Atenção: este artigo pode conter alguns (poucos) spoilers. Se não quer mesmo saber nada do que se vai passar no primeiro episódio, é melhor parar de ler…

Muitos riem quando a conversa mete homenzinhos verdes (ou de outra cor qualquer) vindos de outra galáxia. “A nossa vida tornou-se uma piada. O que aconteceu, Scully?”, queixa-se Fox Mulder ao telefone, enquanto vê no computador um vídeo onde o presidente americano Barack Obama e o apresentador Jimmy Kimmel ironizam sobre OVNIs. Nem sempre foi assim. Durante quase uma década, Mulder esteve à frente dos Ficheiros Secretos do FBI. Outros tempos. Na era da videovigilância, da Internet massificada e dos smartphones com câmaras sempre prontas a registar fenómenos estranhos (onde estão eles?), não fica bem a uma agência governamental esse tipo de investigações. Mas, para Mulder, há dúvidas por responder. Ele lança-as imediatamente antes de podermos ver de novo o genérico de sempre, com a música ainda gravada na nossa memória. “Os extraterrestres são um embuste? Estamos mesmo sozinhos, ou alguém nos está a mentir?“. Para descobrir (ou tentar) a partir desta terça-feira, às 22h15, na Fox Portugal. 14 anos depois de o último episódio da série ter ido para o ar.

Dá para perceber que Mulder e Scully não se vêem há algum tempo. O que não quer dizer que o reencontro com a ex-companheira de Ficheiros Secretos, também ex-amor, tenha sido propriamente emocionante. Há trabalho a fazer e pouco tempo para sentimentalismos. A pedido do diretor adjunto do FBI, Walter Skinner, os dois antigos agentes federais vão até Washington para se encontrarem com Tad O’Malley (Joel McHale), milionário conservador que tem um programa online sobre teorias da conspiração. A que tem em mãos envolve alienígenas e o caso Roswell, sim, mas é muito mais grave do que isso. E se Mulder esteve errado toda a vida e, em vez de o Governo conspirar para manter em segredo a existência de vida extraterrestre, forjou indícios com o objetivo sórdido de controlar ainda mais os cidadãos?

https://www.youtube.com/watch?v=_1SmJUBT5q0

Entre 1993 e 2002, “Ficheiros Secretos” teve nove temporadas e tornou-se numa das séries mais amadas da década de 1990, graças às histórias de casos não solucionados, muitas vezes relacionados com eventos paranormais e a presença de extraterrestres na Terra. A minissérie que agora se estreia na Fox volta a contar com a supervisão do criador da trama, Chris Carter, o regresso de David Duchovny e Gillian Anderson à pele de Mulder e Scully e até Mitch Pileggi novamente como Walter Skinner. Também é possível ver que o Smoking Man, um dos líderes da conspiração que se pensava morto, afinal continua vivo e não está feliz com a reabertura dos Ficheiros Secretos.

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Mantém-se, portanto, a base da história. Mulder continua o crédulo da dupla, sempre pronto a seguir uma nova teoria. Scully, a cientista, preserva os comentários céticos — por exemplo, quando atira sarcasticamente a Sveta (Annet Mahendru), uma nova personagem, que afinal ela só consegue mover objetos com a mente de vez em quando. Isto tudo sem ignorar a nova realidade pós-atentados do 11 de Setembro de 2001. O Patriot Act, que permitiu ao Governo americano aumentar drasticamente a vigilância aos cidadãos; as denúncias de Edward Snowden sobre os excessos cometidos pela NSA; Julian Assange e a Wikileaks. Tudo dados que corroboram a principal teoria da conspiração, que os telespectadores vão poder ver sobretudo no primeiro e último episódios, ambos com o nome “My Struggle” (em português “a minha luta”). Cada ex-agente terá a sua luta, mesmo que interior. Para aqueles que têm saudades dos monstros e dos casos mais bizarros, esses estão reservados para os quatro episódios do meio, um dos quais será exibido também esta noite.

Crítica e audiências

No final de dezembro, a Fox divulgou um vídeo com algumas informações úteis sobre o que é que os espectadores podem esperar da minissérie. Durante os anos em que fizeram par na televisão, Mulder e Scully tiveram uma relação platónica, até que no segundo filme, “Ficheiros Secretos: Quero Acreditar”, de 2008, apareceram assumidamente como um casal. Entretanto, na história mencionou-se que os dois tiveram um filho e essa informação não será aqui ignorada. Neste primeiro episódio, Scully e Mulder recordam o bebé William, entregue para adoção “para o seu bem”. O arrependimento e a dúvida da mãe fazem antever que a história não ficará por aqui.

“My Strugle” foi exibido este domingo nos Estados Unidos e as audiências foram altas. A pontuação dada pela crítica é que nem tanto. Para o Los Angeles Times e o New York Times, por exemplo, o entusiasmo chega só no segundo e terceiro episódios, quando Mulder e Scully regressam às bases, ou seja, à investigação de fenómenos estranhos mais localizados no tempo e no espaço, em vez de embarcarem numa grande teoria da conspiração. Para a Variety, o primeiro episódio “não contém a sagacidade, tensão e estilo que tornaram a série original tão especial”. No site Rotten Tomatoes, “My Struggle” consegue dos telespectadores uma pontuação acumulada de 83% e uma média de 4,2 em 5 pontos possíveis. É boa, mas não é brilhante.

A meio do episódio de estreia, Mulder regressa ao seu antigo gabinete, hoje abandonado. No chão está o icónico poster onde se podia ler “I Want to Believe” — tantos fãs por este mundo fora que um dia tiveram um colado lá em casa. Frustrado com as dúvidas que o assolam, o ex-agente rasga-o ao pontapé. Talvez tenha desistido para sempre de acreditar em OVNIs para perseguir outra verdade. E, como tão bem sabemos, the truth is out there.

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