Senhoras e senhores, bienvenue en France. Paris esteve este sábado no centro do mundo. Primeiro, graças ao acordo para o combate às alterações climáticas que mereceu um aperto de 196 mãos; depois o sorteio do Campeonato da Europa de 2016, que decorrerá também em França. Portugal, já se sabe, calhou no Grupo F, juntamente com Islândia, Hungria e Áustria. Simpático, hein? A ver. Este é o primeiro Europeu com 26 equipas. Ou seja, há mais dez seleções em relação à lengalenga que conhecíamos. Isto significa que, pela primeira vez, haverá oitavos-de-final, tal como acontece nos Mundiais. Tiremos as medidas, qual alfaiate, aos grupos A, B, C, D e E — o grupo de Portugal merece, pois claro, um texto independente.

Grupo A: França, Roménia, Albânia e Suíça

France's forward Andre-Pierre Gignac (2nd L) gestures after conceding a goal during the friendly football match between England and France at Wembley Stadium in west London on November 17, 2015. AFP PHOTO / IAN KINGTON NOT FOR MARKETING OR ADVERTISING USE / RESTRICTED TO EDITORIAL USE (Photo credit should read IAN KINGTON/AFP/Getty Images)

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Os gauleses jogam em casa e tiveram um sorteio à maneira. Na teoria, vá. Mas esta seleção de Didier Deschamps tem muito mais em que pensar. Benzema, por exemplo. O avançado do Real Madrid foi suspenso pela Federação Francesa de Futebol devido às suspeitas de chantagem a um colega, Mathieu Valbuena. Benzema ficará suspenso até que o caso seja resolvido. Quem poderá esfregar as mãos, perante tal oportunidade, é Giroud, que acabou de fazer um hat-trick ao Olympiakos (empurrou Marco Silva para a Liga Europa). Mais: este efeito cascata poderá levar André-Pierre Gignac ao Europeu. Onde anda ele? No México.

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A Suíça foi a última equipa do grupo a sair no sorteio, o que motivou aplausos na sala. Suíços e franceses foram protagonistas de um dos melhores jogos do Campeonato do Mundo de 2014, no Brasil. A equipa de Deschamps bateu a de Ottmar Hitzfeld por 5-2, com golos de Giroud, Matuidi, Valbuena, Benzema e Sissoko; Dzemaili e Xhaka marcaram para a Suíça. Esta seleção de Vladimir Petkovic, de 51 anos, é dinâmica e tem muita pedalada. As figuras são o lateral esquerdo Ricardo Rodríguez, Shaqiri e Mehmedi.

A Albânia traz más recordações a… Paulo Bento. É isso, o último jogo do ex-selecionador foi perante esta frágil e matreira equipa: um golo de Balaj, aos 52′, em Aveiro, bastou para provocar a dança de cadeiras. Cana, o capitão, Xhaka, Berisha e Kukeli serão os jogadores mais famosos. Quanto à Roménia, uma bela surpresa: zero derrotas na fase de qualificação. Foram cinco vitórias e cinco empates. Ciprian Tatarusanu, da Fiorentina, é o gigante guarda-redes com 194 centímetros. Na falta de Hagi e Mutu e jogadores de sonho de tempos idos, os mais badalados hoje em dia são Rat e Vlad Chiriches.

Grupo B: Inglaterra, Rússia, País de Gales e Eslováquia

CARDIFF, WALES - OCTOBER 13: Gareth Bale of Wales celebrates after his sides 2-0 victory and qualification during the UEFA EURO 2016 Qualifier match at the Cardiff City Stadium on October 13, 2015 in Cardiff, United Kingdom. (Photo by Michael Steele/Getty Images)

Foto: Michael Steele/Getty Images

Wayne Rooney já ultrapassou, em golos, Bobby Charlton. Está no trono do reino do golo, mas falta aquela história que inventa os mitos. A Inglaterra há muito que é uma desilusão, mas Roy Hodgson conta com sangue novo para mudar o fado. Na frente há talento, irreverência e opções que nunca mais acabam: Rooney, Alex Oxlade-Chamberlain, Sturridge, Vardy, Sterling, Walcott e Harry Kane. É só escolher. As coisas complicam quando recuamos para o meio-campo e defesa. A experiência de Gary Cahill, Jagielka e Henderson poderão ser chave.

A Rússia de Leonid Slutsky, o homem que sucedeu a Fabio Capello (que também não foi nada feliz à frente da seleção inglesa), marcou 21 golos em dez jogos da qualificação. Kokorin portou-se bem, com três golos, mas a grande figura é mesmo Dzyuba. E o termo empregue não é por acaso: Artyom Dzyuba tem 1.96m e mais de 90 quilos. Tem pézinhos, mobilidade, segura a bola como poucos e faz jogar. É quase um case study. Vale a pena seguir este jogador do Zenit de Villas-Boas.

País de Gales estreia-se em Europeus. A justiça divina não foi simpática para Ryan Giggs, a eterna lenda daquele país, mas o adjunto de Van Gaal no United estará atento a Gareth Bale. Com seis vitórias e três empates em dez jornadas, Chris Coleman escreveu com jeitinho o seu nome na história do País de Gales. Bale terá a ajuda de Aaron Ramsey e Joe Allen. Da Eslováquia não se espera muito… mas se calhar haverá surpresas. É que Weiss, Kucka, Hamsik, Skrtel e companhia deveriam ser levados a sério. A seleção de Ján Kozák, o treinador eslovaco de 60 anos, venceu a Espanha em outubro de 2014 no apuramento: 2-1, com golos de Kucka e Stoch; Paco Alcácer marcou para os espanhóis.

Grupo C: Alemanha, Ucrânia, Polónia, Irlanda do Norte

GLASGOW, SCOTLAND - OCTOBER 08: Robert Lewandowski of Poland celebrates after he scores during the UEFA EURO 2016 qualifier between Scotland and Poland at Hampden Park on October 08, 2015 in Glasgow, Scotland. (Photo by Ian MacNicol/Getty)

Foto: Ian MacNicol/Getty

Os campeões do mundo são os grandes favoritos, naturalmente. Vale a pena não esquecer o que aconteceu com a Espanha. Guardiola chegou ao Barcelona em 2008 e a partir daí foi o que foi: dois Campeonatos da Europa e um Mundial. Pep chegou em 2013/2014 a Munique e a seleção de Low venceu logo o título mundial nessa época. Coincidência? Veremos.

Este Grupo C traz, desde logo, um duelo que foi visto na fase de qualificação: Alemanha vs. Polónia. Deu uma vitória para cada lado: primeiro, a Polónia venceu por 2-0 (Milik e Mila); depois, os alemães vingaram-se com uma vitória por 3-1 (Müller, Götze-2; Lewandowski). Apenas um ponto separou estas duas seleções. Vai ser interessante…

Veremos se a Ucrânia tem Fome(nko). Okay, isto foi uma graçola questionável com o nome do treinador ucraniano, Mykhailo Fomenko. Este selecionador de 65 anos tem à sua disposição meninos como Pyatov, Kravets, Stepanenko, Konoplyanka e, o maior deles todos, Andriy Yarmolenko. Este último, um rapaz de 24 anos, tem uma canhota de alto gabarito, que não tardará muito a brilhar num Camp Nou, Bernabéu ou Old Trafford. É certinho.

Uma boa nova desta fase de qualificação foi a Irlanda do Norte, que venceu o grupo à Roménia e Hungria. Esta seleção nunca disputou um Campeonato da Europa, mas já sabe a que cheira um Mundial: aconteceu em 1958 e 1982. Admitimos: o desafio aqui é reconhecer um jogador, mas há um que não engana: Kyle Lafferty, atualmente no Norwich, tem 1.93m e sabe marcar golos — sete em nove jornadas da fase de qualificação. Ah! Johnny Evans, um ex-Manchester United, é um dos centrais e Roy Carroll, de 36 anos, é um dos guarda-redes.

Grupo D: Espanha, República Checa, Turquia e Croácia

OVIEDO, SPAIN - SEPTEMBER 05: Andres Iniesta celebrates after scoring goal during the Spain v Slovakia EURO 2016 Qualifier at Carlos Tartiere on Sep 5, 2015 in Oviedo, Spain.Ê (Photo by Juan Manuel Serrano Arce/Getty Images)

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É certinho que, em grupo onde calha a Espanha, a primeira linha escrita seja sobre nuestros hermanos. Porque mesmo que, em 2014, tenha entrado e saído a cambalear do Mundial do Brasil (dois derrotas e uma vitória), os espanhóis não deixaram de ser duplos campeões europeus em títulos e de terem tipos como Andrés Iniesta, David Silva, Cèsc Fabregas, Thiago Alcântara ou Isco a tocarem na bola. A La Roja que Vicente del Bosque está a tentar renovar com juventude ganhou a prova em 1964, 2008 e 2012 e só pode ser temida num grupo em que só mais uma seleção sabe o que é estar perto de vencer.

Trata-se da República Checa, que em 1996 foi à final perder com a Alemanha depois de Karel Poborsky dar uma chapelada a Vítor Baía nos quartos-de-final. Depois de uns anos a ressacarem de uma geração das boas — mais ou menos 10 anos, entre 2004 e 2014 –, os checos parecem estar a renascer. Duas provas: têm conseguido aproveitar homens como Rosicky, Darida, Pilar e Plasil para sustentar uma equipa onde são todos, e não um, que decidem (só um jogador, Bockal, marcou mais que dois golos no apuramento) e acabaram a liderar um grupo que tinha a Holanda, a Islândia e a Turquia.

E o sorteio fez com que se voltassem a encontrar com os turcos que parecem voltar a ter uma seleção recheada de talento. Arda Turan, o barbudo que ainda está à espera de jogar no Barça (a suspensão imposta ao clube só o deixará fazê-lo a partir de janeiro), lidera uma equipa com Hakan Çalhanoglu, talvez o atual melhor marcador de livres na Europa, Burak Yilmaz, goleador do Galatasaray, e Mehmet Topal, trinco que sustena o Fenerbahce de Vítor Pereira. Só falta escrever sobre a Croácia, que por ter Luka Modric e Ivan Rakitic leva logo com a etiqueta de ser uma seleção promissora.

Grupo E: Bélgica, Itália, Irlanda e Suécia

Sweden's forward and team captain Zlatan Ibrahimovic celebrates as his team qualifies to Euro 2016 in France after the Euro 2016 second leg play-off football match between Denmark and Sweden at Parken stadium in Copenhagen on November 17, 2015. AFP PHOTO / JONATHAN NACKSTRAND (Photo credit should read JONATHAN NACKSTRAND/AFP/Getty Images)

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Tinha que sair na rifa a alguém. A conversa é a mesma do último Mundial e os jogadores que o ano passado deram uma geração dourada à seleção belga são os mesmos que, agora, terão prestar provas contra a Italia. Ainda não é sabido se Antonio Conte, o selecionador, conseguirá desabituar os transalpinos do vício de terem Andrea Pirlo a fazer a equipa mexer — o senhor está com 36 anos e a jogar nos EUA. Mas ao eclipse de um artista há o nascer de outro, Marco Verratti, que vai tentando por ordem numa seleção a tentar fazer-se jovem com Insigne, Florenzi, Darmian, De Sciglio e Gabbiadini.

É com estes e outros que a Bélgica terá de lidar. O treinador Marc Wilmots parece finalmente ter arranjado maneira para Hazard, De Bruyne, Ferreira Carrasco, Witsel, Lukaku ou Mertens conviverem enquanto jogam bem à bola e isso viu-se na qualificação. Agora há que provar tudo isso numa competição e lidar com os italianos na fase de grupos é logo um teste dos grandes. Ou com a Suécia, pois mesmo que a regra diga que não há muitos suecos com pés suficientes para surpreender, a exceção que existe na equipa aconselha os adversários a terem cuidado.

Três dos quatro golos com que os nórdicos superaram a Dinamarca no play-off foram marcados por Zlatan Ibrahimovic, avançado que há uns anos disse que o Mundial do Brasil perdeu a piada quando Cristiano Ronaldo e Portugal impediram a Suécia de lá estar. Depois sobra a Irlanda, treinada a meias por Martins O’Neill e Roy Keane, que tem muito mais garra do que talento e por isso é que continuam a depender do que os 35 anos de Robbie Keane façam lá na frente (fizeram cinco golos na fase de qualificação). Isto a atacar, já que, para o resto, os irlandeses já tem homens acostumados a serem titulares em clubes da Premier League, como James McCarty, Séamus Coleman e Aiden McGEady (todos do Everton), Shane Long (Southampton) ou Jonathan Walters (Stoke City).