As eleições espanholas realizam-se dia 20 de dezembro mas um dos momentos mais esperados da antecâmara da votação ocorreu esta segunda-feira com o primeiro frente-a-frente entre os líderes do PP, o atual chefe de governo Mariano Rajoy, e do PSOE, Pedro Sánchez. Um debate duro, tenso, recheado de acusações e de viagens ao passado e com um moderador impávido e acompanhar os galhardetes como se de um jogo de ténis se tratasse. O vencedor? Os especialistas e os internautas dividem-se um pouco.

O momento de maior tensão surgiu quando o socialista Sánchez relembrou o caso Bárcenas, para dizer a Rajoy que este se devia ter “demitido há dois anos”: “Se você continua como presidente, o custo para a nossa democracia é enorme. O presidente tem que ser uma pessoa decente e você não o é”.

Estava dado o mote. E Rajoy, visivelmente irritado com esta acusação, não se ficou e atirou:

Eu sou um político honrado. Você é jovem e vai perder estas eleições, mas disso pode-se recuperar. Do que não se pode recuperar é da afirmação ruim, mesquinha e miserável que fez aqui. Se você tem algo contra mim, leve-me a tribunal”

E o líder do PP concluiu a resposta repetindo que Sánchez foi “ruim, mesquinho e miserável”. Mas a réplica de Rajoy não foi suficiente para o candidato do PSOE largar o osso da corrupção. Repetidamente o jovem político perguntou ao governante “porque é que você não se demitiu?” E a reação, invariavelmente, passava pela garantia de que “não fiz nada” e “sou uma uma pessoa honrada”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas antes deste episódio crispado, e onde o atual presidente do governo espanhol se sentiu mais desconfortável, a primeira parte do debate foi dedicada à situação económica e ao emprego em Espanha. E aqui o discurso dos dois lados tem algumas semelhanças a muitos outros. Mais concretamente aos debates portugueses nos últimos anos. É que o líder socialista e da oposição não concedeu espaço a Rajoy para argumentar com a melhoria da economia, que serviu de base em toda a sua campanha. E Rajoy respondia com a herança recebida dos… socialistas. Ora o opositor lançava para cima da mesa os cortes e a “amnistia fiscal aos amigos” deixando no ar, quase sempre, referências à corrupção alegadamente levada a cabo pelo atual governo:

“O senhor cortou em tudo menos na corrupção do seu partido.” Pedro Sánchez

“Na sua equação desse milagre económico tem de incluir o Bankia, que foi o resgate, que o senhor nega que existiu,” acusou Sánchez. E houve ou não resgate? Sánchez diz que sim pegando até em capas de jornais como o Financial Times e o El Pais para argumentar que o financiamento à banca foi mesmo um resgate financeiro necessário para salvar a economia espanhola. Rajoy, pelo contrário, diz que conseguiu salvar o setor financeiro que “vocês (os socialistas) deixaram à beira da quebra”.

“Com a direita não vamos recuperar os direitos”, afirmou Pedro Sánchez acusando depois Rajoy de ter “subido os impostos às classes médias e trabalhadoras”. E o político de 60 anos ripostava com um perentório “falso”. O jovem aspirante a governante não se deixava desanimar pelos desmentidos do adversário e pegou numa carta de uma habitante de Valladolid que dizia que tinha passado de receber 381 euros mensais para “a esmola de 31 euros”.

O debate

Nas sondagens online, Rajoy venceu folgadamente nas organizadas pelos jornais El Mundo, ABC e El Español e perdeu tangencialmente na promovida pelo El Pais.

No minuto final dedicado a cada candidato para se dirigir à Nação, os argumentos não fugiram muito aos utilizados durante a discussão e a campanha. Rajoy dedicou-se a falar no crescimento económico e na criação de emprego conseguida desde 2011 para depois afirmar que “somos uma grande nação” e que é necessário garantir o emprego, as pensões, o bem-estar social, a luta contra o terrorismo e a unidade nacional.

Pedro Sánchez, por sua vez, não tem dúvidas de que “Espanha precisa de uma mudança” para “combater a desigualdade provocada pelo atual governo” e para “acabar com a corrupção”. No fim, deixou a garantia: “O PSOE é a única alternativa para uma mudança real”.

Quem venceu o debate?

A resposta a esta pergunta divide-se um pouco por toda a imprensa espanhola. Pelo menos no jornal El Pais e na votação que o diário disponibilizou para os internautas escolheram um vencedor do embate, quem esteve melhor foi Pedro Sánchez. O líder socialista recolheu 48,73% dos votos dos leitores, tendo 46,23% destes terem escolhido o atual presidente do governo e candidato do PP. Uma vantagem magra num debate de parada e resposta que não deixou espaço a um vencedor claro.

Já em relação ao jornal El Español, na votação disponível através do Twitter, e que ainda não encerrou, Rajoy vai com uma vantagem de 64% contra os 36% dos socialistas.

O El Mundo também desafiou os leitores a eleger um vencedor do frente-a-frente. E a escolha recaiu também para Mariano Rajoy que recolheu 62% dos votos e o socialista ficou com os restantes 38%. O ABC utilizou o mesmo género de votação, que, neste caso, ainda não terminou. Aqui o vencedor é o mesmo. Mas a vantagem é maior: Rajoy segue com 78% e Sánchez com 16,7%. Aqui existe a opção “nenhum dos dois”, e esta conta com 5,3%.

Albert Rivera e Pablo Iglesias: “Espanha merece mais do que isto”

O líder do Ciudadanos e do Podemos foram os outros dois protagonistas do grande debate desta segunda-feira apesar de não terem estado sentados à mesa. Muitos especialistas na matéria dizem mesmo que estes foram os grandes vencedores do embate político a cinco dias das eleições.

Citado pelo El Mundo, Pablo Iglesias, líder do Podemos, diz que este “foi um debate a preto e branco. Vimos dois candidatos presos ao passado,” antes de explicar que “há uma maioria de espanhóis que não quer voltar a ver isto”. Já o candidato do Ciudadanos, Albert Rivera não tem dúvidas de que “Espanha merece outro tipo de debates. Este foi o último debate do bipartidismo”.

Na prática, Iglesias explica que os protagonistas “insultaram-se muito e caíram na lama, mas as pessoas conhecem estes partidos.” River aproveitou a deixa e reforçou que “Espanha não vai ser igual e ninguém na próxima legislatura vai pensar num debate como o de hoje, sem perguntas dos jornalistas”.

Nas redes sociais as reações também se multiplicaram. Mas o que já se está a tornar viral foi mesmo a atuação do moderador: