Os nomes são o que são. E há os que nos ficam na memória e aqueles de não há memória sequer. Por exemplo: não há adepto do Sporting (nem portista, diga-se) que não recorde, saudosista, o “Super Mário” Mário Jardel. Não o barrigudo, deputado estadual de hoje. O que recordam é o camisola “16”, que quando a bola lhe era cruzada para a área, fosse lá de onde fosse, e ainda nem lá tinha caído, já os braços se erguiam no ar em festejo e a cortas vocais se afinavam para gritar golo. Mas são poucos ou nenhum os adeptos do Benfica que se recordam ou querem recordar de um tal de George Jardel, irmão de Mário, que foi “10” (ainda fez uns minutos na pré-época com Jesualdo Ferreira) das águias em tempos idos e que não querem que voltem nunca mais.

E Ronaldos? Há três. Em Barcelona, por exemplo, os adeptos catalães recordam com carinho o do diminutivo, o Ronaldinho de dentuças sempre a sorrir. E recordam, ora com carinho, ora com desamor, o Ronaldo, “fenómeno” como lhe chamavam, que foi goleador em Camp Nou e no Santiago Bernabéu , em Madrid. Ronaldo, o Cristiano, só é endeusado, nem de propósito, em Madrid. Lá por terras de Barcelona não o podem ver nem pintado.

Mas é de Sporting e de Moreirense que se fala. Em Alvalade, no velhinho José Alvalade jogou Manoel. Manoel Costa, que fez 56 golos em 149 jogos. Avançado grandão, brasileiro, mas com finos pés. Jogou, lá na frente, lado a lado com Manuel Fernandes ou Jordão na década de 1970. Mas houve outro Manoel, com “o” também, em Alvalade. No José Alvalade novo, o dos azulejos de Taveira. Manoel Filho. Também avançado-centro. Só que nem um golinho fez. Mas foi ele, Manoel, que num sábado de bola, a 20 setembro de 2003, fez um golo aos 93′ contra o Sporting e derrotou os leões por 1-0 em Moreira de Cónegos. Foi a primeira e única vez que o Moreirense venceu o Sporting. E Manoel ganhou um bilhete de ida para Alvalade. Foi um bilhete de turista, não de trabalhador, o qual ainda lhe deu para ver uns joguinhos sentado no banco. Não é para qualquer um.

Hoje o Moreirense veio a Alvalade, 12 anos e três meses depois para voltar a vencer. Ou para trazer um pontinho que fosse de volta a casa. O autocarro normalmente fica no parque de estacionamento do estádio. Hoje subiu ao relvado. O Moreirense defendia com nove homens, deixava o guarda-redes na baliza e o ponta-de-lança na frente – e entenda-se por “frente” o círculo de meio-campo.

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Mas o Sporting lá conseguiu ultrapassar o “autocarro” aos 29′, num livre que se pedia direto mas que afinal foi curto, com Gelson a rematar para golo, desmarcado a passe de Ruiz. E o autocarro fez marcha-atrás. É que para o pontinho o 1-0 não chegava. Aos puxar a manta, curtinha, para a cabeça, que é como quem diz o ataque, o Moreirense destapou o pés, ou seja, a defesa e sofreu o segundo numa arrancada de Adrien à Francis Obikwelu (o “23” não é veloz, é mais cão de fila, mas Evaldo deu-lhe espaço e tempo até mais não), que assistiu Aquilani para segundo. O terceiro viria no recomeço, num penálti de Slimani — mas que só entrou na recarga e de canhota.

Esperava-se uma sacada de golos e uma goleada das antigas. O Sporting não tinha já dedos para contar os tantos remates que fez. Para somar os do Moreirense nem eram preciso dedos nenhuns: fez zero à baliza de Patrício até então. Mas Jesus, que até rodou e bem o onze no início, começou a fazer entrar os do costume: João Mário, William… Quem sabe picado com Rui Vitória, que onde deixou no ar que só o Benfica é que goleia na Liga e que não ganha por 1-0 no último minuto e de penálti.

Mas mais depressa Jesus mexesse no onze, mais depressa o Moreirense mexia com o jogo. Não que tivesse feito muito para isso. O golo do 3-1 veio de penálti. Um penálti só o foi porque Rafael Martins tinha um bichinho a roer-lhe na barriga (afinal, era hora de jantar) e “desfaleceu” nos braços de Naldo com fome. Matou-a no penálti. Antes disso, instantes antes, o Moreirense fez o seu primeiro remate no jogo todo. Pouco depois do penálti, faria o segundo e derradeiro. Num e noutro, Patrício foi “São Patrício” e defendeu tudo.

Não deu para mais. Nem para o Sporting nem para o Moreirense. No final, o médio Vítor Gomes disse que o golo do Sporting fez cair por terra a estratégia que tinham. E o treinador Miguel Leal reforçou que queriam pontos de Alvalade. Nem que fosse um. O problema é que a tática do autocarro e o jogar-se só para o pontinho, quando a coisa não corre bem, quando não se marca e se sofre cedo, dá em goleada. Valeu-lhes que o Sporting travou ao terceiro golo.