“Podemos, é certo, ter demasiado açúcar na nossa sociedade – como o consumismo – mas não estamos a ser envenenados por um deserto de sal“. Esta é a imagem utilizada pelo Cardeal George Pell, chefe do secretariado da Economia da Santa Sé. Aproveitando um discurso público em Roma, o responsável do Vaticano diz que “não existe, neste momento, um modelo melhor” do que a economia de mercado, que foi eficaz em “rejuvenescer” a sociedade do pós-Grande Depressão nos EUA.

As declarações de George Pell, citadas pelo Financial Times, parecem contrastar com posições defendidas recentemente pelo Papa Francisco, que em várias ocasiões se insurgiu contra o capitalismo desenfreado que, na sua opinião, prolifera nas sociedades modernas. “Gosto de citar Maggie [Margaret] Thatcher quando ela dizia que se o Bom Samaritano não tivesse capital não teria conseguido pagar os tratamentos do homem que foi assaltado e sovado no caminho para Jericó”, notou George Pell, recordando a conhecida parábola bíblica.

A imprensa internacional citou, em julho, o Papa Francisco como tendo dito que o capitalismo era “o estrume do diabo“. As declarações exatas do Papa Francisco sugerem que a expressão foi usada não numa análise ao capitalismo mas à “perseguição desenfreada do dinheiro”, em que o “serviço ao bem comum fica para trás”.

George Pell tem uma leitura diferente das declarações do Papa:

Todos conhecemos muito bem o compromisso do Papa com a justiça social, a sua defesa dos pobres e dos marginalizados, e as suas críticas à exploração, ao abuso e ao consumismo. O que não é tão amplamente conhecido que o Papa Francisco, ele próprio, já fez referências concretas e favoráveis ao papel e à importância dos negócios e da economia.

O chefe das Finanças do Vaticano recorda que o Papa Francisco disse em junho que a atividade empresarial era uma “vocação nobre” e, em visita aos EUA, elogiou o “espírito empreendedor” e a sua importância para uma economia sustentável.

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