“O Prémio Pessoa 2015 foi atribuído ao escultor Rui Chafes por ter conseguido “o feito raro de produzir uma obra simultaneamente sem tempo e do seu tempo”, considerou o júri. Chafes é o primeiro artista plástico a receber o galardão desde 1990, data em que foi atribuído à pintora Menez. O anúncio foi feito esta sexta-feira no Palácio de Seteais, em Sintra, por Francisco Pinto Balsemão, que presidiu o júri desta edição.

O Prémio Pessoa, no valor de 60 mil euros, distingue todos os anos uma personalidade portuguesa ligada à vida cultural e científica do país com uma “intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país”. O galardão é uma iniciativa do semanário Expresso, propriedade de Pinto Balsemão, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos.

Em declarações à Lusa, o escultor disse ter sido apanhado de surpresa e que ficou sem palavras. “É uma distinção de grande valor e simbolismo e tem sido entregue a pessoas de grande importância para a comunidade, e não estou certo de ter essa importância. Sou apenas um escultor.”

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À agência de notícias, Chafes admitiu ainda que o galardão é muito mais do que um reconhecimento do seu trabalho — é um reconhecimento das artes e da cultura, uma “parte da Humanidade” que também tem direito ao “seu reconhecimento mais formal”. “Há bastante tempo que não era entregue a um artista ou a alguém da cultura. Ou pelo menos das artes visuais”.

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“A postura ética dos trabalhos e dos artistas é que pode fazer a diferença em relação à sociedade. A boa arte é intemporal.”

Um escultor “sem tempo e do seu tempo”

Chafes nasceu em Lisboa em 1966. Formado em Escultura pela Escola Superior de Belas-Artes, realizou as primeiras exposições entre 1986 e 1987, instalações marcadas pelo uso de materiais precários que, mais tarde, deram lugar ao ferro pintado a preto, material pelo qual é conhecido.

Entre 1990 e 1992, estudo na Kunstakademie Düsseldorf, na Alemanha. Foi durante a sua estadia em Düsseldorf que produziu a obra Fragmentos de Novallis, um “objeto de paixão” que nasceu “de uma longa relação com os textos” do autor alemão, “que se revelam como uma das bases estéticas mais importantes para” o seu “trabalho de escultura”, como escreveu no prefácio. O livro, publicado em Portugal pela Assírio & Alvim, inclui fragmentos de Novallis, traduzidos por Chafes, acompanhados de desenhos seus.

Ao longo dos anos, o escultor tem realizado importantes trabalhos artísticos, muitas vezes em colaboração com artistas de outras disciplinas. Em 2004, criou para a 26ª Bienal de Artes de São Paulo “Comer o Coração”, uma instalação realizada em colaboração com a coreógrafa e bailarina Vera Mantero. No no seguinte, juntou-se ao cineasta Pedro Costa para criar “Fora!”, obra que pode ser visitada na Fundação de Serralves, no Porto.

Em 2014, realizou uma exposição antológica, “O Peso do Paraíso”, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, com curadoria de Isabel Carlos. Essa exposição foi pretexto para o filme Viagem aos confins de um sítio onde nunca estive, de João Mário Grilo.

O seu mais recente trabalho, “Desenhar“, encontra-se exposto no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa. A exposição, inaugurada no passado dia 8 de dezembro, reúne desenhos a grafite e carvão de Pomar, em contraponto duas esculturas em ferro de Chafes.

Artigo atualizado às 15h06 com declarações de Rui Chafes à Agência Lusa