O PSOE já reagiu à demolidora entrevista de Felipe González, ex-líder do partido e ex-primeiro-ministro espanhol. O secretário e número dois dos socialistas, César Luena, afirma que o partido deve ouvir “sempre de forma muito atenta” González – “uma referência” do PSOE – mas mantém que o partido deve votar não a um executivo do PP: e justificou a intransigência com os casos de corrupção que têm afetado o Partido Popular.

Permitir que o PP governe seria “uma maneira de branquear o partido da corrupção”, defendeu o número dois do PSOE. “O PP tem de pagar na oposição pelo que tem feito (…) para que se regenere e para que contribua para a regeneração da democracia”, disse ainda César Luena. Quem também respondeu às declarações de González foi o líder dos socialistas, Pedro Sánchez, que corroborou a posição do seu número dois: “Não há nenhum argumento para que o PSOE apoie o PP, seja de forma ativa seja de forma passiva”, disse.

O partido, que reunirá no próximo sábado o seu comité federal, parece estar unido em duas decisões: a primeira é a recusa em viabilizar um governo liderado pelo Partido Popular, a segunda é em manter a linha vermelha definida na última reunião do comité socialista – a recusa em aceitar a realização de quaisquer referendos relativos à independência de territórios espanhóis (como a Catalunha).

Quem também veio defender a posição de Sánchez e Luena foi a presidente do governo regional da Andaluzía. Susana Díaz, que é vista pelos barões do PSOE como uma socialista mais moderada do que Sánchez, não quis comentar a entrevista de Felipe González: disse aliás não ter autoridade para se pronunciar sobre “as opiniões pessoais” de ninguém. Mas garantiu que, na reunião do próximo sábado, irá defender a posição assumida há um mês pelo órgão federal do partido: a de que o PSOE não deve, “nem por ação nem por omissão”, viabilizar um governo do PP.

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Essa é a posição maioritária entre os dirigentes socialistas, diz o El Mundo. Segundo o jornal espanhol, a maioria dos que irão ao comité federal do PSOE defende que Sánchez deve liderar um governo alternativo ao PP: e, caso não consiga, o último recurso deve ser a marcação de eleições antecipadas, e não a viabilização de um governo de direita.

Rajoy exige a Sánchez “que se decida já”

Do lado do PP, o líder do partido (e ainda primeiro-ministro), Mariano Rajoy, afirmou que a bola está do lado de Pedro Sánchez: e exigiu que este se decida. “Eu não sou um obstáculo, o obstáculo é Pedro Sánchez, que quer ser presidente [do governo]. Exijo que seja claro e que se decida já se quer governar com o Podemos ou se permite que o PP governe com fórmulas distintas [coligação com o PSOE ou coligação a três, que inclua também o Ciudadanos]”, disse.

Quanto à entrevista de Felipe González, Rajoy afirmou apenas que “respeita as opiniões de toda a gente na política e especialmente” as de alguém como o ex-primeiro-ministro espanhol. Não disse mais porque, segundo fontes próximas do líder do PP, citadas pelo El País, González poderia estar a referir-se a um acordo entre PP e PSOE que não incluísse Mariano Rajoy como primeiro-ministro: uma fórmula já equacionada pelos media espanhóis, após as eleições de 20 de dezembro.

Iglesias ataca González e pressiona Sánchez

Quem também já comentou as declarações do ex-primeiro-ministro socialista Felipe González foi o líder do Podemos, Pablo Iglesias, que o atacou fortemente: “Não surpreende que Felipe González, que saiu da política para se meter no conselho de administração da Gas Natural [multinacional espanhola], defenda um governo da velha política”, atirou Iglesias.

“Parece paradoxal que depois dos múltiplos casos de corrupção que afetam o PP, o sr. González defenda que se deve permitir a Rajoy governar”, disse ainda o líder do Podemos. Iglesias voltou também a pressionar Pedro Sánchez, que se tem mostrado relutante em iniciar as negociações para a formação de governo: “O PSOE deve escolher: ou uma grande coligação [com o PP e eventualmente com o Ciudadanos] ou a mudança“, sublinhou.

Quem alinhou pelo mesmo discurso de Pablo Iglesias foi o líder da Esquerda Unida (IU), Alberto Garzón, que pediu para que se “ignorem” as palavras de Felipe González, já que estas, acusou, obedecem apenas “aos interesses da oligarquia”. Mas as dificuldades à esquerda vão bem além da posição de alguns dos históricos socialistas: esta quinta-feira, a secretária-geral da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Marta Rovira, afirmou que só dará o seu apoio a um governo de coligação PSOE-Podemos se estes reconhecerem que o Parlamento da Catalunha tem “plena soberania”. “Se não há este reconhecimento de soberania não haverá nenhum governo de esquerdas”, disse a líder da ERC, partido de que o PSOE necessitará para formar um governo à esquerda, se não conseguir convencer o Ciudadanos a viabilizar um executivo que inclua o Podemos.

Texto editado por Filomena Martins