No início deste ano foi publicado um estudo cujos resultados atribuíam grande parte da responsabilidade do aparecimento do cancro a processos celulares que tornavam alguns tecidos mais frequentemente cancerígenos do que outros. Ou seja, sugeria-se que o aparecimento de um cancro se devia, na sua generalidade, ao azar e ao acaso. E que a sua formação era relativamente resistente ao esforços de prevenção levados a cabo pelas pessoas e pelas autoridades.

Agora foi elaborada uma investigação que alega exatamente o contrário. Ou seja, neste caso afirma-se que a maioria dos casos de cancro resulta de fatores controláveis e evitáveis tais como a exposição a químicos tóxicos ou à radiação, tal como já se pensava.

Publicada na revista Nature, esta nova investigação da Universidade Stony Brook em Nova Iorque, sugere que o número de casos de cancro é demasiado elevado para ser explicado simplesmente pelas mutações que ocorrem naturalmente nas divisões celulares. Yusuf Hannum, investigador desta universidade nova-iorquina, diz mesmo, citado pelo Telegraph, que “as taxas da acumulação de mutações através de processos intrínsecos não são suficientes para dar conta dos riscos de cancro observados”.

Na prática, os investigadores pegaram no exemplo de trabalhos anteriores que mostraram como imigrantes que se dirigiam de países com uma baixa incidência cancerígena para países com maiores riscos desenvolviam as mesmas taxas da doença de acordo com o novo ambiente em que passavam a estar inseridos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A partir desta análise, os responsáveis pelo trabalho concluem que entre 7 a 9 em cada 10 cancros são causados por fatores externos e ambientais tais como o tabaco, o álcool, a exposição ao sol e a poluição. Ou seja, e mais especificamente, perto de 75% do risco de desenvolvimento de cancro do cólon ou retal explica-se através dos hábitos alimentares, concluiu o estudo. Para além disso, acredita-se que 86% dos riscos do cancro da pele sejam desenvolvidos pela exposição ao sol enquanto existe 75% de hipóteses de desenvolver cancro da cabeça e pescoço por via do abuso do tabaco ou do álcool.

Sobre a nova teoria Andrew D. Maynard, professor da Universidade do Arizona, explica que esta “análise não é definitiva, e há um número de suposições feitas que podem influenciar as conclusões que desenharam. No entanto, a conclusão de que os fatores externos são influentes em determinados riscos cancerígenos é suportada por observações e é consideravelmente reforçada pelos métodos utilizados”. Ou seja, para Maynard a equipa responsável pela investigação construíram “um caso convincente em que muitos cancros por mais do que apenas ‘má sorte'”.

Por sua vez, Paul Pharoah, professor de epidemiologia cancerígena na Universidade de Cambridge, diz que “estes resultados não têm quaisquer implicações no tratamento do cancro, mas dizem-nos que a maioria dos cancros podem ser podem ser evitados se soubéssemos todos os riscos extrínsecos que causam a doença”. Por isso, na opinião de Pharoah não existe, na verdade, nenhuma novidade em especial porque “nós já sabíamos que, para muitos cancros, alguns dos principais riscos são evitáveis”.