A vida ensina que as alturas em que mais se aprende não são nas que estamos bem. É nas alturas más, aquelas em que uma pessoa se engana, a vida mais se põe a jeito de dar umas lições. O futebol faz parte da vida e, portanto, quando se cometem erros com a bola a rolar espera-se que sejam esses os momentos que mais servirão para se aprender. Por isso, e seguindo a linha de raciocínio, é tão anormal que uma equipa deixe, num jogo, entrar na baliza mais de metade dos golos que sofre em 15, como é normal que ele sirva para se “aprender alguma coisa”. Até Jorge Jesus viu isto como algo “natural”.

Ninguém mais que o treinador terá achado desnaturada a forma como a equipa não soube reagir a perdas de bola — e a um adversário que sabia ser bem rápido a aproveitar roubos para chegar à baliza de Rui Patrício. Aconteceu várias vezes em Braga e em quatro delas os minhotos foram tão velozes a decidirem o que fazer à bola que inventaram os quatro golos da eliminação do Sporting da Taça de Portugal. O espetáculo de um 4-3 para o adepto que vê foi reconhecido por quem viu o resultado como um tormento.

Por isso JJ disse que aprendeu coisas com o que lhe aconteceu, mas o problema, pelos vistos, não era a rapidez com que os minhotos aproveitam as bolas recuperadas. Nem a tal transição defensiva (de que os treinadores tanto falam) dos leões após a perderem. Era, simplesmente, a reação da equipa à velocidade com que o Braga fazia tudo. Os primeiros 15 minutos do reencontro para o campeonato mostraram-nos, porque rara foi a jogada em que a equipa soube lidar com as corridas de Rui Fonte, Wilson Eduardo ou Rafa. Os minhotos tentavam, logo ao primeiro passe, colocar qualquer bola na frente e nos pés de um destes três e na altura em que os leões atinaram com esta intenção já podiam estar a queixar-se de um golo sofrido (e logo ao primeiro minuto, num remate de Wilson).

Os leões perceberam que arriscar era só mesmo perto da baliza de Kritciuk e que mais valia terem médios e avançados bem juntos, lá na frente, para apertarem logo os minhotos mal perdessem a bola. Isto foi resultado, em parte porque o Braga defendia perto da área, em parte porque a equipa aproximou Adrien de João Mário para os passes funcionário. O segundo teve uma oportunidade para marcar (14’), não tão boa quanto a de Slimani (28’), que quis vestir um chapéu que o guarda-redes adivinhou quando Bryan Ruiz o isolou à frenta da baliza com um passe a rasgar. E ainda houve tempo para Paulo Oliveira dar uma cabeçada na bola que a atirou para o poste (35’) antes de a estratégia dos minhotos resultar.

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Aos 40’ soltaram quatro flechas para a área e não souberam lidar com a corrida de Baiano, que cruzou a bola e ainda foi ganhar o ressalto vindo da cabeça de William. Os leões ficaram a olhar enquanto Wilson Eduardo reagia para rematar de primeira e bater Rui Patrício. O 1-0 aparecia do ex-leão e irmão de um atual leão que já marcara em Braga, no jogo da Taça. Não festejou e, cinco minutos depois, Rafa celebraria pelos dois quando aproveitou um buraco de espaço à entrada da área para receber a bola e usufruir de um outro. Paulo Oliveira tinha ido fechar perto de Naldo e, como João Pereira não fez o mesmo, abriu a porta para o português arrancar área dentro e desviar com classe à saída de Rui Patrício.

Sporting vs SC Braga

Nunca o Sporting estivera a perder por 2-0 em Alvalade, ao intervalo, frente aos minhotos, e esta era a segunda vez que e via em desvantagem no campeonato. Jesus falou no balneário, os jogadores ouviram e Gelson Martins entrou para dar à equipa uma opção de passe em profundidade, à direita, e cruzar toda e qualquer bola que lhe fosse parar aos pés. Os leões subiram uns degraus na escada da intensidade e uma dos éne cruzamentos com que Gelson fez o que lhe pediram bateu na mão esquerda de André Pinto — que estava fora da área mas com o braço esticado para dentro dela. Priiim, penálti para o Sporting e o terceiro marcado esta época para Adrien Silva. O 1-0 aparecia ao mesmo tempo que Fredy Montero entrava em campo.

O Sporting animava-se e o Braga encostava-se, de vez, à sua área. Os médios do Sporting encostavam à frente para reaverem rápido as bolas perdidas e os minhotos arriscavam menos no posicionamento em campo. A chuva e a bola molhada não convinham a Ruiz, que se foi mantendo mais perto da lateral esquerda e “esticando” o campo para a equipa, enquanto Montero ia espreitando à entrada da área para desviar atenções de Slimani. Os leões apertavam e cansavam-se a tentar cansar o adversário e isso notou-se quando, aos 76’, o colombiano interrompeu um remate de Jefferson para, na área, ser ele a rematar a bola para golo. O 2-2 chegava e os leões pareciam estar quase de rastos pelo esforço de, desta vez, serem eles a pregar uma partida.

Os erros da primeira parte eram o proveito da segunda e os minhotos mal atacavam com rapidez. Os ataques dos leões tinham cada vez menos passes e tabelas, as pernas já não corriam tanto quanto a cabeça pensava em fazer coisas. Mas não precisavam, pelo menos as de Bryan Ruiz. Aos 90’, o costa-riquenho encostou-se à linha lateral e, mesmo a mais de 30 metros de Slimani, teve tino no pé esquerdo para tirar um cruzamento que enviou a bola direita à cabeça do argelino. O 13.º golo no campeonato do avançado foi o 3-2 para o Sporting e garantia de três coisas: a primeira reviravolta dos leões na liga, o evitar da segunda derrota e a vingança do jogo da Taça. E mais uma — a de que a equipa tinha aprendido com os erros. Os adeptos do Sporting pensaram na coisa de outro ângulo, como mostrou uma tarja esticada na bancada, no final do jogo. “Jesus, as atua lições rebentam com eles.”

P.S. E houve mais uma garantia: a que diz que, esta época, jogos entre o Sporting e o Braga, pelos vistos, dão espetáculo.