O Irão e a França proclamaram uma “relação nova” durante uma visita oficial a Paris do Presidente iraniano, Hassan Rohani, dominado por avultados acordos económicos e reparos diplomáticos sobre a situação na Síria.

“É um novo capítulo das nossas relações que se inicia a partir de hoje”, assegurou em conferência de imprensa conjunta o Presidente francês François Hollande.

“Esqueçamos os rancores”, tinha declarado de manhã Rohani, apelando para uma “relação nova” e para o usufruto da “atmosfera positiva” suscitada pelo levantamento das sanções contra o seu país para garantir um “novo impulso” nas relações bilaterais.

As relações entre Teerão e Paris atravessaram diversas crises desde a revolução islâmica de 1979, até ao apaziguamento na sequência do acordo internacional de julho sobre o programa nuclear iraniano.

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Após a entrada em vigor do acordo em 16 de janeiro, que coincidiu com o anúncio do fim das sanções internacionais, o Irão e os seus 79 milhões de habitantes estão de novo disponíveis para os grandes investimentos ocidentais.

Assim, foi concluído um protocolo de acordo para a compra por Teerão de 118 aviões do consórcio europeu Airbus, num valor de 25 mil milhões de dólares (23 mil milhões de euros), enquanto o gigante petrolífero Total assinou um contrato para a compra a Teerão de “entre 150.000 e 200.000 barris por dia” de petróleo bruto.

O construtor automóvel PSA Peugeot Citroën foi outras das empresas a oficializar o regresso ao Irão, através de um protocolo com a Iran Khodro, que envolve um investimento até 400 milhões de euros em cinco anos. A PSA espera produzir a prazo 200.000 veículos por ano.

Na esfera política, a questão dos direitos humanos no Irão, que implicou hoje manifestações sem grande mobilização na capital francesa, foi também abordada nos encontros.

Hollande referiu ter “recordado” ao seu homólogo iraniano o “compromisso da França com os direitos humanos”. “Falámos de tudo, porque é sempre a regra de conduta da França”, disse Hollande.

Segundo a Amnistia Internacional, a República Islâmica é o país do mundo que condena à pena de morte o maior número de menores de idade, enquanto os Repórteres sem Fronteiras denunciam o Irão como “uma das cinco maiores prisões do mundo para jornalistas”.

No início da visita oficial, as autoridades francesas concederam esta manhã ao Presidente Rohani o raro privilégio de honras militares.

Por sua vez, o chefe de Estado iraniano defendeu na conferência de imprensa conjunta que os dois países devem “lutar contra o fanatismo, o terrorismo e o extremismo”, incluindo através da partilha das suas informações.

Ao evocar os “problemas de segurança da região”, Rohani sublinhou a necessidade de “permanecer ativos nestes domínios, partilhando informações a nível dos serviços de segurança”.

Numa referência específica à situação na Síria, Hollande apelou à aplicação de “medidas humanitárias e de uma negociação política” que disse ser “possível”, antes de lamentar uma “negociação que tarde em começar” em Genebra entre as fações beligerantes, sob o patrocínio da ONU.

Paris, próximo da Arábia Saudita, também abordou com o Presidente iraniano a crise aguda nas relações iraniano-sauditas. Os dois países romperam as relações diplomáticas no início de janeiro após a execução de um dignatário religioso xiita por Riade, e o assalto à embaixada saudita em Teerão.

A visita do Presidente iraniano ficou ainda assinalada por protestos da dissidência iraniano no exílio, com uma marcha que se iniciou com os participantes a pisarem fotos do líder da revolução islâmica, ayatollah Khomeini.

Após percorrerem algumas ruas, várias centenas de pessoas concentraram-se para denunciar as execuções realizadas pelo regime iraniano. Diversas personalidades francesas também criticaram a posição “inaceitável” dos países europeus perante esta visita oficial de dois dias, que termina hoje.