A vida de Zekirya, de 12 anos de idade, acrescenta mais pormenores à história de muitas crianças afegãs. São dezenas, talvez centenas, as que partilham o mesmo caminho: saem da alçada dos seus pais, muitas vendidas por eles, passam por campos de treino de grupos terroristas, que os compraram, e acabam mortos, a maior parte deles como bombistas-suicidas. São os “meninos soldado”.

O próprio Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, já se manifestou sobre o tema: “A utilização de meninos soldados no Afeganistão continua a ser um abuso que tanto os insurgentes como a polícia e o exército continuam a cometer contra os jovens afegãos.”

Mas Zekirya teve a sorte que a maioria não tem: o rapaz estava, segundo declarações de fontes policias citadas pelo El Mundo, preparado “para alcançar o paraíso através do martírio”, mas fugiu antes de cometer um atentado suicida e entregou-se às autoridades. Sobreviveu para contar.

A sua história começa em casa. Na altura em que os seus pais o venderam por 100 dólares a um dos comandantes talibã estacionado no distrito de Qaisar, na província de Faryab, a poucos quilómetros de Badghis, no Afeganistão. Segundo informações do ministério do Interior afegão, Zekirya foi então transferido, “juntamente com outros meninos vendidos aos talibãs”, para um campo de treinos que ainda não foi localizado pelas autoridades.

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O jornal espanhol cita o próprio rapaz que afirma que ele e “outras seis crianças”, assim que chegaram ao campo, começaram o seu treino com vista a tornarem-se mártires. Zekirya explica ainda que chegou a dirigir-se aos combatentes para dizer que “não queria acabar em bocados por causa de uma bomba, mas eles insistiram em que se matasse empregados governamentais tinha garantido a ascensão ao paraíso”.

Isso não foi no entanto  suficiente para o convencer. Dias antes de realizar o ataque para que foi treinado, e que lhe traçaria o destino,  Zekirya decidiu fugir e entregar-se à polícia. Tudo aconteceu quando estava a caminho da província de Badghis, local onde deveriam ocorrer o atentado.

Depois de se ter entregue, foi transferido para um centro juvenil, cuja localização não foi revelada por razões de segurança, onde revelou que “as outras seis crianças” também estavam “a ser treinadas para se converterem em atacantes suicidas”. Para além disso, o chefe da polícia de Faryab, Sayed Aqa Andarabi, esclareceu que “os talibãs continuam a recrutar e a comprar menores na zona”, sem referir, no entanto, se vão ser avançadas ações judiciais contra os pais de Zekirya.