António Costa já tem a chave de São Bento no bolso, mas agora terá de assegurar no Parlamento a estabilidade da aliança de esquerda. PS, Bloco, PCP (e PEV) vão encontrar-se semanalmente para acertarem agulhas e assegurarem que nada falha na aprovação de diplomas essenciais. Além disso, os quatro partidos e o Governo vão avançar para reuniões de especialidade, onde juntam os membros do Executivo e os responsáveis dos grupos parlamentares para as respetivas áreas.

No xadrez político que se estende pelos corredores de São Bento, quem são os ases de cada partido? E quem, mesmo não estando no primeiro grau da hierarquia, vai desempenhar funções fundamentais para o equilíbrio da aliança de esquerda?

Partido Socialista

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Carlos César, líder da bancada parlamentar do PS e presidente do partido

A chave para a estabilidade em São Bento vai estar nas mãos deles. Semanalmente, Carlos César e Pedro Nuno Santos, líder parlamentar do PS e secretário dos Assuntos Parlamentares, vão reunir-se com os líderes parlamentares do Bloco e do PCP e ainda com Heloísa Apolónia, d’ Os Verdes. O objetivo destas reuniões de coordenação é acertar agulhas e evitar que existam desacertos entre os quatro partidos na hora de votar diplomas sensíveis. Estes encontros, logo, Carlos César e Pedro Nuno Santos, vão ser “a” ponte entre o Governo de António Costa e São Bento.

Mas existe outra figura importante. Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta do PS, vai ser a sombra de António Costa no partido. Com o líder socialista no lugar de primeiro-ministro, será ela a coordenar os trabalhos do Largo do Rato. A mesma Ana Catarina Mendes que dirigiu a campanha de António Costa nas primárias contra Seguro vai desempenhar um papel crucial na estratégia de Costa também no Parlamento. Além de ter feito parte da equipa socialista que negociou com bloquistas e comunistas, a presidente da distrital de Setúbal assumiu também o cargo de vice-presidente da bancada do PS.

Os Valetes

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Se Pedro Nuno Santos é o pivot das negociações à esquerda no Governo de Costa, João Galamba vai ocupar o lugar de distribuidor de jogo da equipa socialista no Parlamento – na prática, o economista será o responsável por manter a aliança parlamentar bem oleada. Além disso, o deputado socialista vai ser também o responsável pela comunicação do PS e um dos primeiros a estar na linha da frente quando for chamado a serviço.

A fechar este quinteto socialista, Pedro Delgado Alves, outro dos jovens turcos do PS. O constitucionalista pode vir a desempenhar um papel importante no apoio jurídico ao Governo socialista.

Bloco de Esquerda

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Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE

Para além do principal rosto do BE, Catarina Martins, que já toda a gente conhece das campanhas, aparece Pedro Filipe Soares que chegou a desafiar essa liderança antes das legislativas, numa luta que prometia estilhaçar o Bloco de Esquerda. Enterrados os machados de guerra, o matemático manteve-se como líder da bancada parlamentar bloquista e reforçou a posição no interior do partido.

Jorge Costa, licenciado em comunicação social, teve um percurso diferente. Próximo de Francisco Louçã, o ex-assessor do grupo parlamentar bloquista foi ganhando espaço e tornou-se, em alguns anos, uma das principais figuras do Bloco de Esquerda.

Mariana Mortágua assumiu maior protagonismo público depois de ter sido uma das deputadas em destaque na comissão de inquérito ao Caso BES. Daí até ao lugar de cabeça de lista do Bloco por Lisboa foi um salto lógico.

Os três participaram diretamente nas negociações com os socialistas e estiveram com Catarina Martins no dia em que a porta-voz bloquista juntou a sua rubrica à de António Costa. Os três vão agora ser os representantes do partido na reunião semanal da aliança de esquerda.

Os Valetes

valete de espadas

Como fundador, dirigente e deputado do Bloco, José Manuel Pureza deve ser uma figura a ter em conta. Mas não é o único.

Além das reuniões de coordenação entre as esquerdas, vão existir reuniões de especialidade entre os dirigentes das bancadas para a respetiva área e o membro do Governo com competências de tutela no assunto em análise. E, neste caso, existem várias peças importantes na estratégia do Bloco:

Joana Mortágua, como coordenadora do Grupo Parlamentar do Bloco para área da Educação e Ciência, será uma das responsáveis pelas conversações ora com Manuel Heitor, ora com Tiago Brandão Rodrigues. O mesmo com Moisés Ferreira, como vice-presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, nos encontros com Adalberto Fernandes. Licenciado em psicologia, Moisés Ferreira chegou a participar, inclusivamente, nas reuniões do BE com o PS;

E José Soeiro, na área da Segurança Social e do Trabalho. Com 31 anos, o sociólogo é deputado desde 2005 e uma das figuras emergentes do Bloco de Esquerda.

(E os Trunfos)

manilha

Francisco Louçã e Luís Fazenda. Os dois estão entre os fundadores do partido, mas decidiram deixar a vida parlamentar e dar lugar a outros protagonistas. Continuam, no entanto, a ser presença ativa nos media como defensores das cores do Bloco de Esquerda.

Mesmo afastado da liderança do partido, Louçã, como um dos principais conselheiros de Catarina Martins, deve ser seguido com atenção quando o assunto é a estratégia do Bloco.  Ouvir o que diz o histórico dirigente bloquista pode ser meio caminho andado para perceber o que vai fazer o segundo maior partido da aliança de esquerda.

Partido Comunista Português

Os Ases

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PSD/CDS-PP presents the program of government in the Parliament

João Oliveira, líder da bancada parlamentar do PCP

Além de Jerónimo de Sousa, João Oliveira é, naturalmente, uma das figuras em destaque entre as fileiras comunistas – vai ser um dos principais responsáveis por defender a posição do PCP nas reuniões semanais com socialistas, bloquistas e Verdes.

Assim como Francisco Lopes, deputado e membro da comissão política do PCP, e Jorge Cordeiro, também membro da comissão política e um dos porta-vozes da direção comunista, que tem sede na Soeiro Pereira Gomes. Estes, no entanto, são muito discretos e raramente dão entrevistas.

Os três estiveram ao lado de Jerónimo de Sousa nas negociações com os socialistas e os três podem vir a ter um peso significativo nas decisões do partido.

Os Valetes

valete de copas

Estão entre os cinco militantes comunistas que pertencem, simultaneamente, ao grupo parlamentar do PCP e ao comité central do partido. António Filipe, vice-presidente da bancada comunista, e Bruno Dias, coordenador do grupo parlamentar para a área de economia, vão ser, por isso mesmo, figuras centrais na articulação entre comunistas e os restantes partidos da aliança de esquerda.

Miguel Tiago Paulo Sá, como coordenadores do PCP para as áreas da Educação e das Finanças, têm lugar reservado à mesa das negociações sempre que socialistas e comunistas tiveram de chegar a acordo nestas matérias – que podem vir a ser decisivas para o equilíbrio do XXI Governo Constitucional.

A estabilidade entre os três principais partidos da aliança da esquerda será assegurada, sobretudo, por estes protagonistas. José Luís Ferreira, d’Os Verdes, e André Silva, do PAN, também terão uma palavra a dizer. Por isso mesmo, as reuniões entre os partidos da esquerda vão ser um importante teste ao cimento da aliança – basta recordar que nas negociações para viabilizar o Governo  do PS, o PCP, Bloco e Verdes nunca se encontraram com os socialistas num mesmo grupo de trabalho.