Na véspera das eleições gerais em Espanha, muitos espanhóis admitem que as negociações pós-eleitorais para formar governo se vão arrastar e ressalvam que os partidos não deixaram claro aos eleitores que opções aceitam ou não.

“Tal como está a situação, não sabemos com certeza o que vai acontecer. O que se passa aqui em Espanha é que vai decorrer um par de meses até que as coisas fiquem claras”, considerou um jovem estudante de gestão de empresas (marketing) à agência Lusa.

Para Sérgio, que estuda em Madrid, opções mais prováveis passam por um acordo entre o Ciudadanos e o PP ou uma aliança de esquerda entre PSOE e Podemos.

“Um acordo Ciudadanos-PP é a solução que temem todos os espanhóis. Quanto à aliança entre o PSOE e o Podemos creio que não terão votos suficientes para chegar à maioria”, salientou.

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A seu lado, Yaíssa, uma odontologista de 26 anos, sublinha que os partidos não foram nada claros quanto às soluções políticas que estão dispostos a aceitar para formar governo.

“Creio que deveriam ter feito jogo limpo e posto todas as cartas em cima da mesa antes para quem – como eu – teve de votar por correio soubesse de verdade o que estava a votar, e não ficar à espera das surpresas que provavelmente vamos ter daqui a um par de meses”, realçou.

Ainda assim, a jovem de Barcelona está convencida que Espanha voltará a ter “a mesma política antiga, velha e corrupta”.

“Não explicaram nada. Penso que o Podemos foi o único relativamente claro [quanto ao acordo que aceitaria para governar], mas o Ciudadanos ontem (sexta-feira) revolucionou meia Espanha com as declarações de Albert Rivera”, disse Yaíssa, numa referência ao facto de o líder do Ciudadanos ter admitido viabilizar um governo de Mariano Rajoy (PP) abstendo-se na votação para escolher o presidente.

Na dúvida sobre se fez a leitura correta dessas declarações, Yaíssa tem a certeza de uma coisa: “Sei de certeza que ele não foi claro quanto aos acordos que pretende fazer e penso que não é ‘limpo’ votar num partido que não deixou preto no branco o que quer fazer ?a posteriori'”.

“O que se pode passar em Espanha e passou em Portugal não me parece democrático”, concluiu, mencionando o acordo pós-eleitoral entre a esquerda portuguesa (PS, Bloco de Esquerda e PCP) para afastar o governo PSD/CDS.

Noutro ponto da cidade de Madrid, Júlio Morales, 75 anos, avisa ainda antes de começar a falar que é “um homem de direitas”.

“Aviso desde já que sou de direitas, por isso se não me quiseres fazer a entrevista? Mas não sou de ultra-direita”, ressalva.

Para este reformado de Madrid, a melhor solução seria um acordo do PP com o Ciudadanos, mas até admite um pacto entre os dois partidos tradicionais, o PP e o PSOE. Tudo para que não governe o Podemos de Pablo Iglesias.

“Se o Ciudadanos ´perder força’ pode ser que ganhem as esquerdas. O PSOE não seria tão perigoso, mas o Podemos para Espanha? Absolutamente não. Acordos a três sim, mas nunca com o Podemos. Eu afastaria essa hipótese.

Gostaria inclusive que os dois partidos maioritários (PP e PSOE) formassem Governo”, considerou Júlio Morales, de 75 anos.

Júlio vê “potencial” em Albert Rivera (Ciudadanos), mas desconfia que o partido “não tem equipa” para assumir funções num governo.

“A partir de segunda-feira virá o ‘namoro’ político. E creio que o Rajoy já sabe que vai contar com o apoio de Rivera. Mas farão todo o ‘namoro’ para retirar mais dividendos políticos.

A fumar um cigarro à porta da loja onde trabalha, Isabel – de 56 anos – assume-se como uma das “muitas indecisas”.

“Os partidos explicaram [as suas opções] à sua maneira, mas não me convenceram. Eu sou das pessoas que ainda estão indecisas. Não sei em quem vou votar, mas vou votar porque sou uma democrata”, desabafa.

Isabel até confessa que é simpatizante de um dos partidos tradicionais (PP ou PSOE), mas está certa de que não votará em nenhum deles.

“Estou convencida que os espanhóis estão fartos. O PP de Mariano Rajoy deverá ganhar, mas sem maioria. Já é uma derrota suficiente e isso assenta-lhe bem”, concluiu.