Camaratores, sub-palcos, sala de reuniões, jardim de inverno e até o bengaleiro do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, serão ocupados, hoje e domingo, por uma programação cultural em torno da ideia de casa.

A iniciativa chama-se “Estar em casa”, tem curadoria da jornalista Anabela Mota Ribeiro e do encenador André E. Teodósio, e contará com espectáculos de música, dança, teatro, conversas, leituras ou cinema, de manhã até à noite, que mobilizarão 170 artistas e personalidades.

A partir do mote que dá nome à inicativa, Anabela Mota Ribeiro e André E. Teodósio contaram à agência Lusa que foi pensada uma programação transversal em matéria de públicos, que acontecerá em diferentes escalas e com distintas expressões artísticas.

Neste fim-de-semana, aquele teatro municipal terá, por exemplo, aulas para crianças sobre amor, poesia e economia, um espectáculo contínuo de Mónica Calle, num camarim, outro de dança, por João Fiadeiro, visitas guiadas aos bastidores, com Rui Horta, Gisela João ou João Tordo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Serão iniciativas com escalas diferentes em matéria de espectadores; para muita gente, como o concerto “Pequenos delírios domésticos”, que Sérgio Godinho e Filipe Raposo preparam para a sala principal, ou para uma única pessoa, como a iniciativa “Cartas de amor”, nos camarotes do teatro.

Anabela Mota Ribeiro e André E. Teodósio sublinham a abertura do programa à comunidade e à família, sem custos. A maioria dos eventos é de entrada gratuita ou terá preço reduzido.

“Eu gosto de pensar na casa como lugar de diferença, de criação e de encontro (…) É alimentar essa ideia de partilha, integração da cidade no espaço do São Luiz e o São Luiz no espaço de cada família”, disse Anabela Mota Ribeiro.

No bengaleiro do São Luiz haverá uma “venda de garagem” cujas receitas reverterão para o Núcleo de Apoios a Animais Abandonados de Sintra. No teatro-estúdio Mário Viegas, os ilustradores Catarina Sobral e João Fazenda farão ateliers artísticos para crianças.

A este programa está subjacente “a ideia de transformação de espaços que são tidos como espaços sagrados, espaços que podem ser vistos como classistas ou exclusivos”, e que depois estão abertos a todos, contou André E. Teodósio.

Há ainda um manifesto implícito na programação, contaram. “Tentámos procurar espectáculos que trabalhassem sobre estes temas poéticos da casa. E que fossem de criadores que tivessem ficado sem casa ou que o Estado se tem demitido de os proteger”, como aconteceu com o coreógrafo João Fiadeiro e com coletivo Cão Solteiro.

O encenador espera que os espectadores que passem naquele fim-de-semana pelo São Luiz tenham acesso “a pessoas que não têm muita visibilidade nos media e que depois desaparecem, que não têm muita divulgação”.

Toda a programação do “Estar em casa” está disponível na página oficial do Teatro Municipal São Luiz.

O teatro inaugurou a 22 de maio de 1894, com um espectáculo de ópera, mas pouco ou nada resta desse tempo. O espaço foi reconstruído depois de ter ardido num incêndio, em 1914, teve novamente uma intervenção profunda em 1999 e hoje é considerado um dos equipamentos culturais de relevância, pertencentes à autarquia de Lisboa.