Estamos a uma semana do Natal e a duas do fim do ano, e no espaço de 15 dias os cinemas portugueses vão receber uma revoada de filmes. Alguns foram concebidos para tomar de assalto as salas na quadra das festas, outros não têm nada a ver com ela mas apresentam-se como alternativas muito respeitáveis às grandes produções de Hollywood. Há até um valente filme português que vai medir forças com estas e com os títulos europeus e norte-americanos mais “autoristas” que as acompanham. Eis oito fitas a não perder até ao final do ano, escolhidas para agradar aos paladares cinéfilos mais díspares e mais abrangentes.

“Star Wars: O Despertar da Força” (J.J. Abrams)

É a bisarma vinda de Hollywood que domina este Natal, o descomunal eucalipto cinematográfico que ameaça secar tudo em volta, e o primeiro filme da série, agora propriedade da Disney, feito sem a presença do seu criador, George Lucas. A estreia do primeiro do novo lote de seis filmes de “Guerra das Estrelas” é ardentemente aguardada em todo o planeta, e a Disney está a torcer, e a fazer tudo, para que bata todos os recordes de bilheteira, seja o filme mais lucrativo de sempre e o primeiro a acumular três mil milhões de dólares de receitas em todo o mundo. A história passa-se 30 anos depois dos acontecimentos de “O Regresso do Jedi”, há personagens conhecidas, reencontros e caras novas, robôs familiares e estreantes, e os fãs esperam que “O Despertar da Força” tenha toda a mística, a vibração e as qualidades das duas trilogias originais, sem ter também os defeitos da segunda. J.J. Abrams disse ter feito tudo para que a fita tenha a qualidade “artesanal” das da trilogia original, e para que aquele aspecto de “universo usado” que as caracterizava volte a ser omnipresente. Veremos se a Força desperta com a dita toda.
Estreia: dia 17.

“Amor Impossível” (António-Pedro Vasconcelos)

O realizador de “O Lugar do Morto” e “Call Girl” baseou-se em factos reais passados em Viseu para filmar esta história de um amor desatado, turbulento e finalmente, fatal, entre dois jovens estudantes universitários pertencentes a meios sociais diferentes (em paralelo, decorre uma outra história sentimental, embora muito menos intensa, entre um agente e uma agente da Polícia Judiciária), em que são invocadas paixões como as de “Romeu e Julieta”, “O Monte dos Vendavais” e “Amor de Perdição”, a cujas alturas trágicas o argumento de Tiago Santos aspira ascender. Os dois casais de “Amor Impossível” são interpretados por Victória Guerra e José Mata, e Ricardo Pereira e Soraia Chaves.
Estreia: dia 24.

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https://youtu.be/mTOu5VD6GB4

“Coração de Cão” (Laurie Anderson)

Esta deve ser a estreia mais desalinhada da quadra que atravessamos, e um dos mais singulares, pungentes e belos filmes deste ano. Rodado por Laurie Anderson com o seu iPhone e outros pequenos aparelhos digitais, “Coração de Cão” é um misto indefinível de documentário, ensaio visual e musical, e meditação místico-onírico-impressionista, tendo como pretexto a morte de Lolabelle, a cadela da artista, compositora e realizadora, que pintava e tocava piano com as patas. A morte da mãe da autora, bem como a do seu marido Lou Reed estão também presentes em “Coração de Cão”, mas o o tom do filme, todo ele embalado pela voz de Anderson, não é de modo algum lúgubre, antes melancólico e preenchido com a evocação de muitos momentos de felicidade.
Estreia: dia 24.

“Snoopy e Charlie Brown: Peanuts – O Filme” (Steve Martino)

O primeiro filme dos Peanuts desde a morte do seu criador, Charles M. Schulz, realizado 35 anos depois da última aparição das personagens no cinema, levantou protestos de indignação de muitos fãs da banda desenhada nos EUA, por ser feito em animação digital e não por processos tradicionais, tal como os anteriores e os clássicos “especiais” televisivos. A julgar pelas críticas, o medo de que os computadores viessem desfigurar o universo gráfico dos Peanuts não se justificou. Dois dos três autores do argumento do filme são Craig Schulz e Bryan Schulz, respectivamente o filho e o neto de Charles M. Schulz. A estreia de “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts – O Filme” foi pensada para coincidir também com os 50 anos da primeira aparição televisiva dos Peanuts, “Feliz Natal, Charlie Brown”, e com os 65 anos da publicação da primeira tira da série. (Estreia: dia 24)

“45 Anos” (Andrew Haigh)

Charlotte Rampling e Tom Courtnay, os principais intérpretes deste drama realizado pelo inglês Andrew Haigh, ganharam os Ursos de Prata de Melhor Actriz e Melhor Actor no Festival de Berlim deste ano, e aquela acumulou o galardão berlinense com o de Melhor Actriz Europeia nos Prémios do Cinema Europeu. Rampling e Courtnay são Kate e Geoff Mercer, um casal que se prepara para comemorar os 45 anos de casamento, quando lhes chega uma estranha notícia da Suíça. O corpo de Katya, a primeira namorada de Geoff, dada como desaparecida nos Alpes meio século antes, foi encontrado perfeitamente preservado, numa fenda gelada das montanhas. Apesar de Katya estar morta, a notícia vem perturbar Kate de forma estranhamente doentia, afectando a relação entre o casal.
Estreia: dia 31.

“Diário de uma Criada de Quarto” (Benoît Jacquot)

Depois de Jean Renoir e de Luis Buñuel, e de uma versão muda rodada por um realizador russo em 1916, é agora Benoît Jacquot que adapta ao cinema o romance escrito por Octave Mirbeau em 1900, e que foi um succès de scandale na altura. É a história de Célestine, uma bela e ambiciosa jovem que vem da província para Paris, servir em casa da família Lanlaire, onde tem que esquivar os avanços do patrão e enfrentar a dureza autoritária da patroa, travando-se de amizade com Joseph, o jardineiro. O autor de “Sade” e “Adeus, Minha Rainha” queria Marion Cotillard para interpretar Célestine, mas o papel acabou por ir para Léa Seydoux, por indisponibilidade daquela. Vincent Lindon, Clotilde Mollet e Hervé Pierre completam o elenco.
Estreia: dia 31

“A Rapariga Dinamarquesa” (Tom Hooper)

O realizador de “o Discurso do Rei” assina este filme baseado no livro do escritor norte-americano David Ebershoff, uma abordagem ficcional e bastante livre da história do artista dinamarquês Einar Wegener, que nos anos 20 se transformou na primeira pessoa de que há registo a fazer uma operação para mudar de sexo, tornando-se numa mulher com o nome de Lili Elbe, tendo publicado a sua autobiografia em 1933, “Man Into Woman”. Eddie Redmayne interpreta Einar/Lili e Alicia Vikander a sua mulher, Gerda Wegner, um papel a que estiveram associados nomes como Charlize Theron, Gwyneth Paltrow e Marion Cottilard. Redmayne e Vikander foram nomeados para os Globos de Ouro de Melhor Actor e Actriz num Filme Dramático.
Estreia: dia 31.

“Creed: O Legado de Rocky” (Ryan Coogler)

“Oh, não, outro filme do Rocky?”, dirão alguns. A resposta é: sim, mas não é apenas mais um filme (o sétimo) da série “Rocky”. Esta realização de Ryan Coogler, o autor do sucesso independente “Fruitvale Station”, vencedor do Festival de Sundance em 2013, está a ser apontada pela crítica dos EUA não só como o melhor título desta saga pugilística desde o filme original de John G. Avildsen (1976), como também um dos melhores filmes sobre boxe, e passados no mundo do desporto, dos últimos anos, valendo a Sylvester Stallone uma nomeação de Melhor Actor Secundário nos Globos de Ouro. A história desta vez centra-se em Adonis Johnson (Michael B. Jordan), filho ilegítimo de Apollo Creed, o falecido rival e amigo do agora reformado Rocky, que o acolhe como pupilo e começa a treinar para um importante combate.
Estreia: dia 31.