Muda-se o líder, mudam-se as vontades. Mas não muda o alvo a abater: o PS. Paulo Portas deu o mote e os centristas seguiram-lhe as pisadas: se o objetivo é voltar a pôr o centro-direita no poder então todos concordam que terá de ser sempre pela via da soma das partes, PSD mais CDS, mesmo que ambos os partidos estejam oficialmente separados e com total autonomia. Mesmo sem Portas, com o PS de António Costa é que não haverá aproximações. “O adversário do CDS é o PS e o Governo do PS, independentemente de quem venha a ser o líder isso não vai mudar”, resumiu ao Observador o deputado João Rebelo. “O PS nunca poderá contar com o apoio do CDS para governar”, acrescenta o ex-ministro da Economia, António Pires de Lima.

O tema, apurou o Observador, foi falado na reunião da comissão política de segunda-feira à noite. Telmo Correia foi uma das vozes que se levantou para afastar qualquer cenário de aproximação do CDS aos socialistas na entrada do novo ciclo político. Sem Paulo Portas, e sem coligação com o PSD, muito vai mudar na estratégia do partido mas essa mudança, todos concordam, não passa por um reposicionamento do CDS nem por novos piscares de olhos no quadro político. A coligação que funcionou nos últimos quatro anos “morreu”, mas será sempre ao PSD que o CDS se irá aproximar para devolver a maioria ao centro direita, defende Pires de Lima.

Portas já o tinha dito claramente, num dos argumentos que ontem deixou para justificar a não recandidatura: o novo ciclo político que se abriu com a maioria de esquerda indica que o CDS só voltará a ser governo com uma “maioria absoluta” dos dois partidos da direita e que, por isso, “o voto útil será muito mais relevante”. No caminho, e deixando claro que não se iria meter na sua sucessão, deixou alguns recados para a postura que o partido terá de adotar. Disse que o alvo continua a ser a “oposição ao Executivo de António Costa” e que “os portugueses darão mais valor a um partido que não é calculista e não é demagogo”.

Certo é que, como afirmou Pires de Lima em declarações ao Observador, Portas sempre foi o “seguro” de vida do CDS e, com a sua saída de cena, o partido vai para fora de pé e sai da sua “zona de conforto”. Mas a palavra de ordem ouvida pelo Observador de várias fontes centristas é “renovar” e “atualizar”, mantendo o “respeito pelo passado”. “Em 1998 [com a chegada de Paula Portas], o CDS renovou-se e atualizou o seu discurso e estratégia política. Agora é preciso fazer esse exercício outra vez, adaptando-o à realidade atual”, resumiu ao Observador o dirigente, e ex-secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes.

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PS virou o jogo, CDS não responde na mesma moeda

Os dados foram lançados e a nova maioria de esquerda no Parlamento – e no Governo – baralhou e deu de forma nunca antes dada. O novo ciclo político que agora começou tem regras novas mas os centristas acreditam que não devem jogar com base nelas: ao “taticismo” de Costa devem responder com “sensatez”; ao “idealismo” do PS devem responder com “pragmatismo”. Ou seja, não devem responder na mesma moeda.

“A nova esquerda tem apostado num discurso muito ideológico que trouxe muita tática para o debate político. Mas o CDS deve responder a isso com sensatez e pragmatismo, dando respostas aos problemas das pessoas e focando-se nas propostas concretas”, defende Adolfo Mesquita Nunes, acrescentando ao mesmo tempo que o CDS, com ou sem Portas, não vai ser “complacente” com o Governo socialista. “A melhor forma de o combater é respondendo com uma moeda diferente”, diz.

A ideia é não centrar o debate na doutrina ideológica dos partidos, nem apontar o dedo a quem fugiu ao centro ou a quem virou à direita, mas sim deixar que a atuação concreta do partido espelhe qual é a sua ideologia, e não o contrário. É necessário, segundo reforçou o deputado João Rebelo em conversa com o Observador, fazer uma aposta num “discurso mais pragmático, abandonando o discurso mais dogmático e doutrinário”.

Um lugar vazio ao centro para ocupar

“O partido do contribuinte, do reformado, já está esgotado, é preciso olhar para o país e para o partido com uma visão para uma década ou duas”, defende igualmente o deputado Manuel Isaac, que não hesita em dizer que as mudanças que o partido terá de fazer nesta rota de viragem são ao nível da redefinição do discurso e do reposicionamento do partido no único lugar que entretanto ficou mais vazio: o centro.

“Fala-se há muito tempo no surgimento de um novo partido ao centro, esta é a oportunidade do CDS se regenerar nesse sentido, podendo ocupar esse espaço”, disse ao Observado, rejeitando no entanto a ideia de que isso implique uma aproximação ao PS, muito menos ao PS de António Costa, a quem o deputado centrista diz ter a certeza que nenhum líder vai dar a mão.

No próximo dia 8 de janeiro o partido reúne o Conselho Nacional para marcar a data do congresso que irá eleger o novo líder e discutir as moções de estratégia que serão apresentadas. O calendário é apertado e três meses deverá ser o tempo que o CDS terá para se reorganizar.