O presidente iraniano Hasan Rohani está, nos últimos dias, a fazer uma visita oficial a Itália, durante a qual já se reuniu com o Papa Francisco no Vaticano. No entanto, foi o encontro desta segunda-feira, com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, em Roma, que está a provocar polémica.

O encontro, marcado para o Museu Capitolini, teve a curiosa característica de algumas das principais esculturas e estátuas aí presentes não estarem à vista. As obras de nus foram tapadas com grandes painéis brancos para evitar embaraços e por respeito à delegação iraniana e à religião muçulmana. Uma simpatia horas antes de terem sido assinados contratos comerciais no valor de 17 mil milhões de euros.

Apesar da polémica, nem a Câmara de Roma nem o gabinete do Governo prestaram esclarecimentos, segundo conta o El Pais. No entanto, o diário italiano Il Messaggero avança que foi a própria delegação iraniana que, dias antes da chegada de Rohani, pediu que se cobrissem as Vénus nuas e outras estátuas “por respeito à sua cultura”.

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Italian Prime Minister Matteo Renzi (R) speaks with Iranian President Hassan Rouhani (L) during a meeting at the Capitol Hill in Rome on January 25, 2016. Iran's return to the international fold accelerated as Rouhani sealed multi-billion dollar deals with Italian companies keen to capitalise on the lifting of sanctions on the Islamic Republic. / AFP / TIZIANA FABI (Photo credit should read TIZIANA FABI/AFP/Getty Images)

Para além das estátuas tapadas, o jantar servido mais tarde em homenagem ao líder do Irão não teve bebidas alcoólicas, diz a agência Ansa.

A delicadeza do Governo de Itália está no entanto a enfurecer o país. O Telegraph cita por exemplo Daniele Capezzone, político do centro-direita, e antigo porta-voz do partido liderado por Silvio Berlusconi, Forza Italia, que afirma que “Itália curva-se perante o Irão como se isto fosse embaraçoso”, isto antes de defender que a decisão de cobrir as estátuas acrescentou um “toque de ridículo” à visita de Rohani ao país. No final Capezzone pergunta se “a Itália está reduzida a isto? E não servir vinho, outra vez para não ‘ofender’?”

Ainda do Forza Italia, Luca Squeri explicou que o “respeito por outras culturas não devia significar negar a nossa. Isto não é respeito, é submissão”.

Também Giorgia Meloni, líder do partido Fratelli d’Italia, reagiu ao sucedido com ironia relembrando a visita do emir do Qatar que chega a Roma esta quarta-feira: “Temos que nos perguntar o que Renzi tem pensado para a chegada esta semana do Emir do Qatar – tapar (a basílica) São Pedro com uma caixa enorme?”, escreveu no Facebook. Depois, um pouco mais a sério, Meloni referiu que “o nível de sujeição cultural por Renzi e pela esquerda superou os limites da decência”.

Do mesmo partido surgiram também as críticas de Fabio Rampelli: “A decisão de esconder as estátuas ofende a cultura ocidental. É vergonhoso e precisa de ser explicado pelos ministros pela herança cultural”.

Já Vittorio Sgarbi, um crítico e uma conhecida personalidade em Itália, afirmou que apenas “cabras ignorantes” poderiam tomar uma decisão deste género e que “não penso que o presidente Rouhani ficasse surpreendido por saber que existiam estátuas de nus em Roma”.

No meio da chuva de críticas as obras de arte tapadas estão a encher os jornais um pouco por todo o lado. Por isso, deixamos aqui as estátuas e esculturas que o líder iraniano podia ter visto mas não viu:

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