa do Ambiente, a ASAE, o [Instituto] Ricardo Jorge e muitos laboratórios da área hospitalar. Também temos clientes do setor industrial, como a Repsol ou a Petrogal. Só nunca tivemos muito interesse ou atividade com os laboratórios de análises clínicas”, confessa Paulo.

Para trabalhar com um lote tão diversificado, a empresa conta com 21 pessoas. Entre informáticos e cientistas (engenheiros químicos, biólogos, etc), está uma divisão “metade-metade”. A ideia é que metade da equipa “fale a mesma linguagem do cliente”.

Espanha e Brasil: sucesso e obstáculos

Em 15 anos de atividade, a empresa já passou por várias fases. “Em 2009 enfrentámos um novo desafio. O mercado nacional era muito pequeno e tínhamos duas opções: diversificar cá dentro ou procurar novas geografias”, lembra Paulo.

A primeira etapa: Espanha. Segundo o CEO da empresa, tiveram uma “excelente aceitação”. “Começámos logo a ter grandes clientes, na área da energia nuclear, das águas, da criopreservação… Os espanhóis reconheceram a mais-valia do produto”.

Mas o suporte técnico era uma dificuldade. Com dez clientes em todo o território espanhol (Galiza, Burgos, Andaluzia, entre outras regiões), era complicado fazer o acompanhamento necessário. Assim, em 2012, criaram a Ambidata Espanha. A partir daqui, a empresa ganhava estatuto de grupo, com sedes em Vila Nova de Gaia e em Madrid.

Na mesma altura, viraram-se para o lado de lá do Atlântico. Segundo Paulo, “a aposta no Brasil foi forte, com 4, 5 e 6 deslocações anuais. Mas não correu bem.” Compromissos falhados, pouco planeamento e a enorme desvalorização cambial levaram a que, já este ano, a empresa tenha desinvestido nos negócios com os laboratórios brasileiros.

África: reflexões para os próximos três anos

“De três em três anos, fazemos uma reflexão do que ficou para trás e preparamos os próximos tempos. Em 2016-2018 vamos entrar num novo ciclo e já definimos prioridades”, antecipa Paulo. O reforço na internacionalização vai ser uma delas, com expectativas de um impulso até aos 40% nos negócios fora de Portugal.

Espanha continua a ser um mercado importante, mas pretendem “diversificar canais, especialmente com o foco em Angola e Moçambique”. Entre 2010 e 2013, a empresa já trabalhou com alguns dos países africanos de língua oficial portuguesa, incluindo Cabo Verde. “Em Angola, desenvolvemos alguns projetos pontuais. Mas nunca tivemos uma verdadeira estratégia de expansão para África. Participámos em eventos e fizemos algumas formações”, explica Paulo. Neste momento, os objetivos são outros: há apoio das Nações Unidas para projetos em território africano e, desde o último trimestre de 2014, a dimensão internacional ainda ganha maior relevância.