Nos Andes, a quatro mil metros de altitude, está uma cidade com 400 anos. Chama-se Cerro de Pasco, pertence ao Peru e lá vivem 70 mil pessoas. Mas uma mina com 1,3 quilómetros quadrados e 402 metros de profundidade ameaça a saúde da população, conta a National Geographic.
Esta mina a céu aberto pertence à Volcan Compañía Minera, uma das maiores empresas polimetálicas de exploração de prata, chumbo e zinco do mundo. Cerro de Pasco está no percurso da exploração mineira da empresa, porque sempre foi muito rica em recursos, tanto que se dizia que as pedras da cidade “choravam prata” no tempo em que este metal era uma das principais fontes de prosperidade da Coroa Espanhola, a que pertencia a região.
Quando a ligação ferroviária para o local ficou completa, nos primeiros anos do século XX, os americanos começaram a explorar Cerro de Pasco e compraram esta mina. Nos anos 50, além da prata, começou-se a explorar também zinco e chumbo e investiu-se na modernização dos métodos de extração. Foi então que se descobriu que as fontes mais ricas de metais estavam por baixo do centro da cidade. E ditou-se a sentença a Cerro de Pasco, que foi em tempos a segunda cidade mais próspera do Peru.
O setor mineiro continua a ser essencial para a economia do país. De acordo com a National Geographic, a economia da América Latina triplicou e vale agora 283 mil milhões de euros. Quanto ao Peru, 1/6 do seu produto interno bruto tem origem na exploração mineira. Mas Cerro de Pasco é também “um dos piores aglomerados de chumbo venenoso do mundo”, pode ler-se na reportagem.
A toxicidade do local é visível. A separar o buraco da mina da população estão fileiras de casas antigas com tetos de alumínio contaminado. Os rios e lagos são cor de laranja e comprometem a qualidade da água potável. Gloria Ramos Prudencio, a congressista natural de Cerro de Pasco que acompanhou os jornalistas a revista numa visita ao local, garante que o preço da água trazida por camiões é 25 vezes superior do que em Lima e que só a recebem durante seis horas por semana.
Paul Rodríguez, um médico do centro de saúde local, conta que os testes que têm sido feitos às crianças de Cerro de Pasco não deixam enganar: mais de metade das crianças desta cidade tem níveis altos de metal no sangue (10 microgramas por decilitro) à conta de ingerirem o pó venenoso proveniente da mina. “Este sítio é Chernobyl”, descreve o médico. E quando pede ajuda às autoridades para resolver o problema só traz dois conselhos: tomar vitaminas e ir embora.