O novo filme do realizador mexicano Alejandro González Iñárritu, “The Revenant: O Renascido”, centra-se num guia de caçadores de peles e comerciantes que, durante uma expedição, é atacado por um urso tendo sido deixado morrer por dois dos seus colegas de caça. Aqui inicia-se uma incrível história de sobrevivência e vingança. No entanto não é a primeira vez que a história de Hugh Glass é retratada. E, ao longo dos anos, algo exagerada desviando-a da verdadeira realidade.

Apesar de tudo, e juntando todos os relatos existentes sobre o que de facto se passou com Hugh Glass, é possível juntar as peças sobre a verdadeira história do caçador – nem que seja composta apenas por pinceladas de verdade.

Em 1915 John Neihardt escrevia o poema “The Song of Hugh Glass” e Frederick Manfred publicava, em 1954, o romance “Lord Grizzly” enquanto que em 1970  o realizador Richard C. Sarafian filmava  “Um Homem na Solidão”. Todas são obras baseadas na mesma história.

(E se não quiser saber a história antes de ver o filme não leia mais a partir daqui).

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Um retrato de Hug Glass datado de 1830

A história de Hugh Glass, é bem diferente da do seu primo, o político e exímio caçador Davy Crockett que se tornou num herói americano no século XIX. Glass era, no fundo, apenas, um típico caçador do Oeste americano.

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Sabe-se pouco sobre ele. O Telegraph conta que uma carta escrita por ele aos pais de um colega caçador, a informar de que o filho tinha sido morto pela tribo nativo-americana Arikara, sobreviveu ao passar dos anos e é um dos poucos registos encontrados. Para além disso, o seu nome é mencionado nos documentos de superiores descrevendo-o como um empregado desafiante e difícil de lidar.

Mas aquilo que tornou a vida de Glass conhecida foi ter sofrido um ataque de um urso. Como em qualquer conto, quem o contou terá acrescentado um ponto. Mas a verdade é que logo a seguir ao ocorrido já os relatos davam a volta aos Estados Unidos através dos jornais e das conversas.

Não houve ninguém que tivesse testemunhado o ataque, mas este ocorreu em 1823 algures nas margens do Rio Missouri, onde Glass se deparou com um urso pardo e as suas duas crias. Perante o homem, o animal avançou tendo perfurado o pescoço e fraturado uma perna ao caçador. Ao ouvir os gritos desesperados, o resto da equipa deslocou-se ao local onde tiveram que matar o urso com as espingardas que levavam.

Hugh Glass estava gravemente ferido e parecia estar à beira da morte, até que foi decidido que dois elementos do grupo deveriam ficar com a vítima do ataque, até que morresse, para lhe oferecer um funeral cristão digno. Estes dois que ficaram para trás eram John Fitzgerald e Jim Bridger, representados também no filme do realizador mexicano.

Fitzgerald e Bridger assim o fizeram. Mas apenas por dois dias, porque Glass resistia aos graves ferimentos e porque, o resto da equipa se afastava cada vez mais. Assim, e por receio de se virem a perder no meio do mato, em vez de ficarem para enterrar Glass deixaram-no e seguiram caminho. Glass voltou a si, olhou em volta e percebeu que se encontrava sozinho.

A partir daqui a história pode ter sofrido alguns exageros. Gravemente ferido, o caçador reuniu energia e iniciou uma heróica busca de seis semanas por abrigo. Sobre este período são relatadas, nas várias obras, as mais variadas versões: numa diz-se que Glass matou uma cascavel para lhe servir de alimento ou que acordou com um urso a lamber-lhe as feridas. A distância que percorreu aumentou também das dezenas para as centenas de quilómetros consoante a obra.

Depois de passar por tudo isto, o herói encontra mesmo o par que o deixou a morrer sozinho. Mas, no final, em vez da vingança, Glass concede o perdão.