Stress. Uma discussão com um amigo, uma tarefa que se faz contrariado ou uma preocupação que desconcentra o suficiente para a produção ficar reduzida a uma percentagem mínima. Quantas vezes já teve de respirar fundo e contar até 10 para não explodir no trabalho, em casa ou na rua? “Engolir em seco” pode parecer a melhor solução para quando se levam “murros no estômago” – as situações são tão comuns como comuns são estas expressões populares – mas e se puder falar delas com estranhos?

Na Koko, pode escrever um desabafo como quem envia uma SMS. Abre a app e escreve o que está a sentir naquele momento. A 300 metros, 300 quilómetros, 3.000 quilómetros, ou 30 mil, alguém lê e responde. De forma positiva. Sabe apenas que é “de alguém” em Portugal, no Canadá ou em França. O objetivo é que a comunidade de estranhos ajude a ver o lado otimista de cada situação. Evitar a tristeza, promover o sentimento de partilha e ganhar com a situação, em vez de perder.

A aplicação móvel que Rob Morris desenvolveu para ajudar a manter as mentes sãs já é vista como a rede social em que (finalmente) não precisa de fingir que tem uma vida perfeita. É uma espécie de terapia de grupo virtual, que não substitui o aconselhamento médico especializado para as situações que o justifiquem, mas que pretende ajudar a lidar com as várias situações de stress do dia a dia. Está para já disponível apenas para iOS e é gratuita.

Apesar de Morris ter nascido em Silicon Valley, a poucos metros da casa onde Steve Jobs lançou a Apple, ter uma startup nunca foi o seu objetivo, conta a Fast Company. Era a mente que o fascinava. Foi quando decidiu tirar um doutoramento no MIT – Massachusetts Institute of Technology que o psicólogo teve de programar pela primeira vez. E precisou de ajuda. Quando escreveu os seus problemas na página Stack Overflow, foi ajudado por várias pessoas que não conhecia de lado nenhum.

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Comecei a pensar no que aconteceria se pudesse falar dos meus problemas com estranhos e eles pudessem ajudar-me a lembrar todas as interpretações possíveis para aquelas situações – que eu não estava a conseguir perceber porque estava em stress”, explicou Rob Morris à Wired. “Será que conseguiria escrever os pensamentos negativos que me estão a passar pela cabeça e cinco minutos depois ter o feedback de outras pessoas que me ajudasse ater uma visão mais positiva, racional e realista da situação?”, acrescentou.

Antes de lançar a Koko, Morris lançou uma rede social, a Panoply, que lhe permitiu testar clinicamente a teoria de apoio peer-to-peer (de pessoa para pessoa). Teoria testada, lançou a Koko, permitindo que cada utilizador escolha, quando entra na app, o tópico que o preocupa – escola, trabalho, relação, família – e escreve em poucas frases aquilo que está a perturbá-lo. As mensagens vão aparecer, depois, nas contas dos outros utilizadores, num formato tipo Tinder, deslizando o dedo. Quem quiser contribuir carrega no botão “Ajuda a repensar isto” e escreve uma mensagem de apoio.

Para Morris, o ato de dar apoio a estranhos é tão importante como o de receber, porque a saúde mental é uma espécie de músculo que precisa de ser exercitado com regularidade, para se fortalecer. A tecnologia foi desenvolvida com um algoritmo que permite identificar situações de alarme e que permitem que a equipa da Koko entre em contacto com os utilizadores em causa e adverte-os de que precisam de um aconselhamento especializado.

A Koko não está sozinha no universo das app que prometem uma melhor saúde mental, mas é preciso lembrar que nenhuma delas substitui a terapia especializada que algumas situações exigem. E nem todas se fazem acompanhar de estudos científicos. De entre as 27 aplicações registadas do serviço nacional de saúde norte-americano, 14 focam-se em perturbações de ansiedade e depressão. Apenas quatro estão fundamentadas com investigação científica. Mas se quiser apenas desabafar, talvez um estranho possa ajudar.