“Ver” as mãos na escuridão

Claro que na ausência de luz é impossível “ver”, no sentido mais literal da palavra. Mas a verdade é que se consegue percecionar as mãos, mesmo no breu total. Se duvida, faça o teste: tire a luz do seu computador ou telemóvel (mas só por alguns segundos, depois volte ao Observador), feche as persianas, desligue a luz do candeeiro, vende os olhos (se quiser levar a experiência mesmo a sério) e agite as mãos em frente ao seu rosto.

Viu? Pois bem, quem comprovou esta capacidade humana (encontrada em 50% da amostra do estudo) foi a Universidade de Rochester através de várias fases de exercícios que envolveram 129 pessoas. O que se pode ler no site da própria instituição é que “os nossos próprios movimentos transmitem sinais sensoriais que também podem criar perceções visuais reais no cérebro, mesmo na ausência absoluta de entrada visual”. Esta capacidade é, provavelmente, inata: o cérebro passa a funcionar por previsão e, sendo assim, pode “ver” onde não há nada para ver de facto.

Saber a temperatura da água através do som

Mais concretamente, saber se está fria ou quente sem tocar nela (nem ouvir cubos de gelo ou água em ebulição). E ao contrário do que acontecia no exemplo acima, esta é uma capacidade que a grande maioria das pessoas tem: 96% das pessoas inquiridas no teste inicial acertaram na pergunta.

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Agora, chegou a sua vez de entrar na experiência. A seguir pode ouvir dois sons de água a entrar num copo: um corresponde a água quente e outro a água fria. A sua função é identificar qual das águas é a quente e a fria. Já tem os auriculares postos?

Vamos manter o mistério durante um pouco mais, enquanto lhe explicamos porque é que tanta gente é capaz de acertar neste desafio. Acontece que as moléculas da água movem-se de forma diferente de acordo com a temperatura a que se encontra a matéria. Quando a água está quente, as suas moléculas produzem um som mais suave. Quando a água está fria, as moléculas produzem um som mais cristalino.

Agora que já entendeu a ciência dos copos de água, eis a resposta correta: o primeiro copo tem água fria e o segundo copo tem água quente. Acertou?

Dar felicidade através do suor

Parece contraditório: ninguém fica exatamente feliz com o cheiro a transpiração do homem à nossa frente na fila do supermercado. A Universidade de Utrecht publicou um estudo no jornal Psychological Science, da Associação da Ciência Psicológica, onde afirma que “estar exposto ao suor produzido em estado de felicidade induz um simulacro de felicidade nos recetores e induz um contágio do estado emocional”.

Para chegar a estes resultados, os investigadores analisaram 12 homens sem qualquer tipo de vício. Também lhes foi pedido que não praticassem exercício físico nem atividade sexual e que comessem de forma saudáveldurante o estudo. A seguir, estes homens viram uma série de vídeos (que induziam determinados estados emocionais) e avaliaram alguns símbolos chineses de acordo com a sensação que lhes transmitiam. Depois, os cientistas recolheram amostras do suor de cada indivíduo.

A segunda parte do estudo envolveu a participação de 36 mulheres saudáveis física e psicologicamente. Estas mulheres colocaram o queixo numa plataforma e cheiraram o suor dos homens, expondo-se àquelas amostras com um intervalo entre elas de 5 minutos.

De acordo com o estudo, os vídeos tiveram mesmo influência no cheiro da transpiração, algo que podia ser detetado pelas mulheres. Ora, as mulheres que cheiraram a transpiração dos homens que viram vídeos assustadores tinham maior atividade do músculo médio-frontal, que está associado ao medo. As mulheres que cheiraram a transpiração dos homens que viram vídeos felizes tinham maior atividade nos músculos associados ao sorriso de Duchenne, isto é, ao sorriso honesto e espontâneo.

Cheirar o sistema imunitário dos outros

No nariz está parte do poder de um ser humano e há dois estudos que o afirmam. Um deles, do Instituto Karolinska, avança que as pessoas conseguem saber se alguém está doente ao detetar a atividade do sistema imunitário alheio. E essa habilidade surge poucas horas depois do recetor se expor às toxinas das bactérias.

Mats J. Olsson, o investigador que liderou o estudo (que envolveu a participação de 48 indivíduos), afirma que esta pode ser uma capacidade desenvolvida pelo ser humano para evitar o contágio de doenças mais perigosas. “A questão que fizemos a nós próprios neste estudo foi se essa adaptação pode existir em fases mais precoces da doença, refletindo portanto um biomarcador para doença”, escreveu o cientista.

Para poder responder à questão, os cientistas levaram 8 pessoas ao laboratório do instituto. Algumas foram injetadas com uma toxina produzida por uma bactéria (o que viria a desencadear uma resposta imunitária), enquanto outras foram injetadas com soro fisiológico. Todas elas vestiram t-shirts muito justas que absorveram o suor dos voluntários contendo as moléculas produzidas durante uma resposta imunitária de 4 horas pelos que foram injetadas com a toxina.

Estas t-shirts foram depois entregues a um grupo de 40 pessoas, cuja função era descrever o cheiro das blusas. A maior parte das pessoas deste grupo conseguiu identificar as t-shirts das pessoas infetadas com as toxinas da bactéria e afirmou que tinham um “cheiro não saudável”. Olsson acrescentou ainda que “a associação entre a ativação imunitária foi contabilizada, pelo menos em parte, pelo nível de citocina (uma hormona) presente no sangue exposto” à toxina bacteriana. Quanto maior a concentração de citocina, pior a descrição feita pelo grupo daquele cheiro.

Cheirar a idade dos outros

Da próxima vez que tiver aquela sensação de entrar numa casa e “cheirar a velho”, saiba que não é uma perceção completamente descabida. O Centro Monell publicou um estudo no jornal PLoS ONE onde sugere que as pessoas conseguem mesmo descobrir a idade dos outros através do odor corporal.

“À semelhança do que acontece com outros animais, os humanos podem extrair sinais dos odores corporais que nos permitem identificar a idade biológica”, explica o neurocientista Johan Lundström, um dos cientistas que investigou este fenómeno. Esta capacidade é benéfica para evitar contacto com doenças perigosas ou escolher parceiros, por exemplo.

Como é que os investigadores chegaram a estes dados? Os cientistas começaram por recolher o cheiro corporal de três faixas etárias: entre os 20 e os 30 anos (os considerados “novos” pelos investigadores), entre os 45 e os 55 anos (chamados de “meia-idade”) e entre os 75 e os 95 anos (chamados de “velhos”). Todos estes grupos, que tinham entre 12 e 16 pessoas, dormiram com a mesma camisa por cinco noites.

A seguir, os cientistas cortaram as camisas e colocaram amostras em caixas de vidro. Essas caixas foram entregues a 41 pessoas com idade compreendida entre os 20 e os 30 anos, que tinham a tarefa de prever a idade dos indivíduos a quem aqueles pedaços de tecido pertenciam. Os odores das “pessoas velhas” foram os mais fáceis de identificar, de acordo com os dados estatísticos dos investigadores, tendo sido descritos como “menos intensos, perto do neutro”.

Ouvir melhor debaixo de água

Em situações normais, uma pessoa consegue detetar o som com até 20 mil hertz de frequência. Uma capacidade que deixa muito a desejar, se pensarmos que os cães conseguem ouvir as frequências até 110 mil hertz.

Mas tudo muda quando damos um mergulho: quando entramos dentro de água, a capacidade auditiva humana pode aumentar até 10 vezes, tudo graças às leis da física. Há duas explicações para tal. A primeira: as ondas sonoras viajam com maior facilidade nos sólidos do que nos líquidos e com maior facilidade nos líquidos do que nos gases, por causa da distribuição molecular nestes estados da matéria.

E a segunda: quando estamos fora de água, as ondas sonoras fazem vibrar os órgãos entre o tímpano e a cóclea (no ouvido interno). Mas de acordo com o estudo da Marinha norte-americana (citado pelo U.S. News), debaixo de água as ondas sonoras não passam pelo ouvido externo e são detetadas de imediato pelo ouvido médio, fazendo vibrar o osso mastoide do crânio (o que está logo atrás da orelha), apurando a audição.