A autobiografia que Morrissey lançou em 2013 foi polémica antes mesmo de ser publicada: mal saiu a informação de que seria editada pela Penguin Classics, cujas publicações são normalmente reservadas a grandes clássicos da literatura, as opiniões dividiram-se. Os fãs mais acérrimos acharam bem, defendendo a qualidade de Morrissey como escritor (a partir das letras que escreveu para os Smiths), e os seus maiores detratores olharam para a obra de forma desdenhosa, torcendo o nariz em antecipação.

O jornal espanhol El País fez uma lista com conselhos deixados por Morrissey nessa sua autobiografia, onde, para além de explicar o homem que foi e é, justifica também as suas opções de vida, de forma veemente. Conheça os cinco principais em baixo:

1 – Não coma carne

Os gemidos de um bezerro podiam ser um choro humano / enquanto se aproxima a faca, gritando / esta linda criatura tem de morrer / esta linda criatura tem de morrer / uma morte sem razão que a justifique / e uma morte sem razão é um homicídio“, cantava Morrissey em “Meat is murder”, canção título do segundo álbum dos Smiths. O vegetarianismo do cantor e compositor britânico é um dos seus cavalos de batalha: isso mesmo puderam testemunhar aqueles que estiveram presentes no concerto de Morrissey no Coliseu dos Recreios, a 6 de outubro de 2014, presentados então com imagens de touradas onde o touro saía vencedor do confronto com os humanos.

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Morrissey não se recusa apenas a comer carne ou peixe. Mais que isso, mostra-se repugnado com o “depravado espetáculo” que é ver alguém fazê-lo, como conta o El País. Em 2002, no filme documental “The importance of being Morissey”, equiparava comer carne a abusar sexualmente de menores. Para si, o ato de matar um animal para o comer está “ao mesmo nível moral do abuso de menores. É a mesma coisa. Os animais são como as crianças, vêm ter connosco à procura de proteção. O nosso dever é protegê-los”, defendia, em declarações citadas pelo jornal espanhol. Na sua autobiografia, recorda um encontro que teve com Jake Walters (o único parceiro que teve conhecido publicamente) num restaurante em que servem ao seu namorado o que descreve como “algo que se assemelhava a um prato de comida para cães”:

“De repente, chegas ao ponto em que já não podes conviver com ele, e a única forma de protesto que te resta para honrar o animal [morto] é abandonar o local. (…) Ninguém pode estar tão esfomeado que tenha necessidade de arrebatar a vida de um animal para se sentir satisfeito (…) É um hábito, [é] preguiça, e nada mais” (p. 274)

2 – Despreze os políticos (em especial Thatcher, Blair e os monarcas)

O ódio de Morrissey a Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro” do Reino Unido, é outro dos aspetos mais conhecidos e polémicos da sua personalidade. Assim o mostra na sua autobiografia:

“Nem dama, nem de ferro (…). Ávida de poder, deleita-se a destruir os mineiros [referência à forma como a então primeira-ministra britânica reprimiu as greves feitas pelos mineiros ingleses, nos anos 1980] (…). A sua influência demoníaca ensombra a alma perdida de Inglaterra” (p. 143 e 144)

Mas Margaret Thatcher não é o único alvo de Morrissey entre os políticos britânicos: a rainha Isabel II “é uma ditadora”, que só sabe “tirar dinheiro ao povo inglês” e a família real, no geral, é vista por Morrissey como “gente desprezível”. Nem Tony Blair, ex-líder do Partido Trabalhista (e crítico do atual líder dos trabalhistas britânicos, Jeremy Corbyn, pelo seu “radicalismo de esquerda”), fica imune aos ataques: no filme “The importance of being Morissey”, afirmava que gostaria de futebol “se fosse Tony Blair a ser pontapeado [pelos jogadores], em vez de ser um objeto esférico [a bola]”. O conselho? Digamos que o que se pode extrair é um apelo aos leitores: critiquem forte e feio aqueles de quem não gostem, e nunca se calem.

3 – Cuidado com a roupa e com o calçado

“É claro que toda a gente deve ser julgado pela sua roupa. Todos sabemos que não é correto, mas não importa” é o mote de Morrissey. Portanto, é preciso cuidado. A começar pelo calçado – “calçar os sapatos errados pode arruinar-te a vida” – e a acabar nos casacos de fazenda: algo que o cantor britânico acha hediondo:

“Sou absolutamente incapaz de conversar com alguém que tenha um casaco de fazenda vestido, seja quem for, tenham as intenções que tiverem… ou que tenham um corte de cabelo repugnante, sou incapaz de suportar uma conversa com alguém assim”, diz, em declarações citadas pelo jornal El País

4 – Se for homem, não use cabelo comprido

Morrissey também diz que o penteado de alguém é essencial. “Se tiveres um mau penteado, toda a tua vida será má. Um novo penteado pode mudar por completo a tua visão da vida e as tuas ideias políticas… O pelo governa o corpo… É um facto irrefutável”, defende o músico em Autobiografia, segundo o El País. E diz mais: “O cabelo comprido é uma ofensa imperdoável, que devia dar pena de morte [neles]”.

5 – Fuja das discotecas

Burn down the disco / Hang the blessed DJ / Because the music that they constantly play / It says nothing about my life” canta Morrissey em “Panic”. O seu desprezo pelas discotecas (e pela música eletrónica em geral) sempre foi grande. Na obra reafirma-o, quando descreve uma experiência horrível para si: a inauguração da Hacienda, uma discoteca famosa de Manchester nos anos 1980. E já nos idos anos 1990 (em 1992, para ser mais preciso) mostrava a sua repugnância com as discotecas: estas, dizia, “são refúgios para deficientes mentais. [Refúgios] feitos por gente imbecil, para gente imbecil”.