A Etiópia, atual sede da União Africana (UA), está a braços com a pior seca dos últimos 30 anos, com milhões de habitantes a necessitarem de ajuda para sobreviverem, alertou este domingo em Adis Abeba o secretário-geral das Nações Unidas.

Segundo Ban Ki-Moon, pelo menos 10,2 milhões de etíopes necessitam também de ajuda alimentar, número que a ONU já alertou que poderá aumentar significativamente, prevendo que possa duplicar dentro de alguns meses, deixando um quinto da população do país à fome.

O paradoxo das enxurradas e da falta de chuvas, fenómeno provocado pelo El Nino, tem destruído culturas ou inviabilizado colheitas, o que se estende a outras zonas de África, com a Etiópia, porém, a centrar as preocupações.

“A população (etíope) está a braços com a pior seca dos últimos 30 anos. A dimensão da emergência é demasiada para um só Governo”, disse Ban Ki-Moon aos jornalistas em Adis Abeba, onde assiste à cimeira de Chefes de Estado e de Governo da organização pan-africana.

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“Uma ajuda imediata vai salvar vidas e ajudará a apoiar o desenvolvimento que a Etiópia tem conseguido construir na última década”, acrescentou.

O vice-primeiro-ministro etíope, Demeke Mekonnen, já confirmou publicamente que as ajudas ao país apenas atingiram menos de metade das necessidades, estimadas em 1.400 milhões de dólares (1.300 milhões de euros). “No ano passado, a Etiópia foi vítima de um dos mais fortes El Nino de sempre. A dimensão das necessidades humanitárias cresceu significativamente”, acrescentou.

A insegurança alimentar tem sido desde sempre um problema sensível na Etiópia, o segundo país mais populoso do continente africano (94,1 milhões de habitantes em 2013) – só atrás da Nigéria (173,6 milhões) -, que tem tido um crescimento económico próximo dos dois dígitos, mais de três décadas depois das imagens que ainda perduram sobre a fome e seca que assolou o país em 1984/85.

“Os que se lembram da Etiópia na década de 1980 podem ter um perturbador sentimento de «deja vu»”, alertou o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), num relatório divulgado no início deste mês.

“O país enfrenta, mais uma vez, as devastadoras condições climáticas: as chuvas não apareceram, milhões de pessoas necessitam de ajuda alimentar e as crianças sofrem de mal nutrição severa”, lê-se no documento.

Milhares de pessoas já abandonaram as zonas mais afetadas, provocando um êxodo de refugiados do Golfo de Aden para o Iémen, apesar dos conflitos que assolam a região. Segundo dados das Nações Unidas, quase 100 mil etíopes e somalianos procuraram refúgio no Iémen.

Na África Austral, cerca de 14 milhões de pessoas estão a enfrentar a fome após a prolongada seca, que dizimou as colheitas, com o Malaui a ser considerado o país do sul do continente africano com pior situação. As escassas chuvas deixaram 2,8 milhões de pessoas à fome no Malaui, 1,9 milhões em Madagáscar e 1,5 milhões no Zimbabué, onde as colheitas atingiram metade das do ano anterior.

Na devastadora guerra no Sudão do Sul, que faz fronteira com a Etiópia, especialistas das Nações Unidas avisaram em 2015 que a toda a região estava em “grave risco de fome”. Alguma ajuda alimentar acabou por ser entregue, mas a crise humanitária deixou já 2,3 milhões de pessoas a deixar as suas casas.

Mais grave é o facto de cerca de cinco milhões de sul-sudaneses – quase metade da população – necessitar de ajuda alimentar de emergência.