O ecstasy é uma droga “relativamente segura” e “uma das drogas menos perigosas de entre as que se conhecem”, argumentam dois especialistas, Alex Wodak (presidente da Fundação Australiana para a Reforma das Leis da Droga) e Gideon Warhaft (membro da mesma fundação), num artigo de opinião publicado esta terça-feira no jornal inglês The Guardian.

Os dois especialistas defendem a sua tese dando vários argumentos e números.

1 – O que é a droga e porque é tomada:

Segundo Alex Wodak e Gideon Warhaft, o ecstasy é uma droga sintética e piscoativa com efeitos estimulantes e alucinogénicos relativamente limitados. O nome mais correto para a droga é um palavrão dos grandes: metilenodioximetanfetamina, habitualmente abreviado para MDA.

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A droga, explicam os especialistas, era usada nos anos 1970 e 1980 como complemento à terapia psiquiátrica: e foi declarada perigosa somente depois de ter aumentado o seu consumo para fins recreativos. O ecstasy é uma droga consumida por milhões de pessoas em todo o mundo: só nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo de 2010 feito pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA) estimava que quase 700 mil norte-americanos haviam consumido a droga no mês imediatamente anterior aos inquéritos feitos pela associação.

Alex Wodak e Gideon Warhaft, os especialistas australianos, explicam a razão para a sua popularidade: “Para muitos jovens, tomar ecstasy é uma experiência muito agradável, especialmente em eventos de música e dança. Estes jovens consideram que o ecstasy é uma droga melhor, mais moderada e mais social que o álcool”, explicam.

E dizem mais: “Uma das razões pelas quais tanta gente continua a tomar ecstasy é porque sabem, a partir da sua experiência e da duas seus conhecidos [com a droga], que há uma grande probabilidade de que tenham uma experiência agradável e apenas uma pequena chance de acabarem num hospital, ou de morrerem”.

Para além disso, explicam, a droga também tem efeitos medicinais: “Existem algumas provas de que o MDMA possa ser útil para tratar pessoas com a doença do stress pós-traumático”, dizem.

2 – Não é perigosa e riscos de mortalidade são baixos, defendem

Segundo os especialistas, o MDMA (ou ecstasy) em estado puro é “uma das drogas menos perigosas de entre as que se conhecem”, e “é muito menos perigosa que drogas como o álcool, o tabaco ou a canábis”. Ao contrário de outras, “raramente provoca habituação [vício]”.

A maioria das pessoas, explicam, só toma a droga em ambientes festivos – e quando a tomam não evidenciam comportamentos violentos, ao contrário dos comportamentos associados ao álcool, “muitas vezes ligados à agressividade e a um comportamento anti-social”.

A taxa de mortalidade da droga, argumentam, é muito baixa: e deve-se, na sua maioria, à falta de regulamentação sobre a sua produção. “Como o MDMA [ou ecstasy] não pode ser obtido legalmente, o mercado negro produz a droga com controlos de qualidade e conhecimentos que se desconhecem”, explicam. O que, muitas vezes, leva a que o ecstasy consumido pelas pessoas não seja, na realidade, apenas ecstasy: “Por vezes, variantes perigosas do MDMA (como o PMA ou o PMMA) contaminam o produto vendido”. Variantes essas que são “realmente perigosas”, alertam.

Porém, mesmo com o ecstasy vendido ilegalmente nas ruas, as probabilidades do consumo da droga provocar danos sérios “são ainda assim pequenas”. Na Austrália, por exemplo, todos os anos “há cerca de uma dúzia de mortes provocadas por ecstasy” – um número muito pequeno, explicam, já que “todas as semanas dezenas de milhares de australianos a consomem”. Ao contrário do tabaco, por exemplo: segundo Alex Wodak e Gideon Warhaft, “cerca de 50% dos fumadores vão morrer com uma doença relacionada com o tabaco”, o que justifica o seu perigo.

3 – O ecstasy “está para ficar”: o que fazer então?

Segundo os dois especialistas australianos, é muito pouco provável que o consumo da droga venha a diminuir nos próximos anos: “O ecstasy está para ficar”, dizem, acrescentando que “onde há procura, haverá sempre oferta”.

A solução para a diminuição dos perigos da droga, na opinião de Alex Wodak e Gideon Warhaft, está na sua regulação: “Temos mais hipóteses de levar as pessoas a [terem] comportamentos menos arriscados se a droga for, mesmo que parcialmente, regulada”, defendem. E citam uma recomendação de 2012 que corroborava a ideia, vindo do académico e então vice-reitor da Universidade de Melbourne (Austrália), David Penington.