Estávamos algures entre 1872 e 1885. A data não é certa. Com a tecnologia pouco desenvolvida da época, o fotógrafo inglês Eadweard Muybridge já fazia História na sétima arte: com uma máquina que captava imagens em sequência, o inventor do zoopraxiscópio (já lhe explicamos, mais lá à frente, que máquina é esta) aproveitava as experiências na área da imagem em movimento para filmar o primeiro beijo do cinema. E protagonizava ainda outro feito: filmava pela primeira vez um beijo homossexual.

Muybridge - Plate 245

Créditos: Boston Public Library

Este último facto é mais especial hoje do que era no século XIX, sublinha o Arquivo de Muybridge: a nudez e as relações homossexuais entre homens eram na época altamente condenáveis pela sociedade, mas a orientação sexual não era algo que os vitorianos relacionassem com as mulheres. Era por isso que a homossexualidade entre mulheres não “preocupava” o público e este tipo de imagens não era tão condenável.

Como filmar um homem nu desrespeitava as regras sociais da época e Muybridge insistiu no nu, optou por duas mulheres. Esta série de imagens foi chamada de “The Kiss”.

Plate 444 - Kiss

Créditos: Boston Public Library

Eadweard Muybridge nasceu em 1830 numa freguesia londrina. Durante a sua vida dedicada ao estudo da imagem, este fotógrafo construiu o zoopraxiscópio – um dispositivo que colocava as imagens numa sequência para criar uma ilusão de movimento. Muybridge esteve a contas com a justiça pelo assassinato do major Harry Larkyns, com quem a mulher o traía e de quem pode ter tido um filho. Escapou da prisão, não graças ao facto de ter alegado insanidade mental, mas antes porque o tribunal considerou o crime “justificável”. Divorciaram-se, a mulher morreu, a criança foi entregue a um orfanato e Muybridge veio a morrer em 1904.

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