Um homem passou duas décadas a seguir um guru, Michel, também conhecido por Andreas ou por “O Professor”. A viagem espiritual foi longa e acabou de uma forma trágica. É que neste caso não se deu a tal (inesperada) virtude da ignorância exaltada por Gonzalo Iñarritu em “Birdman”. Não, o tal guru, o líder espiritual, tinha um passado sombrio — pornografia, abusos sexuais, ordens de abortos e plásticas — e foi desmascarado, conta o Telegraph. Will Allen, que alinhou na aventura em 1985, fez diversas filmagens sobre Michel, o grupo e as suas dinâmicas, e usou-as para cozinhar um documentário. E assim nasceu “Holy Hell”, que teve direito a constar da lista do Festival Sundance.

Acabadinho de sair de uma escola de realização de cinema, conta outro artigo do Telegraph, Will Allen passou 22 anos em Los Angeles neste culto, chamado Buddhafield. Ficou a conhecê-lo graças à irmã, quando só queria arrancar a carreira — começou nessas andanças das filmagens aos 13 anos de idade. “Filmou tudo” e assim desenvolveu um documento sobre uma vida de escravidão, escreve o diário britânico.

Quando foi anunciada a lista do Festival de Sundance, o nome de Allen não constava, pois tinha medo de ser perseguido ou ameaçado por outros antigos membros do grupo de culto. “Eu estou chateado e choro todos os dias agora, mas também tenho um grande sentido de humor. Tens de te rir dos teus próprios erros, tens de te rir das tuas escolhas, senão terás apenas uma vida inteira com dor”, disse esta semana à Vanity Fair.

[Veja uma entrevista com Will Allen]

Qual é, afinal, a verdade sobre “O Professor”? De acordo com o Telegraph, os membros do culto apenas a descobriram em 2007. Michel, um sul-americano que andava sempre com uns óculos Ray-Ban, havia sido outrora um ator com uma carreira falhada, por isso investiu na indústria pornográfica homossexual. Até aí, zero crime. Graves são as acusações de que terá tido relações sexuais com jovens rapazes, fossem gays ou não, durante anos — Will Allen foi uma das vítimas, diz o Screen Daily.

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Há também relatos de que terá obrigado as mulheres do grupo a abortar. Mais: fez com que elementos do Buddhafield gastassem milhares de dólares em cirurgias plásticas. O Telegraph informa que o documentário de Will Allen não acusa o guru de qualquer crime e que também não o confrontou com estas acusações.

“Eu saí do grupo e pensei que sabia o que se tinha passado”, disse Allen ao Yahoo Movies. “Mas depois pensei, seria ele um diabo desde o início? Sabia ele disto tudo? Por isso tive de ir perguntar a todos os meus amigos e tive de juntar as peças.” Allen, agora com 53 anos, entrou no Buddhafield com 22 anos, depois de ser expulso de casa por ter informado os pais de que era homossexual.

O Telegraph conta ainda a história de Rhadia Gleiss, uma mulher que perdeu tudo por causa de Michel e que junta novas acusações ao caso. “Houve três pessoas, um deles o meu melhor amigo, a quem lhes foi dito para me matarem”, afirmou. “E quando saí perdi tudo. Perdi a minha casa. Fui à falência. Perdi os meus 150 amigos próximos e família. Eles demonizaram-me e deixaram-me sozinha.” Gleiss, que entra no documentário, afirmou ser “capaz” de perdoar todos os envolvidos neste enredo, incluindo aqueles que ainda estão no Buddhafield: “Eu compreendo”.