O clube tem uma história a transbordar de canecos. O clube tem há anos um presidente que deseja ter na equipa os melhores jogadores do mundo (e tem alguns deles). Por isso já houve um tempo em que se chamava de galácticos a quem jogava neste clube, pela quantidade de zeros se via nos cheques de compra. É o clube que, este século, aumentou por quatro vezes a parada na escala das transferências mais caras de sempre no futebol — os 62 milhões para Luís Figo (2000), os 75 milhões gastos em Zinedine Zidane (2003), os 106 milhões usados em Cristiano (2009) e os 118 milhões para ir buscar Gareth Bale (2012). Este clube viciado em pagar muito para ter o melhor é o Real Madrid e é este clube que, na próxima temporada, estará proibido de contratar seja quem for.

Não é o único. Na mesma cidade há outro clube, o rival mais modesto, que também gosta de comprar e gastar os milhões de euros que tem a menos que o Real nos cofres para tentar ser mais e melhor que os merengues no relvado. É o clube que mesmo assim ainda gastou pouco mais de 140 milhões de euros esta época a comprar jogadores para se intrometer no meio do duopólio — entre Real Madrid e Barcelona — que há anos é a liga espanhola. Este clube é o Atlético de Madrid.

E o que junta estes clubes é que ambos violaram as regras da FIFA e andaram a transferir jogadores com menos de 18 anos, algo que a entidade não permite. Por isso a FIFA decidiu, esta quinta-feira, proibir o Real e o Atlético de inscreverem novos jogadores nas duas próximas janelas de transferências (agosto de 2016 e janeiro de 2017). Ou seja, os dois maiores clubes de Madrid não poderão ir às compras em 2016/17. Ou melhor, poderão, só que os futebolistas que comprarem terão de ficar a aquecer no forno enquanto a sanção perdurar — como sucedeu com Arda Turan e Aleix Vidal, o turco e o espanhol que o Barça comprou no último verão e que tiveram de esperar até 1 de janeiro para poderem ser inscritos porque o clube estava a cumprir um castigo semelhante.

Em comunicado, a FIFA explicou que investigou os casos de “jogadores menores que participaram em competições com os clubes” em vários períodos: entre 2007 e 2014 com o Atlético de Madrid, e entre 2005 e 2014 com o Real Madrid. Além da proibição de inscrever novos jogadores, os colchoneros terão de pagar uma multa de 822 mil euros e os merengues uma de 328 mil euros.

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Real Madrid's Portuguese forward Cristiano Ronaldo (L) vies with Atletico Madrid's French forward Antoine Griezmann during the Spanish league football match Club Atletico de Madrid vs Real Madrid CF at the Vicente Calderon stadium in Madrid on October 4, 2015. AFP PHOTO/ JAVIER SORIANO (Photo credit should read JAVIER SORIANO/AFP/Getty Images)

Foto: JAVIER SORIANO/AFP/Getty Images

Há uma forma de ambos amenizarem a sanção, embora tenham de antecipar futuras necessidades e precaver problemas.

A proibição imposta pela FIFA “não afeta o atual período de registo” de jogadores porque “foi iniciada antes das decisões serem notificadas”. Por isso os clubes têm até às 23h59 de 31 de janeiro para pensarem na equipa que pretendem ter até ao final de 2016/17, encherem os sacos de compras e inscreverem novos jogadores. Restam 17 dias até ao fecho da atual janela de transferências e esse é o tempo que Real e Atlético de Madrid terão para planear a próxima época e o que ainda resta desta.

O problema, além de estarem um ano sem poder acrescentar jogadores à equipa, é que pelo meio haverá o Europeu, competições onde não há jogador que não queira dar nas vistas. Um Campeonato da Europa já valeu transferências milionárias e saltos de trampolim para as carreiras de muitos futebolistas, mas não deverá haver muitos que quererão ser contratados para depois passarem uma temporada sem calçar as chuteiras num jogo oficial — embora haja sempre a hipótese de serem emprestados. Moral da proibição, o Real Madrid de Ronaldo e Pepe e o Atlético de Madrid de Tiago estão tramados.