Marques Mendes, comentador do Jornal da Noite na SIC, disse este domingo que há uma “desvalorização do cargo presidencial” porque “qualquer um acha que pode lá chegar”. Numa análise dos três principais candidatos – Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém -, todos terão saído a ganhar nos debates, mas esta semana Nóvoa esteve melhor que Belém. Mal, mal, e com “um grande potencial para a asneira” tem estado, para Marques Mendes, o ministro da Educação.

“É a primeira vez que temos tantos candidatos”, disse Marques Mendes. “E os debates demonstraram que alguns não têm os mínimos exigíveis para exercer uma função tão importante. Isto é um sinal de que há desprestígio das instituições, nomeadamente da Presidência da República.”

Referindo-se aos numerosos debates presidenciais, o ex-líder do Partido Social Democrata considera que esta “overdose de debates não ajuda a esclarecer”. Pelo contrário, “banaliza e satura”.

Numa análise particular dos três principais candidatos – Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém – disse que “o objetivo de Marcelo e dos outros era radicalmente diferente”. Marcelo Rebelo de Sousa, “como vai muito, muito à frente nas sondagens, o objetivo era não perder, não era propriamente ganhar”, afirmou Marques Mendes. O candidato tem como objetivo “ganhar a eleição à primeira volta” e “nenhuma sondagem o dá abaixo dos 50%”, mas “se a abstenção for alta, Marcelo vai ser prejudicado”.

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Já para Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém “o objetivo era radicalizar, atacar Marcelo e mostrar qual dos dois conseguia bater mais o pé aquele vai à frente [Marcelo Rebelo de Sousa]”. “No final do debate todos saíram satisfeitos”, conclui Marques Mendes. “Marcelo saiu satisfeito porque não perdeu, [logo] cumpriu o seu objetivo. E Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém obrigaram o Marcelo, que estava mais à defesa, a contra-atacar — objetivo deles de bater o pé foi conseguido.”

Mas o confronto entre Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém foi um pouco diferente do confronto com Marcelo Rebelo de Sousa, porque ambos disputam o mesmo eleitorado e ambos lutam por ficar em segundo lugar, mas estão empatados nas sondagens.

No debate entre estes dois candidatos, para Marques Mendes, Nóvoa esteve melhor que Belém. Ele apelou mais ao lado político, ela ao lado pessoal. Ele radicalizou-se mais à esquerda, ela apresentou-se como mais moderada. “Sampaio da Nóvoa tem um objetivo claro: quer ser a esquerda das esquerdas para esvaziar o PCP e o Bloco”, disse Marques Mendes, acrescentando que se isso agora pode ser uma vantagem, numa segunda volta pode alienar o eleitorado mais moderado.

Marques Mendes considera que Sampaio da Nóvoa está muito confiante, porque está a esvaziar a esquerda. Já Maria de Belém teve uma semana má – “irritou-se muito”. Pior, prometeu convidar os líderes de outros países a almoçar num lar de idosos, o que para Marques Mendes é “do domínio do ridículo”, atitudes deste tipo são um “sinal de desespero”.

O ministro da Educação tem “um grande potencial para a asneira”

Mudando para outro assunto da atualidade, Marques Mendes afirmou, com um tom crescente de irritação, que “o que está a acontecer em matéria de educação é muito preocupante”.

“Considero globalmente muito equilibrado este Governo, mas o ministro da Educação é uma exceção a este equilíbrio: é um grande potencial para a asneira”, afirmou o antigo líder do PSD.

Primeiro critica a forma como se acabam de uma só vez com os exames do 4º e 6º ano. “Esta decisão foi tomada com base em que estudo? Nenhum. Esta decisão foi tomada na base de que debate? Nenhum. Ou seja, foi tudo na base de palpites”, afirmou o comentador. “Uma matéria que deve ser bem estudada, bem pensada, bem refletiva, não é. É tudo na base de palpites e de pressões políticas.”

A segunda critica vai para a tomada de decisão a meio do ano letivo, que classifica como uma “falta de respeito por professores e diretores de escola”. A decisão poderia ser tomada agora e ter efeito apenas a partir do próximo ano, afirmou Marques Mendes.

Por fim, o comentador não entende como é que num dia o Conselho Nacional de Educação dá um parecer e no dia seguinte o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, em vez de se reunir com estes especialistas, anuncia uma série de medidas contrárias ao parecer. “Acho que isto é uma brincadeira do ministro da Educação”, afirmou indignado.

“Tudo isto é feito em cima do joelho, de improviso, na base do palpite. E isto legitima que venha um próximo governo daqui a um ano, ou dois, ou três, ou seja quando for e, na base de outro palpite, acaba com isto.”

Com 15 alterações significativas feitas nos últimos 16 anos, a escola e a educação são vítimas de um “regime de experimentalismo” em que “os estudantes são as cobaias”. Encontrar a estabilidade para a educação poderia ser “uma boa tarefa para o Presidente da República”, finaliza o comentador.