A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, vai ser julgada por alegada negligência cometida enquanto ministra das Finanças de França. O caso é antigo e ainda não é desta que termina. Os instrutores do conhecido “Caso Tapie” decidiram levar Lagarde a julgamento, contrariando a posição da Procuradoria-Geral da República. Contudo, o caso pode ainda dar algumas voltas, uma vez que os advogados da ex-ministra vão recorrer da decisão. Para já, tudo tranquilo no FMI, que mantém a confiança na atual diretora.

Em causa estará uma eventual negligência cometida por Christine Lagarde num diferendo que envolvia o empresário Bernard Tápie e o Crédit Lyonnais, e que se iniciou nos anos 1990. Tudo começou quando nos anos 90, a Adidas foi vendida pelo banco francês sem que Tápie tenha dado o consentimento. Em 2008, a pedido de Lagarde, o diferendo foi para o tribunal arbitral, que condenou o Crédit Lyonnais a indemnizar Tapie em 285 milhões de euros (400 milhões com juros), devido ao negócio de venda da Adidas, de que Tapie era o dono.

A decisão foi controversa, e, segundo o Financial Times, vários membros do governo francês da altura, liderado por Sarkozy (e no qual constava Christine Lagarde), foram suspeitos de terem interferido no processo e manipulado a decisão, em troca do apoio dado por Bernard Tapie a Sarkozy, nas eleições francesas do ano anterior (2007). Um dos mais críticos foi o então secretário-geral do Partido Socialista, Jean-Marc Ayrault (que viria a ser eleito primeiro-ministro).

Já este mês, o Tribunal de Recurso francês reverteu a decisão, numa sentença que obriga Bernard Tapie a devolver os cerca de 400 milhões de euros que recebeu de indemnização, acusando-o de “fraude organizada”.

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Agora, é Christine Lagarde que é visada no processo, acusada de negligência, por não ter contestado a decisão de 2008.

Perante a decisão dos instrutores de levarem a acusação a Lagarde a julgamento, os advogados da ex-ministra já anunciaram que vão recorrer de uma decisão que consideram “incompreensível”, avança o jornal francês Le Figaro. Tudo porque lembram que a decisão da Procuradoria-Geral da República tinha defendido que não havia argumentos para um julgamento e mesmo assim os instrutores insistem.

Apesar desta situação, o FMI mantém a confiança na diretora. O Conselho Executivo do FMI emitiu um comunicado onde é dito que o conselho “continua a expressar a sua confiança na capacidade da gestão da diretora [do FMI] no exercício eficaz das suas funções”.