O Irão acusou a Arábia Saudita de provocar o aumento das tensões na região e de tentar resolver os seus problemas internos criando problemas no exterior, depois de o reino ter anunciado o corte de relações diplomáticas com o Irão.

O conflito começou com o anúncio da execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr, no sábado, juntamente com outros 46 prisioneiros, na sua maioria sunitas considerados extremistas pelas autoridades sauditas, na que foi a maior execução em massa na Arábia Saudita nas últimas décadas.

O Governo do reino estava sob pressão para executar vários militantes da al-Qaeda envolvidos numa revolta violenta entre 2003 e 2006, que estavam presos desde então, com várias altas figuras a acusar as autoridades do reino de estarem a ceder e a permitir a criação de uma nova geração de extremistas recrutáveis pelo Estado Islâmico.

Nimr al-Nimr foi condenado à morte em outubro de 2014, acusado de promover a intervenção externa no reino e de desobediência aos líderes da Arábia Saudita. Ainda assim, a sua execução tomou muitos de surpresa, incluindo a família do clérigo (o sobrinho ainda não foi executado, mas continua preso).

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O resultado veio sob a forma de protestos da população xiita em vários países, de Teerão a Beirute, na sua maioria pacíficos. No entanto, a embaixada saudita em Mashhad, a segunda maior cidade iraniana, foi atacada com bombas incendiárias e invadida pelos manifestantes na noite de sábado.

Em consequência, a Arábia Saudita decidiu cortar relações diplomáticas com o Irão e deu 48 horas aos diplomatas iranianos para saírem do reino, prazo que termina no final do dia de hoje. Antes, o líder supremo do Irão, o Ayatollah Ali Khamenei, ameaçou a Arábia Saudita, dizendo que a execução do clérigo seria vingada por mão divina.

Agora, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão acusa a Arábia Saudita de tentar provocar conflitos no exterior para desviar atenções para os seus próprios problemas.

O porta-voz da diplomacia iraniana diz que o incidente de sábado com a embaixada saudita em Mashhad não é inédito e que, ao cortar relações entre os dois países, a Arábia Saudita está a “continuar uma politica de aumento das tensões e confrontos na região”.

O governo iraniano garante que sempre protegeu as missões diplomáticas para garantir a sua segurança e que sempre lidou com as transgressões. O Presidente do Irão, Hassan Rouhani, também condenou no domingo a violência como “totalmente injustificada” e anunciou a detenção de 44 pessoas relacionadas com o incidente.

Não é a primeira vez que a Arábia Saudita corta relações diplomáticas com o Irão. Em 1988, aconteceu o mesmo na sequência de um ataque à sua embaixada, que deixou um diplomata ferido. Só três anos depois, em 1991, as relações foram reatadas.

As relações voltaram a dar um passo atrás este ano, em setembro, durante a peregrinação anual a Meca (o Hajj), na Arábia Saudita, o local mais importante de culto do Islão, quando uma debandada provocou a morte de centenas de pessoas. O Irão criticou violentamente a forma com a Arábia Saudita lidou com a situação.

A isto acresce ainda a liderança da Arábia Saudita do cartel mais poderoso do mundo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), cuja influência tem garantido que a produção se mantém inalterada mesmo com os preços baixos, o que está a prejudicar países mais dependentes, como é o caso do Irão.

Mas o maior conflito tem sido pela liderança da região, através do conflito sírio. O Irão, de maioria e liderança xiita, tem sido um acérrimo defensor do regime de Bashar al Assad, enquanto a Arábia Saudita, de maioria sunita e de orientação salafista, está no extremo oposto.