De acordo com os dados disponíveis, estima-se que os tumores malignos sejam cada vez mais comuns nos próximos anos. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em abril do ano passado indicam que, em 2013, esta era a segunda causa de morte no país, representando 24,3% do total de óbitos. Entre 2002 e 2013, o número de mortes por cancro aumentou em Portugal cerca de 16%.

O panorama é generalizado e a International Agency for Research on Cancer (IARC) estima que na União Europeia, tendo por base apenas o envelhecimento da população, venha a verificar-se um aumento de 13,7% dos casos de cancro. A mesma agência, que integra a Organização Mundial da Saúde (OMS), prevê que em Portugal o acréscimo de tumores atinja os 12,6%.

Mas, se por um lado aumentam os casos de cancro, por outro lado também tem vindo a crescer a sobrevivência dos doentes e o nosso país tem motivos de orgulho nesta matéria. Segundo as conclusões do Eurocare5 (iniciativa que avalia a sobrevivência dos doentes com cancro na Europa), Portugal, Espanha e Itália apresentam bons resultados de sobrevivência semelhantes aos da Suécia, Noruega e Finlândia.

De acordo com Bárbara Parente, coordenadora do Centro Oncológico CUF Porto, “a Oncologia tem sofrido, nos últimos anos, uma grande evolução, quer ao nível técnico, quer humano” e têm vindo a ser implementadas “novas formas de pensar o cancro”. Segundo a pneumologista, “a multidisciplinaridade é precisamente uma das chaves para o sucesso do tratamento do cancro”. “Hoje em dia é impensável e eticamente muito discutível decidir de forma unilateral as terapêuticas oncológicas, que são de abordagem multidisciplinar”, afirma.

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Neste âmbito, o Centro Oncológico CUF Porto organiza reuniões multidisciplinares de decisão terapêutica para todas as patologias, o que constitui um fator de “segurança, não só para o médico como também para o doente”, assegura. A médica reconhece ainda que o trabalho em equipa “confere confiança aos doentes, promovendo a empatia, que é um fator fundamental para uma boa adesão ao tratamento”.

Rápido e bem

Além da multidisciplinaridade, também a forma como as instituições se organizam na receção e encaminhamento dos doentes contribui para o êxito no tratamento do cancro. No caso do Centro Oncológico CUF Porto, que congrega o Hospital e Instituto CUF Porto, ressalta a rapidez de diagnóstico e o início da terapêutica, que podem ser fatores decisivos para a sobrevivência de alguém.

Isso mesmo aconteceu a um doente seguido por Bárbara Parente que, no dia 30 de dezembro de 2014, foi a uma consulta de Oncologia. “Devido à rapidez e interação de todos os serviços do Centro, este doente conseguiu ter o diagnóstico confirmado no mesmo dia e, de imediato, seguir para tratamento”, explica a médica, segundo a qual “se não tivesse havido esta rapidez no seguimento, e dado ser véspera de Ano Novo, o prognóstico teria sido agravado”.

E se, à rapidez e eficácia juntarmos a humanização no tratamento do cancro teremos, então “um triângulo perfeito”. Bárbara Parente destaca, no âmbito da humanização, a “figura do médico assistente, valorizada na importância da medicina personalizada, onde o doente pode e deve escolher em quem confia”.

Em paralelo, e perante a necessidade de o doente não se perder com processos clínicos e burocráticos, facilitando o processo de ligação com os seguradores (fundamental na realidade da saúde privada), foi criada a figura da Gestora Oncológica, “uma pessoa com uma presença atenta e constante”, que tem a responsabilidade de “seguir o percurso do doente desde que este chega, orientando-o em todos os passos do seu diagnóstico e tratamento”.

Inovação e cuidado

O tratamento do cancro sofreu, nos últimos anos, grandes transformações e melhorias. Os tratamentos sistémicos são cada vez menos agressivos, as cirurgias menos invasivas e a radiocirurgia tem uma maior precisão aliada a uma toxicidade cada vez menor.

No Centro Oncológico CUF Porto, os doentes têm acesso a todos os procedimentos e fármacos indicados para o tratamento das doenças oncológicas, “desde os usados universalmente até aos mais inovadores existentes no mercado, com a garantia de monitorização permanente do seu uso”, salienta a especialista.

Da mesma forma, os principais tratamentos utilizados no tratamento do cancro são aqui facultados, nomeadamente, radioterapia, quimioterapia, radioterapia intraoperatória, cirurgia oncológica e radiologia e gastrenterologia de intervenção. A Radioterapia é, igualmente, uma área em desenvolvimento. Paulo Costa, coordenador da Unidade de Radioterapia do Instituto CUF Porto destaca, entre os tratamentos disponíveis nesta área, os programas de estereotaxia extracraniana pulmonar, hepática e prostática, atualmente já implementados e em fase de execução clínica. Realça ainda o projeto de braquiterapia intersticial e intracavitária de alta taxa de dose.

Em paralelo, e porque a procura de novos tratamentos e fármacos é uma preocupação constante, o Centro Oncológico CUF Porto é também um Centro de Investigação que tem atualmente em curso cinco ensaios clínicos. Bárbara Parente acredita que “a investigação e o tratamento do cancro devem caminhar paralelamente”. Nas suas palavras, “é hoje impensável, para quem trata doentes oncológicos e tem acesso a todas as terapêuticas inovadoras, não participar em estudos clínicos”.

A este propósito, o coordenador da Unidade de Radioterapia do Instituto CUF Porto, refere a participação no ensaio levado a cabo pelo National Cancer Institute (NCI), no âmbito da radioterapia intraoperatória, “com mais de 30 doentes tratados nesta modalidade e constituindo-se como uma referência a nível nacional e europeu nesta técnica de tratamento”.

Até ao final do ano está ainda previsto o início de mais três estudos, além dos vários projetos de investigação clínica a decorrer no momento com participação de doentes do Centro Oncológico CUF Porto. No âmbito da investigação clínica, a atual parceria com o IPATIMUP é igualmente uma mais-valia para o Centro Oncológico.

A humanização no tratamento do cancro

Tratar a pessoa e não só a doença. Para Barbara Parente, a visão holística da saúde é fundamental para o sucesso do tratamento. Por isso, e além da parte clínica, o Centro Oncológico CUF Porto disponibiliza uma estrutura de apoio social e psicológico, direcionada não só ao doente como aos próprios familiares. Destaque ainda para a psico-oncologia, o acompanhamento nutricional e o tratamento da imagem pessoal, fundamentais para o bem-estar do doente. Bárbara Parente faz questão de apontar o “apoio diário da Psico-Oncologia, dado em consulta e em internamento”, e o acompanhamento da equipa de enfermagem, totalmente dedicada aos doentes do Centro e com formação especializada em Oncologia.

O seguimento em todas as fases do diagnóstico e tratamento é fundamental e, por isso, o Centro conta com uma Unidade de Cuidados Paliativos, com internamento e ambulatório, com uma equipa em permanência a prestar apoio aos doentes. Para a coordenadora do Centro, este é um aspeto importante, pois “a integração dos Cuidados Paliativos deve começar o mais cedo possível, quando os doentes ainda se encontram a efetuar outras terapêuticas paliativas”, estando esta prática validada por estudos que demonstram “melhor qualidade de vida e aumento da sobrevida” quando assim é feito.