Senhoras e senhores, bienvenue en France. Paris esteve este sábado no centro do mundo. Primeiro, graças ao acordo para o combate às alterações climáticas que mereceu um aperto de 196 mãos; depois o sorteio do Campeonato da Europa de 2016, que decorrerá também em França. Portugal, já se sabe, calhou no Grupo F, juntamente com Islândia, Hungria e Áustria. Simpático, hein? A ver. Este é o primeiro Europeu com 26 equipas. Ou seja, há mais dez seleções em relação à lengalenga que conhecíamos. Isto significa que, pela primeira vez, haverá oitavos-de-final, tal como acontece nos Mundiais. Tiremos as medidas, qual alfaiate, aos grupos A, B, C, D e E — o grupo de Portugal merece, pois claro, um texto independente.
Grupo A: França, Roménia, Albânia e Suíça
Os gauleses jogam em casa e tiveram um sorteio à maneira. Na teoria, vá. Mas esta seleção de Didier Deschamps tem muito mais em que pensar. Benzema, por exemplo. O avançado do Real Madrid foi suspenso pela Federação Francesa de Futebol devido às suspeitas de chantagem a um colega, Mathieu Valbuena. Benzema ficará suspenso até que o caso seja resolvido. Quem poderá esfregar as mãos, perante tal oportunidade, é Giroud, que acabou de fazer um hat-trick ao Olympiakos (empurrou Marco Silva para a Liga Europa). Mais: este efeito cascata poderá levar André-Pierre Gignac ao Europeu. Onde anda ele? No México.
A Suíça foi a última equipa do grupo a sair no sorteio, o que motivou aplausos na sala. Suíços e franceses foram protagonistas de um dos melhores jogos do Campeonato do Mundo de 2014, no Brasil. A equipa de Deschamps bateu a de Ottmar Hitzfeld por 5-2, com golos de Giroud, Matuidi, Valbuena, Benzema e Sissoko; Dzemaili e Xhaka marcaram para a Suíça. Esta seleção de Vladimir Petkovic, de 51 anos, é dinâmica e tem muita pedalada. As figuras são o lateral esquerdo Ricardo Rodríguez, Shaqiri e Mehmedi.
A Albânia traz más recordações a… Paulo Bento. É isso, o último jogo do ex-selecionador foi perante esta frágil e matreira equipa: um golo de Balaj, aos 52′, em Aveiro, bastou para provocar a dança de cadeiras. Cana, o capitão, Xhaka, Berisha e Kukeli serão os jogadores mais famosos. Quanto à Roménia, uma bela surpresa: zero derrotas na fase de qualificação. Foram cinco vitórias e cinco empates. Ciprian Tatarusanu, da Fiorentina, é o gigante guarda-redes com 194 centímetros. Na falta de Hagi e Mutu e jogadores de sonho de tempos idos, os mais badalados hoje em dia são Rat e Vlad Chiriches.
Grupo B: Inglaterra, Rússia, País de Gales e Eslováquia
Wayne Rooney já ultrapassou, em golos, Bobby Charlton. Está no trono do reino do golo, mas falta aquela história que inventa os mitos. A Inglaterra há muito que é uma desilusão, mas Roy Hodgson conta com sangue novo para mudar o fado. Na frente há talento, irreverência e opções que nunca mais acabam: Rooney, Alex Oxlade-Chamberlain, Sturridge, Vardy, Sterling, Walcott e Harry Kane. É só escolher. As coisas complicam quando recuamos para o meio-campo e defesa. A experiência de Gary Cahill, Jagielka e Henderson poderão ser chave.
A Rússia de Leonid Slutsky, o homem que sucedeu a Fabio Capello (que também não foi nada feliz à frente da seleção inglesa), marcou 21 golos em dez jogos da qualificação. Kokorin portou-se bem, com três golos, mas a grande figura é mesmo Dzyuba. E o termo empregue não é por acaso: Artyom Dzyuba tem 1.96m e mais de 90 quilos. Tem pézinhos, mobilidade, segura a bola como poucos e faz jogar. É quase um case study. Vale a pena seguir este jogador do Zenit de Villas-Boas.
País de Gales estreia-se em Europeus. A justiça divina não foi simpática para Ryan Giggs, a eterna lenda daquele país, mas o adjunto de Van Gaal no United estará atento a Gareth Bale. Com seis vitórias e três empates em dez jornadas, Chris Coleman escreveu com jeitinho o seu nome na história do País de Gales. Bale terá a ajuda de Aaron Ramsey e Joe Allen. Da Eslováquia não se espera muito… mas se calhar haverá surpresas. É que Weiss, Kucka, Hamsik, Skrtel e companhia deveriam ser levados a sério. A seleção de Ján Kozák, o treinador eslovaco de 60 anos, venceu a Espanha em outubro de 2014 no apuramento: 2-1, com golos de Kucka e Stoch; Paco Alcácer marcou para os espanhóis.
Grupo C: Alemanha, Ucrânia, Polónia, Irlanda do Norte
Os campeões do mundo são os grandes favoritos, naturalmente. Vale a pena não esquecer o que aconteceu com a Espanha. Guardiola chegou ao Barcelona em 2008 e a partir daí foi o que foi: dois Campeonatos da Europa e um Mundial. Pep chegou em 2013/2014 a Munique e a seleção de Low venceu logo o título mundial nessa época. Coincidência? Veremos.
Este Grupo C traz, desde logo, um duelo que foi visto na fase de qualificação: Alemanha vs. Polónia. Deu uma vitória para cada lado: primeiro, a Polónia venceu por 2-0 (Milik e Mila); depois, os alemães vingaram-se com uma vitória por 3-1 (Müller, Götze-2; Lewandowski). Apenas um ponto separou estas duas seleções. Vai ser interessante…
Veremos se a Ucrânia tem Fome(nko). Okay, isto foi uma graçola questionável com o nome do treinador ucraniano, Mykhailo Fomenko. Este selecionador de 65 anos tem à sua disposição meninos como Pyatov, Kravets, Stepanenko, Konoplyanka e, o maior deles todos, Andriy Yarmolenko. Este último, um rapaz de 24 anos, tem uma canhota de alto gabarito, que não tardará muito a brilhar num Camp Nou, Bernabéu ou Old Trafford. É certinho.
Uma boa nova desta fase de qualificação foi a Irlanda do Norte, que venceu o grupo à Roménia e Hungria. Esta seleção nunca disputou um Campeonato da Europa, mas já sabe a que cheira um Mundial: aconteceu em 1958 e 1982. Admitimos: o desafio aqui é reconhecer um jogador, mas há um que não engana: Kyle Lafferty, atualmente no Norwich, tem 1.93m e sabe marcar golos — sete em nove jornadas da fase de qualificação. Ah! Johnny Evans, um ex-Manchester United, é um dos centrais e Roy Carroll, de 36 anos, é um dos guarda-redes.
Grupo D: Espanha, República Checa, Turquia e Croácia
É certinho que, em grupo onde calha a Espanha, a primeira linha escrita seja sobre nuestros hermanos. Porque mesmo que, em 2014, tenha entrado e saído a cambalear do Mundial do Brasil (dois derrotas e uma vitória), os espanhóis não deixaram de ser duplos campeões europeus em títulos e de terem tipos como Andrés Iniesta, David Silva, Cèsc Fabregas, Thiago Alcântara ou Isco a tocarem na bola. A La Roja que Vicente del Bosque está a tentar renovar com juventude ganhou a prova em 1964, 2008 e 2012 e só pode ser temida num grupo em que só mais uma seleção sabe o que é estar perto de vencer.
Trata-se da República Checa, que em 1996 foi à final perder com a Alemanha depois de Karel Poborsky dar uma chapelada a Vítor Baía nos quartos-de-final. Depois de uns anos a ressacarem de uma geração das boas — mais ou menos 10 anos, entre 2004 e 2014 –, os checos parecem estar a renascer. Duas provas: têm conseguido aproveitar homens como Rosicky, Darida, Pilar e Plasil para sustentar uma equipa onde são todos, e não um, que decidem (só um jogador, Bockal, marcou mais que dois golos no apuramento) e acabaram a liderar um grupo que tinha a Holanda, a Islândia e a Turquia.
E o sorteio fez com que se voltassem a encontrar com os turcos que parecem voltar a ter uma seleção recheada de talento. Arda Turan, o barbudo que ainda está à espera de jogar no Barça (a suspensão imposta ao clube só o deixará fazê-lo a partir de janeiro), lidera uma equipa com Hakan Çalhanoglu, talvez o atual melhor marcador de livres na Europa, Burak Yilmaz, goleador do Galatasaray, e Mehmet Topal, trinco que sustena o Fenerbahce de Vítor Pereira. Só falta escrever sobre a Croácia, que por ter Luka Modric e Ivan Rakitic leva logo com a etiqueta de ser uma seleção promissora.
Grupo E: Bélgica, Itália, Irlanda e Suécia
Tinha que sair na rifa a alguém. A conversa é a mesma do último Mundial e os jogadores que o ano passado deram uma geração dourada à seleção belga são os mesmos que, agora, terão prestar provas contra a Italia. Ainda não é sabido se Antonio Conte, o selecionador, conseguirá desabituar os transalpinos do vício de terem Andrea Pirlo a fazer a equipa mexer — o senhor está com 36 anos e a jogar nos EUA. Mas ao eclipse de um artista há o nascer de outro, Marco Verratti, que vai tentando por ordem numa seleção a tentar fazer-se jovem com Insigne, Florenzi, Darmian, De Sciglio e Gabbiadini.
É com estes e outros que a Bélgica terá de lidar. O treinador Marc Wilmots parece finalmente ter arranjado maneira para Hazard, De Bruyne, Ferreira Carrasco, Witsel, Lukaku ou Mertens conviverem enquanto jogam bem à bola e isso viu-se na qualificação. Agora há que provar tudo isso numa competição e lidar com os italianos na fase de grupos é logo um teste dos grandes. Ou com a Suécia, pois mesmo que a regra diga que não há muitos suecos com pés suficientes para surpreender, a exceção que existe na equipa aconselha os adversários a terem cuidado.
Três dos quatro golos com que os nórdicos superaram a Dinamarca no play-off foram marcados por Zlatan Ibrahimovic, avançado que há uns anos disse que o Mundial do Brasil perdeu a piada quando Cristiano Ronaldo e Portugal impediram a Suécia de lá estar. Depois sobra a Irlanda, treinada a meias por Martins O’Neill e Roy Keane, que tem muito mais garra do que talento e por isso é que continuam a depender do que os 35 anos de Robbie Keane façam lá na frente (fizeram cinco golos na fase de qualificação). Isto a atacar, já que, para o resto, os irlandeses já tem homens acostumados a serem titulares em clubes da Premier League, como James McCarty, Séamus Coleman e Aiden McGEady (todos do Everton), Shane Long (Southampton) ou Jonathan Walters (Stoke City).