O PSD quer evitar cair naquilo que considera poder vir a ser uma armadilha – ver-se a aprovar artigos do Orçamento do Estado (OE) ao lado do PS ou o PS aprovar medidas suas – e por isso Pedro Passos Coelho defendeu, em reunião do grupo parlamentar do PSD, que o partido não deveria apresentar nenhuma proposta de alteração ao documento estruturante das contas públicas. Com isso, Passos quer colocar-se completamente de fora num claro aviso a Costa: não pode contar com os sociais-democratas para aprovações nem na especialidade, nem na generalidade.

A ideia que Passos transmitiu aos deputados foi a de que o partido ganha mais mantendo-se distante do OE. Ao não apresentar propostas de alterações – feito raro por parte de um partido nas discussões anuais dos Orçamentos -, o líder do PSD entende que assim fica com mais margem de manobra para votar contra o documento tanto na votação final do documento como artigo a artigo, durante a discussão na especialidade – no ano passado, o orçamento tinha 244 artigos. Seria natural que em algumas matérias PS e PSD estivessem conceptualmente de acordo. Mas é essa tentação que o PSD quer evitar de modo a forçar o PS a aprovar tudo com o PCP, BE e Os Verdes.

Passos sempre disse que no dia em que Costa precisar do apoio do PSD para aprovar o que não consegue aprovar com a esquerda, o primeiro-ministro deverá pedir desculpa aos portugueses e apresentar a sua demissão. Por isso, as suas palavras foram vistas como pressão para os socialistas.

No final da reunião do grupo parlamentar do PSD, na quinta-feira, o líder parlamentar, Luís Montenegro, quando interrogado sobre a possibilidade de o PSD vir a viabilizar a proposta de Orçamento, não quis fazer qualquer “tipo de especulação” nem “antecipar nenhum comentário”. Mas fez questão de lembrar a “responsabilidade” dos partidos que suportam o Governo: PS, BE, PCP e “de vez em quando o PAN”.

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Embora Passos tenha sugerido a não-apresentação de propostas de alteração, alguns deputados consideram que pode não ter sido ainda a posição definitiva do partido.

O PSD absteve-se, por exemplo, no Orçamento Retificativo mas fez uma declaração de voto para deixar claro que não foi por concordar com “os termos e os contornos das decisões do Governo” no âmbito do Banif nem por “apoiar ou concordar” com o Orçamento Retificativo – apenas porque “havia informação indisponível no momento do debate e votação”. Antes do Retificativo, o PSD votou ao lado do PS na eliminação gradual dos cortes na Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES), deixando claro que o fazia porque tinha a mesma proposta no programa eleitoral.

Já o CDS, cujo número de deputados não é determinante para ajudar o PS a aprovar leis que não tenham o apoio dos partidos de esquerda, prepara-se para apresentar propostas de alterações ao Orçamento do Estado sem hesitações. Algumas delas vão ser na área da Segurança Social.