Em 2014 aumentou o número de pessoas que morreram com droga no organismo, bem como o número de casos por overdose, sendo de destacar a cocaína, segundo o relatório anual do SICAD, apresentado esta quarta-feira.

De acordo com o documento do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), nesse ano morreram 220 pessoas com a presença de pelo menos uma substância ilícita (mais 36 do que no ano anterior), 33 das quais (15%) com overdoses, configurando um aumento de 50% neste tipo de óbito face a 2013.

Entre as substâncias detetadas nestas overdoses, o relatório destaca a presença de cocaína (64%), opiáceos (45%) e metadona (42%). Verifica-se um aumento significativo da presença de cocaína (36% em 2013) e da metadona (27% em 2013), mantendo-se os opiáceos nos mesmos níveis (46% em 2013).

“É de notar, enquanto tendência emergente, embora ainda com valores residuais, a ocorrência de casos de overdose com a presença de drogas sintéticas”, sublinha o relatório.

Na maioria das overdoses (85%) foram detetadas mais do que uma substância, sendo de destacar em associação com as drogas ilícitas, as overdoses com a presença de álcool (21%) e benzodiazepinas (46%).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Relativamente às outras 187 causas de mortes com a presença de pelo menos uma substância ilícita (ou seu metabolito) no organismo, estas foram sobretudo atribuídas a acidentes (40%), seguindo-se-lhes a morte natural (35%), suicídio (17%) e homicídio (4%).

Citando um estudo europeu que pela primeira vez incluiu Portugal e que analisou a prevalência de drogas e álcool na população condutora, o relatório refere que nos condutores mortos em acidentes de viação as drogas ilícitas mais prevalentes em Portugal foram a cannabis (4,2%) e a cocaína (1,4%).

No que se refere à mortalidade relacionada com o VIH/sida, de acordo com as notificações de óbitos recebidas no Instituto Nacional de Saúde (INSA), foram notificadas 87 mortes em 2014 associadas à toxicodependência, 57 dos quais já em fase de sida.

Relativamente aos utentes em tratamento em ambulatório, o relatório aponta para uma “ligeira subida” nas proporções de novas infeções pelo VIH, face aos três anos anteriores.

No âmbito do tratamento da toxicodependência, em 2014 estiveram em tratamento em regime de ambulatório da rede pública 27.689 utentes com problemas relacionados com o uso de drogas, sendo que, dos que iniciaram tratamento nesse ano, 1.803 foram readmitidos e 1.950 fizeram-no pela primeira vez.

O relatório destaca que metade destes novos utentes tinha como droga principal de uso a cannabis. Em termos gerais, verifica-se uma tendência para a estabilização do número de novos utentes a entrar em tratamento nos últimos três anos.

Relativamente aos internamentos, em 2014 deram entrada nas Unidades de Desabituação 793 utentes, por problemas relacionados com droga, enquanto as comunidades terapêuticas receberam 66% de utentes com a mesma problemática.

Quanto aos consumos, a heroína continua a ser a droga principal mais referida, exceto entre os novos utentes em ambulatório, em que foi a cannabis (49%), e os utentes das Comunidades Terapêuticas públicas, em que predominou a cocaína (61%).

O relatório destaca um aumento de utentes que referem a cannabis e a cocaína como drogas principais, nos últimos quatro anos.

O documento aponta também para uma redução de consumo recente de droga injetada, e para uma maior heterogeneidade nas idades dos utentes que iniciaram tratamento no ambulatório.

No âmbito do tratamento em sistema prisional, em 2014 estiveram integrados em Programas Orientados para a Abstinência 137 reclusos e 1.152 estavam em Programas Farmacológicos.