As mulheres queixam-se da falta de orgasmos e tendem a culpar-se ou a culpar o parceiro, dando quase por adquirido que os homens não sofrem desse problema e que “para eles é sempre bom”. Novidade: estão redondamente enganadas.

Segundo a sexóloga Vânia Beliz, “os machos no reino animal estão preparados, biologicamente, para se excitarem e ejacularem de forma a estarem prontos perante a oportunidade de acasalarem com as fêmeas. O homem é um animal racional mas toda a sua resposta biológica sexual tende a ter o mesmo objetivo. Ora, a diferença é que não temos sexo apenas para fins reprodutivos, fazemo-lo por prazer. Mas esta eficácia masculina também pode ser travada. Por disfunção ou dificuldade, alguns homens não conseguem ter prazer.”

Apesar de a ereção, a ejaculação e o orgasmo estarem habitualmente relacionados, é importante referir que estes três fenómenos são distintos. Enquanto o orgasmo ocorre no cérebro, a ejaculação ocorre na uretra posterior, próstata e vesículas seminais, sendo um refluxo medular. Em declarações ao Observador, a sexóloga explica:

“Achamos sempre que a ejaculação surge com o orgasmo, mas são coisas diferentes e existem homens que podem ter um orgasmo sem ejacular, e vice-versa.”

As disfunções a que a sexóloga se refere chamam-se anejaculação (ausência completa de ejaculado, estando conservada a sensação de orgasmo), ejaculação retrógrada (ausência total ou parcial de emissão de ejaculado) e ejaculação retardada, também chamada de incompetência ejaculatória e que se deve ao atraso ou inibição específica dos mecanismos de ejaculação. Em termos concretos, isto significa ter relações sexuais durante mais de 25 ou 30 minutos e continuar sem ser capaz de ter um orgasmo — tendo em conta que, em média, um homem tem um orgasmo entre os cinco e os 11 minutos.

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Segundo Chris McMahon, médico no Australian Centre for Sexual Health, em declarações à Fusion, estas disfunções ejaculatórias “são as menos comuns, menos estudadas e as menos compreendidas de todas as disfunções sexuais masculinas”. Estima-se que entre sete a 11 por cento dos homens sejam afetados, mas é difícil ter a certeza dos números reais porque muitos nunca foram diagnosticados.

Os homens que querem e não conseguem

Para Vânia Beliz, a inibição do orgasmo deve-se essencialmente a dois motivos: fatores psicológicos, como a ansiedade relacionada com o desempenho, ou patologias como a depressão e a medicação usada no seu tratamento, sendo que os ansiolíticos e os antidepressivos estão no topo dos fármacos que mais prejudicam o desejo e o orgasmo.

Relativamente à falta de ejaculação, as razões não diferem das anteriores: na lista estão fatores médicos e psicológicos, como a diabetes, stress, ansiedade, cirurgias (à próstata, principalmente), pouca sensibilidade nervosa ou defeitos de nascença. Os médicos acreditam que em três quartos dos casos os grandes responsáveis são os problemas psicológicos, visto que os homens são capazes de ejacular através da masturbação, por exemplo, mas não são capazes num contexto de relação sexual.

Há homens que são incapazes de atingir um orgasmo devido às técnicas de masturbação que utilizam. Segundo Mike Butcher, urologista da Universidade de Southern Illinois, “alguns homens adquirem hábitos de masturbação que tornam o orgasmo muito difícil através do sexo com outra pessoa. Por exemplo, quando os homens se masturbam com objetos, isso pode condicionar o orgasmo, que só surge se o pénis estiver dentro de algo específico que não seja o corpo humano. Cabe aos homens reaprenderem a ter orgasmos e apreciar a relação sexual sem as mesmas técnicas”.

Os homens que conseguem mas não querem

Há mais de três mil anos que os chineses acreditam que os homens podem ter vários orgasmos seguidos sem nunca ejacularem e, assim, aumentar a longevidade por não sentirem a fadiga que se segue à ejaculação (e que leva os franceses a chamaram ao momento do orgasmo la petite mort: a pequena morte).

Em dezembro de 1992, o jornal The New York Times publicou um estudo sobre os danos causados pela produção de esperma no organismo do homem que indicava que a ejaculação requer um desvio de recursos que pode vir a prejudicar a saúde masculina a longo prazo, sobretudo tendo em conta que, em média, um homem ejacula cinco mil vezes ao longo da vida.

Mas o adiar da ejaculação pode ser motivado pelo próprio prazer. Vânia Beliz relembra que os “tântricos treinam o orgasmo e o prazer sem ejacular”, e a verdade é que se acredita que os homens podem aprender a ter vários orgasmos consecutivos, mais intensos e fortes, substituindo o prazer momentâneo de uma ejaculação comum pelo do orgasmo múltiplo.

Simplificando muito, para que um homem atinja esse clímax prolongado precisa de ter orgasmos completos sem ejacular. Mesmo depois do primeiro orgasmo a ereção mantém-se e pode alcançar os restantes sem descansar, isto porque não havendo ejaculação, não há período refratário — logo, não há perda de ereção.