O desaparecimento de cinco livreiros em Hong Kong associados à publicação de obras críticas do Partido Comunista da China tem desencadeado uma onda de revolta e preocupação face à suspeita de que foram ilegalmente detidos pelas autoridades da China.

Aproximadamente meia centena de pessoas, incluindo figuras públicas como deputados, manifestaram-se, este domingo, junto ao Gabinete de Ligação da República Popular da China em Hong Kong para exigir respostas sobre o paradeiro dos desaparecidos e pedindo uma investigação aos desaparecimentos.

O mais recente caso envolve Lee Bo, um dos responsáveis da livraria Causeway Books — onde se podem encontrar obras críticas do regime e do Partido Comunista chinês e, portanto, popular entre muitos turistas provenientes do interior da China, dado que lhes veem vedado o acesso a este tipo de leituras.

Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez na quarta-feira, dia 30 de dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que tem lugar semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas.

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Gui Minhai, que tem passaporte sueco, dono da casa editora, desapareceu enquanto estava de férias na Tailândia em meados de outubro. O mesmo aconteceu a três outros associados à livraria ou à editora (Lam Wing-kei, Lui Bo e Cheung Jiping) depois de terem visitado, separadamente, o interior da China.

A mulher de Lee Bo afirmou que o marido lhe telefonou a partir da cidade vizinha de Shenzhen na noite em que desapareceu, tendo-lhe dito que “estava a colaborar com a investigação” relativa aos colegas desaparecidos, e achou estranho que tenha falado em mandarim em vez de cantonês (falado em Hong Kong).

Os misteriosos desaparecimentos despertaram em Hong Kong o receio de que as autoridades chinesas tenham recorrido a agentes clandestinos para proceder à detenção dos cinco livreiros, o que, a ser verdade, constituiria uma flagrante violação do princípio “Um País, dois sistemas” da Região Administrativa Especial chinesa que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.

O secretário para a Segurança em exercício John Lee Ka-chiu afirmou que a polícia estava a conduzir uma investigação “aprofundada e profissional”, incluindo visualizar as imagens das câmaras de vigilância em torno da livraria onde o livreiro foi visto pela última vez e também examinar as últimas pessoas com as quais contactou.

“Através de um mecanismo estabelecido, a polícia de Hong Kong pode apresentar questões às agências de aplicação da lei do interior da China sobre se houve pessoas de Hong Kong que foram detidas” lá, afirmou o mesmo responsável, ao garantir: “A polícia de Hong Kong já fez isto (…) Estamos à espera de uma resposta”.

A ativista Agnes Chow, de 19 anos, do movimento estudantil ‘Scholarism’ — um dos grupos que participou nos protestos pró-democracia do ‘Occuppy’ — publicou um vídeo apelando a uma maior cobertura por parte do caso dos cinco livreiros desaparecidos dos ‘media’ internacionais que se tornou viral.

A livraria Causeway Books, entretanto de portas fechadas, vende obras muito críticas do regime comunista, proibidos no interior da China.