“A posição do Governo em relação a estes assuntos é uma posição de proteção sem limites daquilo que são os interesses do país e dos portugueses“. Esta é a posição do Governo sobre o Banif e foi transmitida há duas semanas pelo próprio ministro das Finanças, Mário Centeno, durante a discussão do programa de Governo na Assembleia da República.
No domingo, o Governo veio garantir “confiança no sistema financeiro e plena proteção dos depositantes”. Contactados esta segunda-feira pelo Observador, PCP e BE não quiseram comentar o caso do dia.
Em resposta a uma questão do BE no Parlamento há duas semanas, o novo ministro esclarecera que o processo do Banif, tal como o do Novo Banco, “estão neste momento em discussão com a União Europeia e com o Banco Central Europeu”. Mas rebentou agora a surpresa desagradável que Costa avisou que os portugueses teriam e que o antigo Governo de direita não podia esconder mais.
Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, considerou no Parlamento que “não pode o Governo esconder-se no Banco de Portugal, nem o Banco de Portugal continuar a apresentar pela calada faturas cada vez mais pesadas aos contribuintes portugueses”.
Para o futuro, o ministro das Finanças traçou, contudo, um plano de ação sempre que se viva uma situação parecida ao que aconteceu com o BES. “O Governo e o Ministério das Finanças vão zelar pela estabilidade financeira e proteger os contribuintes portugueses dos custos. A posição do Governo em relação a estes assuntos é uma posição de proteção sem limites daquilo que são os interesses do país e dos portugueses”, respondeu Centeno.
A polémica sobre o Banif estalou entre esquerda e direita após a reunião entre PSD e CDS e os socialistas quando ainda se tentava encontrar um consenso de bloco central nos dias imediatamente seguintes às eleições de 4 de outubro (depois de o Presidente ter convidado Passos a formar um Governo duradouro).
Em entrevista à TVI24, António Costa queixou-se que a cada encontro com a direita esta foi deixando cair “uma surpresa desagradável que se vai tornar pública um dia”. Perante a insistência do jornalista se eram factos de “grande gravidade económica”, Costa respondeu que sim, mas não especificou.
“Acho que não devo [revelar]. Infelizmente os portugueses hão de saber porque há um limite para a capacidade do Governo omitir e esconder o país dados sobre a situação efetiva e real em que nos encontramos. Não digo isto com satisfação, digo isto com preocupação”, afirmou então António Costa.
Horas depois, o PSD reagiu com um comunicado assinado por Maria Luís Albuquerque. Desmentia qualquer omissão das contas públicas e garantia toda a transparência. Mas foi retificado. Minutos depois, o PSD enviou novo texto, acrescentando uma frase. Não foram comentadas quaisquer situações que não fossem do conhecimento público “como é o caso do processo de privatização da TAP ou a investigação aprofundada sobre o Banif iniciada pela Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia“. É a primeira vez que o nome do banco é mencionado. Mais tarde, o PS disse não compreender estes comunicados já que “a informação a que se refere o secretário-geral do PS foi transmitida em reuniões onde a dra. Maria Luís Albuquerque não esteve presente”.
Nos dias seguintes, o Banif registou quedas acentuadas das ações em bolsa, com vários especialistas a afirmarem que a incerteza política estava a prejudicar o desempenho deste banco.