Os investimentos no mercado moçambicano serão “certamente vantajosos”, apesar da contração prevista para o início deste ano, disse hoje à Lusa o embaixador português em Moçambique, que destacou o papel da comunidade portuguesa na criação de emprego local.

“Não tenho a menor dúvida de que aquele é um mercado que merece a pena ser estudado e observado de perto, onde os investimentos serão certamente vantajosos”, defendeu o embaixador José Augusto Duarte, que hoje recebeu o prémio de Melhor Embaixador Económico do Ano.

A distinção, atribuída pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, é entregue hoje no Museu do Oriente, onde decorre até quarta-feira o Seminário Diplomático, encontro anual dos embaixadores portugueses com membros do Governo e representantes da sociedade civil, da academia e do mundo empresarial, promovido pelo ministério dos Negócios Estrangeiros.

“Temos tido uma crescente presença portuguesa no mercado moçambicano, quer nas exportações quer no investimento de capitais portugueses em Moçambique”, adiantou o diplomata.

Apesar de as instituições internacionais apontarem para uma retração, pelo menos até ao final do primeiro trimestre deste ano, “a economia moçambicana tem perspetivas fantásticas de crescimento, é um país muito grande e com população grande, são 25 milhões de habitantes”, disse, acrescentando: “É um mercado que não pode ser esquecido, abandonado, apenas por um ano mais complicado”.

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José Augusto Duarte, há quase três anos em Moçambique, acredita que “a questão económica, provavelmente, será mais importante para a presença e atração de capitais portugueses do que propriamente a questão política, se ela se mantiver na situação atual”, sublinhando que os portugueses em Moçambique – cerca de 23 mil – sempre mantiveram “distância completa” relativamente à situação política interna.

Entre 2013 e 2014, durante o conflito armado entre as forças governamentais e as forças paramilitares da Renamo, o embaixador não viu “nenhuma empresa com intenções de abandonar o país, apesar da contração económica” que então se verificava, recordou.

O diplomata destacou o papel da comunidade portuguesa em Moçambique que, apesar da sua pequena dimensão, é a comunidade estrangeira que cria mais postos de trabalho para a população local, devido ao “tipo de investimento, sobretudo de pequenas e médias empresas” (PME), existindo ainda investimento português “de grande monta”, em áreas como a banca, florestal, seguros e serviços ou construção civil.

Sobre o prémio que hoje recebe, o embaixador afirmou: “Fiz aquilo que era a minha obrigação profissional, com o maior entusiasmo e a maior devoção possível”.

“A diplomacia económica, promover e valorizar a comunidade portuguesa, as empresas e os produtos portugueses no mercado moçambicano é de alguma forma promover as próprias relações institucionais entre os dois Estados, criar interesses comuns e parcerias entre ambas as nações, contribuindo assim para unir e aproximar mais estes dois povos”, disse.

Quanto ao destino dos 25 mil euros do prémio, o embaixador revelou à Lusa que serão aplicados “em ações de promoção das empresas portuguesas de nichos menos conhecidos, como as novas tecnologias e a inovação”.

O diplomata pretende ainda fazer “mais ações de formação exclusivamente destinadas aos investidores portugueses sobre os mais diversos aspetos da economia moçambicana por forma a aumentar o seu conhecimento e competitividade”, além de promover “vários encontros entre empresas portuguesas com investimento em Moçambique por forma a desenvolver novas parcerias” e realizar um “trabalho contínuo de divulgação e valorização da nossa economia e das nossas empresas junto dos moçambicanos promovendo a criação de novas parcerias”.

Em declarações à Lusa, o secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), Pedro Madeira Rodrigues, enumerou as razões da escolha do embaixador em Moçambique para receber o prémio de Melhor Embaixador Económico do Ano: “o acompanhamento mais próximo que fez de investimentos de empresas portuguesas em Moçambique, com uma série de reuniões com entidades portuguesas e moçambicanas, o apoio ao investimento das nossas PME em Moçambique, que estava parado e que passou a avançar, a participação em negociações de vários projetos”.

“O embaixador fez um papel extraordinário junto de um conjunto de empresas portuguesas, algumas que já lá estavam, e outras que foram para lá”, sustentou o responsável da Câmara de Comércio, para quem “a situação política mais conturbada” que aquele país tem atravessado “faz com que o papel que o embaixador tenha desempenhado talvez tivesse até sobressaído mais”.

O prémio Francisco de Melo e Torres (prestigiado diplomata português do século XVII) é entregue este ano pela terceira vez e a Câmara de Comércio afirma que a recetividade junto dos diplomatas tem sido cada vez melhor, depois de alguma “estranheza” por ver uma distinção com origem no mundo empresarial.

O júri do prémio é presidido pelo embaixador António Monteiro, contando ainda com Bruno Bobone, presidente da CCIP, e Miguel Horta e Costa, vice-presidente da CCIP.

Nas edições anteriores, os distinguidos foram, em 2013, o embaixador Francisco Ribeiro Telles, então em Brasília, e, no ano passado, o chefe da missão portuguesa na Alemanha, Luís de Almeida Sampaio.