A história não é recente mas as suspeitas voltaram em força: será o Podemos financiado pelo governo iraniano? O El Confidencial revelou na passada quarta-feira que as autoridades espanholas estão a investigar os fundos recebidos pelo partido de Pablo Iglesias através de uma produtora iraniana sediada em Espanha e da HispanTV — uma televisão pública iraniana que emite um programa com o líder do Podemos.

Segundo o El Confidencial, Iglesias e o Podemos terão recebido dinheiro da estação (93 mil euros no caso do primeiro, entre 2013 e 2015; mais de 5 milhões de euros no caso do partido) — o que estreita a relação entre a força política espanhola e o regime ditatorial iraniano. As informações, contudo, são variadas: se o El Confidencial e o ABC sugerem que o Podemos está a ser investigado pelas autoridades espanholas, o Público cita fontes que afirmam que não existe qualquer investigação em curso.

Estando a ser investigado ou não, e podendo ser legal ou ilegal, o certo é que já foi admitido por Pablo Iglesias na sua declaração de rendimentos de 2013, onde declarou ter recebido 70 mil euros brutos pelo seu salário de professor interino da universidade Complutense de Madrid e pelo seu trabalho de apresentador do programa “Fort Apache”, da dita estação iraniana.

Este ano, o líder do Podemos declarou ter recebido o dobro do que declarou em 2014: cerca de 108 mil euros, dos quais, segundo o El País, 49 mil correspondem à venda de livros e à apresentação do programa La Tuerka (programa que Enrique Riobóo, proprietário da estação madrilena Canal 33, onde o programa é emitido, diz ser financiado pela Venezuela e pelo Irão). Desses 108 mil euros, o líder do Podemos destinou mais de 40 mil euros (cerca de 4 mil euros por mês) para o financiamento do partido que lidera, revela o El País.

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O facto do líder do Podemos aceitar receber dinheiro da estação televisiva (e, indiretamente, do regime iraniano) foi explicado pelo próprio, num encontro que teve em 2013 com várias juventudes comunistas espanholas. Aí, o líder do Podemos admitia que o regime iraniano tinha interesse no crescimento do seu partido — e que o Podemos se aproveitava desse interesse:

Muita gente pode dizer: mas se vocês são de esquerda porque é que aceitam fazer um programa [Fort Apache] para um governo como o do Irão, que é uma teocracia? (…) A geopolítica é assim, e não vamos ser os únicos imbecis que não fazemos política enquanto todos a fazem. (…) Aos iranianos interessa que seja difundido um discurso de esquerda na América Latina e em Espanha, porque [isso] afeta os seus adversários [do Irão]. Aproveitamos isso ou não?

Já em 2012 Pablo Iglesias havia comentado o facto de ter um programa e de ser pago por uma estação afeta ao regime iraniano. Aí, o diagnóstico que traçou desse regime foi muito duro – é um regime que “assassina comunistas”, disse. Mas isso não impedia a colaboração: “A política é assim. Quem quer que faça política tem de assumir o horrível cenário das contradições”, explicava.

Texto editado por Helena Pereira