A campanha para as eleições gerais de Espanha arranca oficialmente hoje, a 17 dias da votação, com os quatro principais partidos — PP, PSOE, Ciudadanos e Podemos – convencidos, pelas sondagens, de que nenhum conseguirá sozinho uma maioria absoluta.

As sondagens mais recentes (o último estudo do CIS, o Centro de Investigações Sociológicas foi divulgado na manhã de quinta-feira) indicam o fim da alternância do poder entre governos compostos exclusivamente ou pelo PP ou pelos socialistas do PSOE.

Pelo contrário, terão de fazer acordos pós-eleitorais (inéditos na democracia espanhola) para a votação de investidura do presidente do Governo (até aqui sempre do partido mais votado) ou mesmo para formar Governo.

O estudo do CIS aponta para uma vitória do PP de Mariano Rajoy, no poder desde 2011, mas longe dos 175 deputados que garantem a maioria absoluta. Os “populares” obteriam cerca de 28,6% das intenções de voto (entre 120 e 128 deputados), enquanto os socialistas do PSOE, liderados pelo estreante Pedro Sánchez arrecadaria 20,8% (entre 77 e 89 assentos).

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O PP, que em 2011 tinha obtido uma maioria absoluta confortável de 44% (e 187 deputados) paga, assim, o preço de quatro anos de políticas de austeridade — com um resgate bancário pelo meio, em 2012, ainda que não tenha chegado a ter um programa de assistência em toda a regra, como em Portugal — vários casos de corrupção no partido e os números do desemprego (com a taxa de desemprego a baixar, mas também a taxa de pessoas empregadas, devido à queda da população ativa).

Com o PSOE na calha para repetir (e aumentar) o pior resultado da sua história desde a Transição (em 2011 já o tinha sido, quando obteve 110 deputados), o papel principal vai para o Ciudadanos, de Albert Rivera.

Originário da Catalunha, o Ciudadanos ganhou músculo a nível nacional — apresentando-se como partido do centro-direita, sem a “mácula” da corrupção dos partidos tradicionais e integrados há dezenas de anos nas estruturas do poder — e, sobretudo, sem as mensagens mais radicais do outro partido emergente, o Podemos.

O Ciudadanos poderá estrear-se no Congresso dos Deputados (Parlamento) com mais de 60 deputados (entre 63 e 66 segundo o CIS), a “morder os calcanhares” ao PSOE e a assumir-se como o “partido charneira”, instrumental para eventuais acordos com a direita ou mesmo com a esquerda.

Presença constante nas páginas dos jornais, o caso de Portugal (acordo entre partidos de esquerda para afastar a direita conservadora, que tinha obtido uma vitória sem maioria absoluta) poderá servir de espelho a muitos eleitores espanhóis (para um lado e para outro).

Rivera, um catalão que se opõe à independência da Catalunha, já disse estar disponível para acordos de Governo, mas sublinha que o Ciudadanos vai impor condições, uma das quais poderá ser mesmo o afastamento de Rajoy.

Quanto ao Podemos, de Pablo Iglesias, também se estreará no hemiciclo espanhol no seguimento das eleições de 20 de dezembro. No entanto, está longe das intenções de voto do início do ano — quando as sondagens apontavam o partido da bandeira púrpura a disputar o primeiro lugar. O último trabalho do CIS indica que o Podemos conseguirá 15,7%, o que representa entre 45 e 49 deputados, mas incluindo as suas “marcas brancas” nas regiões: o Compromis, o En Comú Podem e o galego En Marea.

Com a economia espanhola a crescer perto de 3% no final do ano e o desemprego perto dos 20%, Rajoy apostará na cartada da recuperação económica e da estabilidade, da unidade de Espanha (face ao movimento independentista catalão) e mão firme na luta contra o terrorismo ‘jihadista’.

Os partidos da oposição contrapõem com a necessidade de reformas laborais de fundo, a defesa do Estado social, os casos de corrupção que afetam o PP e alguns dos seus antigos ministros e autarcas, e a aparente falta de diálogo do presidente do Governo quanto às autonomias.

Um tema a sobrevoar toda a campanha poderá ser a guerra contra o terrorismo: deverá Espanha enviar ou não tropas ou aviões para combater na Síria ou ajudar a França em África (Mali)? Enquanto PP e PSOE preferem remeter o assunto para depois — e sempre com o Congresso a decidir — o Ciudadanos é favor de uma intervenção e o Podemos radicalmente contra.

No caso do PP há um antecedente relacionado com intervenções militares: em 2004, o apoio à guerra no Iraque foi um dos assuntos que custou a reeleição a José Maria Aznar.