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O estado do tempo é das mais frequentes desculpas para não ir votar. É uma má justificação. As mesas de voto, tanto quanto se sabe, não estão montadas ao ar livre. O clima não costuma impedir ninguém de sair de casa para realizar as atividades preferidas, pelo que também não deve servir para ignorar as eleições. Mesmo que se lamente o facto de não estar tempo para ir à praia, existem solários para os fanáticos do bronzeado, que obrigam a uma deslocação. E há guarda-chuvas para quem sofre de preguiça ou tem receio de ficar molhado. Ora, o AccuWeather, site de referência quando o tema são os humores meteorológicos, garante que o céu estará nublado em Lisboa e muito nublado no Porto durante o fim de semana. No resto do país não há-de ser muito diferente. Vá lá. Mexa-se, agasalhe-se e vá votar.

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Desde 1976, ano em que a Constituição foi aprovada, houve sete revisões do texto da Lei Fundamental. Os poderes do Presidente da República foram alterados, mas nunca, durante o regime democrático, o papel do Chefe de Estado ficou reduzido a mera figura decorativa. O poder mais conhecido é aquele que, na gíria política, recebeu o carimbo de “bomba atómica”, isto é, a possibilidade de o Presidente dissolver a Assembleia da República, com a consequente queda do Governo e a convocação de eleições legislativas. Mas há mais situações que justificam por que motivo o regime democrático português é qualificado como semi-presidencialista. Por isto, o seu voto não conta apenas para decidir quem vai figurar na próxima tela que eternizará o próximo inquilino do Palácio de Belém.

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Incentivar a participação de mulheres na vida política é uma matéria que tem estado quase sempre presente no debate público. A avaliar pela lista de candidatos à Presidência da República, a persistência está a dar frutos. No boletim de voto que lhe vai ser entregue, há duas propostas femininas. Desde a primeira volta das eleições presidenciais de 1986, quando Maria de Lurdes Pintasilgo se apresentou na competição frente a Mário Soares, Francisco Salgado Zenha e Diogo Freitas do Amaral, só houve caras masculinas nos papelinhos que são entregues aos eleitores nas mesas de voto. Está a borrifar-se para estas questões da igualdade de género? Não interessa. Participe num acto eleitoral que, só pelo facto de ter duas mulheres a concorrer, já é histórico.

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Nunca, em perto de 42 anos de democracia, houve tantos candidatos ao lugar de topo na hierarquia constitucional portuguesa. O facto pode ter criado dificuldades em circunstâncias como a organização e moderação dos debates televisivos. Mas de um aspeto ninguém se pode queixar. Jamais houve tanto por onde escolher e, se refletir bem, talvez exista algum candidato que vá ao encontro das suas simpatias, mesmo que parcialmente. De resto, não há grandes razões de queixa, a não ser que seja uma daquelas pessoas permanentemente insatisfeitas. Se forem apenas dois são poucos, se forem dez são demasiados. Vá lá. Esqueça o mau humor. Até porque os seus impostos suportam o custo das eleições. Paga e não desfruta o serviço? Pense lá melhor.

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Durante o PREC (processo revolucionário em curso), as paredes de Portugal serviram de suporte para as mais variadas, e inesperadas, palavras de ordem. As que eram assinadas por “anarquistas” tinham mais piada. Como aquela que alertava: “o voto é a arma do povo. Camarada, não votes porque ficas sem arma”. Os tempos não estão, e nunca estiveram, para aceitar luxos como a atitude de alheamento dos eleitores em relação ao destino do país. Na conjuntura atual, não há uma maioria estável na Assembleia da República, Portugal permanece em situação periclitante sob os pontos de vista económico, financeiro e social e o Mundo anda perturbado com ameaças como a do terrorismo. Tudo isto exige que se preserve a democracia e se faça alguma coisa para a merecer. Não se esqueça, também, que durante décadas a fio quase ninguém no país teve direito a voto. Se o regime lhe dá a arma, utilize-a.

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É verdade, mas não é a verdade toda. Em todo o território nacional, as urnas abrem às 08h00 e encerram às 19h00. Acontece que as três partidas da primeira liga de futebol que estão agendadas para 24 de janeiro não ocupam o dia inteiro, a não ser que o nevoeiro que costuma invadir o estádio madeirense onde atua o Nacional decida emigrar e fazer das suas no interior de outros recintos. Belenenses e Vitória de Guimarães começam a pontapear a bola pelas 16h00. Sporting de Braga e Rio Ave escutarão o apito para o início da partida pelas 18h15. FC Porto e Marítimo têm o pontapé de saída previsto para as 20h30. Quem queira ir ao estádio, em vez de ficar em casa a ver pela TV, também não terá desculpa. Há tempo de sobra para ir votar e conseguir ver a bola.

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Já se sabe que os níveis elevados de abstenção costumam gerar, pelo menos, duas reações. Há aqueles políticos que manifestam pesar e desilusão para, no dia seguinte, esquecerem o assunto. Também há quem aproveite o facto de muitos eleitores ignorarem as eleições para tecer considerações sobre a decadência da democracia e a necessidade de encontrar uma alternativa qualquer, presume-se que bastante menos simpática do aquele que é “o pior de todos os regimes com excepção de todos os outros”, como afirmou Winston Churchill. Em 1976, nas primeiras eleições para a Presidência da República realizadas após o 25 de abril, a abstenção não chegou a 25%. Quatro anos mais tarde, desceu para 15,6%. Mas em 2001 superou, pela primeira vez, 50% e ainda subiu para 53,5% em 2011. Não lhe parecem tristes os números que ilustram a indiferença dos eleitores perante a escolha do inquilino do mais importante cargo político do país?