O fabrico de chocalhos em Portugal, ofício e manifestação cultural que tem no Alentejo a sua maior expressão a nível nacional, foi hoje classificado pela UNESCO como Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

A decisão foi tomada às 14h20 desta terça-feira, hora de Lisboa, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), na 10.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer em Windhoek, capital da Namíbia, até sexta-feira.

A arte chocalheira já foi o ganha-pão de muitos. Hoje, contam-se pelos dedos os mestres chocalheiros em Portugal. O perigo iminente do desaparecimento desta arte nacional foi um dos motivos que levaram a UNESCO a aprovar, em maio do ano passado, a candidatura portuguesa do fabrico de chocalhos (ou arte chocalheira. Dos 13 mestres chocalheiros que restam no país, a maioria no Alentejo, “nove têm mais de 70 anos e os outros têm entre 30 e 40 anos, mas nenhum tem aprendiz”, disse na altura Paulo Lima, responsável pela candidatura, organizada pelo Turismo do Alentejo, em parceria com a Câmara de Viana do Alentejo e a Junta de Freguesia de Alcáçovas.

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Ao Observador, Bernardino António Bengalinha Pinto, presidente da câmara de Viana do Alentejo, confirmou que há muito pouca gente dedicada à arte chocalheira. “A capital do chocalho será Alcáçovas e aqui há cinco ou seis pessoas, mas porque há uma fábrica”. É a Chocalhos Pardalinhos, criada “há três ou quatro anos por uns empresários jovens, filhos de pais chocalheiros, numa das raras transmissões de geração para geração”, disse. Há mais alguns sítios onde se produzem chocalhos, mas de forma ainda mais artesanal.

Aquando da candidatura, Paulo Lima descreveu a utilidade dos chocalhos como “uma espécie de GPS do gado que permite saber onde estão os animais”, bem como “um bem imaterial quase invisível”, mas “identitário dos campos e do mundo rural português”. “Para um urbano, o desaparecimento dos chocalheiros pode não ter importância, mas quem conhece e vive nas zonas rurais sabe que implica deixar de ouvir esse característico som dos campos, que é o do rebanho com os chocalhos”, disse.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros já congratulou a candidatura e lembrou que ‘O Fabrico de Chocalhos’ é “o primeiro elemento inscrito por Portugal” na Lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO que Necessita de Salvaguarda Urgente, “devido à diminuição do número de artesãos que a praticam”.

No ano passado, o Cante Alentejano foi classificado Património Cultural Imaterial da UNESCO.