A “cantaora” de flamenco Estrella Morente e o pianista Javier Perianes estreiam este sábado em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, um programa exclusivamente espanhol, que inclui canções de Manuel de Falla e outras recolhidas por Federico García Lorca.

O programa inclui, entre outras, as canções tradicionais “Anda jaleo”, “Los cuatro muleros”, “Las tres hojas”, “Los mozos de Monleón” e “Las morillas de Jaén”, recolhidas pelo poeta andaluz, tendo algumas delas sido gravadas, pela primeira vez, na década de 1930, pela cantora Argentinita, acompanhada ao piano pelo próprio Lorca.

Em abril último, ao diário inglês The Guardian, Javier Perianes, que estudou com os pianistas Daniel Barenboim e Alicia de Larrocha, afirmou que este “é um projeto muito desafiante e muito diferente” do que costuma tocar nas salas de concerto.

O programa inclui também um conjunto de canções de câmara do compositor Manuel de Falla, do ciclo “El amor brujo”, inspirado na tradição musical cigana.

O recital, agendado para as 21 horas, no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, à Palhavã, em Lisboa, inclui ainda sete canções populares espanholas, recolhidas por Morente e Perianes, designadamente “El paño moruno”, “Seguidilla murciana”, “Asturiana”, “Jota”, “Nana”, “Canción” e “Polo”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O concerto abre com “Canción” e “Cuatro piezas españolas — Aragonesa, Cubana, Montañesa, Andaluza”, de Falla, compositor nascido em 1876, em Cadiz, e que foi amigo do poeta e dramaturgo Federico García Lorca, assassinado pelas forças nacionalistas, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

O compositor morreu em 1946, na Argentina, onde se exilou, por se opor ao regime ditatorial, imposto pelas tropas nacionalistas lideradas pelo generalíssimo Francisco Franco, que esteve à frente dos destinos de Espanha até finais de 1975.

Estrella Morente, 35 anos, natural de Granada, na Andaluzia, é filha de Enrique Morente, que produziu o seu primeiro álbum, “Mi cante y un poema” (2001), e da bailarina Aurora Carbonell. Os dois artistas são referências no universo flamenco.

Casada com o toureiro Javier Conde, Estrella Morente atuou já em salas como a do Carnegie Hall, em Nova Iorque, e o Sadler’s Wells, em Londres. Em 2007, atuou pela primeira vez em Lisboa, no Centro Cultural de Belém. Colabora regularmente com Dulce Pontes, com quem realizou várias digressões, nomeadamente em 2008 e 2009.

A “cantaora” — como se designam as intérpretes de flamenco – foi distinguida, entre outros galardões, com um Prémio Ondas para a melhor atuação flamenca, em 2001.

O pianista Javier Perianes, também galardoado, nomeadamente com o Prémio Nacional de Música do ministério espanhol da Cultura, em 2012, nasceu em Nerva, no sul de Espanha.

Além de Barenboim e Alicia de Larrocha, o pianista de 38 anos trabalhou, entre outros, com Lorin Maazel, Zubin Mehta, Rafael Frühbeck de Burgos, Jesús López Cobos, Antoni Wit, Daniel Harding e Vasily Petrenko, entre outros.

Gravou discos com peças de Franz Schubert, Felix Mendelssohn, Blasco de Nebra, Frederic Mompou, Ollalo Morales, Grieg, Granados e Turina, entre outros compositores do seu repertório.

Em setembro de 2011 publicou um CD com música para piano de Manuel de Falla, que inclui a gravação ao vivo de “Noites nos jardins de Espanha”, com a Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Josep Pons.