Fim de tarde no estádio Mestalla, em Valência. Domingo, 1.º de dezembro de 2013. O clube Che não é mais o das finais da Champions (é verdade, perdeu-as todas, com o Bayern e o Real Madrid; mas disputou-as, o que não é para qualquer um) na viragem do século, não é mais o Valência de Rafa Benítez, campeão na La Liga sempre hegemónica de Barça e Real. A época de 2013/2014 foi das piores que há memória no Valência: 8.º lugar, com Djukic ao leme.

Jonas, nessa tarde de dezembro, fez um hat-trick. E fê-lo em somente nove minutos, entre os 44 e os 53′ – naturalmente, com o intervalo pelo meio.

No Brasil, sobretudo com a camisola do Grémio de Porto Alegre sobre os ombros, ganhou um epíteto: o de “Pistolas”. E ganhou-o à força de golos. Golos em barda: 72 disparos certeiros em 131 jogos que “calçou”. No verão de 2014, e ao fim de quatro épocas no Valência, disse-se dele que era, não um “Pistolas”, mas um viejo. Não foi experiente – afinal, só tinha 30 anos à época – que lhe chamaram; foi velho. Velhadas. Acabado. Com os pés para a cova — futebolisticamente falando, entenda-se.

Viajou de Valência para Lisboa, para o Benfica, desatou a marcar golos como sempre fez, e deixou certamente os adeptos do Valência (é que por muito que Rodrigo, Paco Alcácer ou Negredo sejam avançados de valia, não marcam em Espanha o que Jonas marcou – e continua a marcar em Portugal) arrependidos de tão desbocados que foram.

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Hoje, na Choupana, sem o nevoeiro de domingo – ele mostrar, mostrou-se, mas o vento tratou de levá-lo de volta à serra – e à hora de almoço, Jonas fez um hat-trick. Não é que nunca o tenha feito com a camisola do Benfica – fez um contra o Covilhã, em 2014/2015. Mas a verdade é que desde esse Valência-Osasuna, em finais de 2013, que não precisava de tão pouco tempo para fazer três golos. Na Madeira demorou 40′ — e uns pozinhos. Mais importante: Jonas fez o seu 18.º em somente 17 jogos na presente edição da Liga. Mais importante ainda: caminha a passos largos (ou a golos marcados) para se tornar uma lenda na Luz. Porquê? É que só Torres (58), Julinho (54) ou José Águas (52) fizeram mais golos do que Jonas (38) nos primeiros 44 jogos realizados pelo Benfica.

O jogo da Madeira não foi só de Jonas. Mitroglou também marcou, Soares chegou a empatar para o Nacional, mas o que se viu sobretudo foi muita tremideira. De um e de outro lado. Mas se a do Nacional, talvez pelo horário madrugador, até é compreensível no começo, a do Benfica, e mesmo depois de estar a vencer, não se compreende. E não é de hoje que o Benfica desacelera quando se vê perfeitamente que, acelerando, “despacha” com o jogo em três tempos.

O Nacional cresceu, tanto no fim da 1.ª parte como no recomeço, Manuel Machado mexeu na tática, fê-la mais voltada ao ataque, mas a manta (e entenda-se “manta” por qualidade de quem joga) é curta e, ao tapar as orelhas na frente, destapou os pés atrás. Mas elogie-se a vontade de querer vencer de Machado. E elogie-se, claro, Jonas, que mesmo com a defesa do Benfica (sobretudo Jardel e Lisandro) a querer ser também “Pistolas”, mas de tiros nos pés, puxou a culatra atrás e fez golos de toda a forma e feitio: de cabeça, colocadíssimo ao ângulo; veloz, na antecipação ao primeiro poste; e de classe, com o interior da canhota, ao segundo.

Na área, e quando o jogo está complicado por culpa alheia, ele é mais do que um “Pistolas”: é um abre-latas. Repense-se, pois, o epíteto. Ou não. Afinal, “abre-latas” não tem tanta pinta como “Pistolas”.