Mais de 1.000 autarcas subscreveram um documento que vai ser entregue, este sábado, aos chefes de Estado e de Governo na Cimeira do Clima (COP21), em Paris, para “fazer pressão” sobre os líderes mundiais, disse à Lusa o presidente da Câmara de Almada.

A declaração para lutar contra as alterações climáticas vai ser entregue no âmbito das atividades do “Dia da Ação” na COP21, este sábado, e o objetivo é levar à “declaração final da conferência as preocupações” dos líderes locais, acrescentou o autarca Joaquim Judas.

“É essa a finalidade mais imediata da declaração ontem [sexta-feira] aprovada: fazer pressão sobre os chefes de Estado e de governo para que, à sensibilização sobre os problemas relacionados com as alterações climáticas, se juntem medidas concretas”, explicou o presidente do município português também subscritor da declaração.

O documento “assume a forma de um compromisso” com “programas de ação a ser desenvolvidos até 2020” para “prevenir o número crescente de catástrofes ligadas às mudanças climáticas”, continuou.

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Por outro lado, no documento consta a promessa de reduzir [anualmente] em 3,7 gigatoneladas as emissões de gases com efeito de estufa até 2030; de reduzir em 80 % a emissão global de gases com efeito de estufa até 2050; uma “fortíssima aposta nas energias renováveis” e “o compromisso para a cooperação” com organizações públicas e privadas “para promover os mecanismos financeiros que permitam dar a sustentabilidade a este programa”, completou Joaquim Judas.

O presidente da Câmara de Almada esteve, na sexta-feira, na Cimeira dos Eleitos Locais Para o Clima, em Paris, e participa, hoje, no Dia da Ação da COP21, tendo sido convidado para a cimeira pelo “papel destacado” de Almada em projetos de adaptação às alterações climáticas, uma área em que Portugal ainda está atrasado, na sua opinião.

“Não podemos deixar de refletir sobre o atraso que se verifica no nosso país em relação ao tratamento destas questões. Ficamos satisfeitos por saber que Almada tem tido um trabalho que se destaca mas não ficamos satisfeitos por verificar o atraso que no plano nacional temos – quer na reflexão, quer na sensibilização, quer na mobilização de recursos nesta frente que é um desafio mundial”, criticou.

Almada apresenta na COP21 dois projetos de adaptação às alterações climáticas: o MultiAdapt, programa inovador de regulação de cheias, amenização microclimática e promoção da segurança alimentar, e o ReDuna, um projeto para recuperação ecológica do sistema dunar de S. João da Caparica.

“O projeto ReDuna é um projeto de reconstituição natural da frente e do ecossistema dunar que foram destruídos, não só pelo seu mau tratamento durante muitos anos, mas sobretudo pela tempestade que assolou o nosso litoral no início de 2014. Foi possível muito rapidamente – com investimento relativamente pequeno e utilizando processos naturais – reconstituir a duna e vê-la crescer a um ritmo que quase nem nós esperávamos: mais de 50 centímetros e em alguns pontos mais de um metro e meio ao longo de cerca de 1200 metros”, descreveu.

Joaquim Judas afirmou, também, que o projeto ReDuna pode ser replicado em outros pontos do país, especialmente quando – tal como “uma parte muito significativa das cidades do mundo inteiro em zonas do litoral” – Portugal e a sua “enorme linha litoral” estão particularmente expostos quer a acontecimentos extremos como as grandes tempestades quer à subida do nível das águas.

“Há uma ameaça real, podemos dizer iminente, em relação à qual têm de ser tomadas medidas desde já”, concluiu o autarca, quando questionado sobre as expectativas relativamente à COP21.

A cimeira do clima, que decorre até ao dia 11, reúne em Paris representantes de 195 países que tentarão alcançar um acordo vinculativo sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa que permita limitar, até ao ano 2100, o aquecimento da temperatura média global da atmosfera a dois graus centígrados acima dos valores registados antes da revolução industrial.