Em 2010, mais de 200 países e territórios declararam ter pescado cerca de 77 milhões de toneladas de peixe, mas os números oficiais parecem ser diferentes dos reais: cerca de 109 milhões de toneladas de peixe, segundo os investigadores da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá). Esta diferença de cerca de 30% no pescado total foi identificada num artigo publicado na Nature Communications. Mais, as quantidades globais de pescado têm sido subestimadas entre 1950 e 2010 onde a diferença entre os dois registos ultrapassa os 50%.

“Este trabalho revelador confirma que estamos a tirar mais peixe dos nossos oceanos do que os dados oficiais sugerem. Já não é aceitável assinalar como zero nos registos oficiais a pesca artesanal e de subsistência e a pesca acessória”, disse, em comunicado de imprensa, Joshua Reichert, vice-presidente executivo e diretor das iniciativas para a Fundação Pew que apoiou a investigação.

Os autores do estudo acusam os Governos de só informarem a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sobre os dados que receberam e não tentarem encontrar dados adicionais. Naturalmente que as pescas ilegais não são declaradas, mas também não é declarada a quantidade de pescado que resulta da pesca artesanal, da de subsistência ou da pesca recreativa. Nem mesmo o pescado que é desperdiçado ainda no mar.

Para os investigadores, não seria difícil identificar situações em que a pesca não é declarada. Se a população de um país consome pescado, mas não o importa, nem o declara nos relatórios oficiais, é porque usa outros recursos, como a pesca artesanal.

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Como agravante, a FAO não tem como missão corrigir os dados que recebe. Se os relatórios de cada país apresentarem campos sem dados ou com “zero”, a organização não faz uma reflexão sobre os dados em falta nem tenta inferi-los.

“O mundo está a retirar peixe de uma ‘conta conjunta’ sem saber o que já foi retirado ou o que permanece em equilíbrio. Melhores estimativas da quantidade que pescamos podem ajudar a assegurar que há peixe suficiente para nos manter no futuro”, disse Daniel Pauly, primeiro autor do estudo, citado em comunicado de imprensa.

Para a FAO a quantidade de pescado tem diminuído desde 1996, mas o investigador principal do projeto Sea Around Us disse, em conferência de imprensa, que os dados que possuem lhes dizem que a quantidade de pescado está em declínio desde essa altura – as frotas limitaram-se a passar de uma espécie para outra ou a mudar os locais de pesca à medida que iam esgotando o recurso. Provavelmente, a FAO baseia as conclusões nos dados oficiais e a pesca industrial parece ter realmente ter estado a diminuir a quantidade de pescado, referiram os autores.

Daniel Pauly assegurou que as conclusões deste artigo foram baseadas em mais de 200 de trabalhos de investigação, feitos por mais de 100 colaboradores, ao longo de 10 anos.

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