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A poucos dias de terminar o ano de 2015 e entrarmos em 2016, começam-se a fazer a retrospetiva do ano que agora termina. Mas e que tal olhar para os últimos 15 anos?
Para nos ajudar nisso, o Telegraph pegou num documento da CIA, do ano 2000, onde se especulava como seria o mundo 15 anos depois. Ou seja, em 2015. Em algumas matérias acertaram quase em cheio, noutras acertaram em parte e noutras nem lá perto estiveram. Mas vamos passo a passo:
- A revolução da Internet

Ethan Miller/Getty Images
Neste aspeto os especialistas da CIA acertaram em cheio. Estes previram que até 2015 iria ocorrer uma explosão digital e móvel que mudaria o mundo tal como o conhecíamos.
No documento estava assim: “A universal comunicação celular sem fios vai criar a maior transformação global desde a revolução industrial”. Ora, não é preciso estudar nem investigar muito para se perceber que, de facto, isto ocorreu. Aliás, se está a ler este artigo através do seu telemóvel, isso é um sinal dos tempos que vivemos. E uma prova de que a CIA tinha razão nesta matéria.
Mas os autores do estudo vão mais longe e especificam a previsão. Segundo eles esta revolução iria também ter consequências políticas. E no Médio Oriente. Parece que já sabiam que a Primavera Árabe ia acontecer.
- A explosão da biotecnologia

Getty Images
Aqui pode-se dizer que a CIA até acertou, mas apenas em parte. Previa-se que a utilização de órgãos criados artificialmente para realizar transplantes passaria a ser uma prática comum. Mais do que isso afirmava-se que os animais iriam ser clonados para fornecer mais carne, enquanto os terroristas utilizariam a evolução da biotecnologia para criar geneticamente novas doenças como arma.
Mas talvez a parte onde o erro foi maior, aconteceu na previsão de que os ricos iam utilizar este procedimento para aumentar a sua longevidade. Pelo que sabemos, isso não acontece…
- A ascensão, ou falta dela, da Rússia. E outras previsões da geopolítica internacional

Chip Somodevilla/Getty Images
Desde os tempos da Guerra Fria que a CIA guarda um espaço para a Rússia. Como não podia deixar de ser, quando se prevê o mundo 15 anos depois, há um capítulo dedicado ao país liderado por Vladimir Putin.
Os analistas da agência americana diziam que a Rússia ia reagir negativamente à perda de poder no panorama mundial e que passaria a utilizar as suas reservas de gás para recuperar o protagonismo.
Mas a CIA pensava que tudo isto resultaria no enfraquecimento da Rússia, devido à estratégia de diplomacia internacional baseada quase unicamente no poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Mas pelo contrário, Putin conseguiu mesmo que o país recuperasse protagonismo internacional, com um poderio militar que faz deste um protagonista em muitos dos conflitos por esse mundo fora.
Mas há mais falhas no que respeita à geopolítica. A CIA calculava que, em 2015, a Coreia do Norte e do Sul já se teriam reunificado bem como teria sido formado o Estado da Palestina em harmonia com Israel. Como se pode verificar nenhum destas situações aconteceu (embora a Palestina tenha já bandeira na sede da ONU e vários processos de aprovação iniciados pelo Ocidente).
Em relação a outro dos ‘inimigos de estimação’ da organização, a previsão também saiu um pouco ao lado: Fidel Castro continua vivo. Não de boa saúde, segundo muitos relatos, mas continua por cá, ao contrário do que previu a CIA.
- Crescimento populacional

China Photos/Getty Images
Neste aspeto o relatório acertou em parte. Isto porque, segundo as previsões, a população mundial iria crescer até aos 7 mil milhões sendo que iria crescer mais lentamente, ou até cair, na Rússia ou na Europa de leste. E nisto acertaram: a população na Rússia desceu desde 2000, como explica o Telegraph.
No entanto, erraram rotundamente em relação ao continente africano. Em vez de a população ter caído devido à epidemia da Sida, em alguns países na África subsaariana disparou.
- Crise demográfica no Ocidente
Tal como diz o jornal britânico basta um excerto do documento para se perceber que a CIA acertou em cheio:
A taxa de diminuição de trabalhadores e aposentados afetará os serviços sociais, pensões e sistemas de saúde. Os governos vão procurar resolver o problema através de medidas como adiar a reforma, incentivo a uma maior participação das mulheres no mercado de trabalho, e confiança nos trabalhadores migrantes”.
É, pelo menos, parecido com o que vivemos hoje. Mas há mais:
A imigração vai complicar a integração política e social: alguns partidos políticos vão continuar a mobilizar o sentimento popular contra os migrantes, protestando contra a pressão sobre os serviços sociais e as dificuldades de assimilação”.
Um assunto muito em voga nos dias que correm. E este?
Os países europeus e o Japão vão enfrentar dilemas difíceis na tentativa de conciliar a proteção das fronteiras nacionais e a identidade cultural com a necessidade de abordar os crescentes desequilíbrios demográficos e no mercado de trabalho”.
Provavelmente nem seria necessário o veredicto. Mas, neste caso, a CIA acertou.
- Situação financeira
Se no ponto anterior a CIA acertou um toda a linha, neste nem por sombras:
A economia global está bem posicionada para atingir um período sustentado de dinamismo até 2015 (…) O crescimento económico global vai voltar aos níveis atingidos na década de 60 e início de 70″, lê-se no relatório.
De facto, o documento considera a possibilidade de uma crise financeira, mas a avaliar pela previsão financeira para 2015, os analistas estavam um pouco longe de adivinhar a dimensão do que vinha a caminho.
- Terrorismo
Este é o tema que tem marcado a atualidade mundial nos últimos tempos. E é um dos campos de especialidade da CIA. Por isso, o relatório expressava alguma preocupação pela possível evolução dos ataques terroristas tornando-se mais sofisticados e letais. Este facto iria ser confirmado um ano depois da elaboração do documento. Mais concretamente no dia 11 de setembro de 2001.
O surgimento de grupos terroristas como o Estado Islâmico, mais mortíferos e mais radicais na sua ação, dão igualmente razão ao relatório da agência norte-americana. No entanto, e apesar de alguns relatos nesse sentido, a utilização generalizada de armas químicas, biológicas e nucleares por parte destes grupos não se verifica.